O fardo do mar: pescadores que organizam Festa de Iemanjá fogem da presidência da colônia

Festa acontecerá pelo segundo ano seguido sem um presidente à frente da Colônia Z1

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  • Maysa Polcri

Publicado em 1 de fevereiro de 2024 às 05:15

Entenda por que ninguém quer assumir presidência da colônia que faz a Festa de Iemanjá
Entenda por que ninguém quer assumir presidência da colônia que faz a Festa de Iemanjá Crédito: Marina Silva/CORREIO

No dia 2 de fevereiro, os olhares da Bahia e do Brasil se voltam para a praia do Rio Vermelho, em Salvador. Data em que os balaios perfumados serão levados ao mar em celebração à Rainha do Mar. Pelo segundo ano consecutivo, a Festa de Iemanjá será realizada sem que a Colônia de Pescadores Z1 tenha um representante. Desde a morte do ex-presidente, conhecido como Branco, pescadores evitam falar sobre eleições e fogem do posto de novo mandatário.

Estar no comando da associação de pescadores rende holofotes que poucas pessoas estão dispostas a receber. Somado a isso, as dívidas que a entidade acumula espantam seus membros. A reportagem apurou que a colônia está sem representante há mais de um ano, quando foi instaurada uma junta provisória para resolver as questões da associação, inclusive a organização Festa de Iemanjá.

A expectativa é que o pleito ocorra entre março e abril, mas não há data definida. Até então, dois nomes aparecem como prováveis concorrentes para a disputa: Nilo Silva Garrido e Almir Albergaria. Ambos são pescadores da Colônia Z1 e ficam no Rio Vermelho, mas o primeiro pesca ao lado da Casa de Iemanjá, enquanto o segundo fica na colônia ao lado do Largo da Mariquita.

Marcos Antônio Chaves, o Branco, ex-presidente da associação, estava afastado da organização dos festejos de Iemanjá desde antes da pandemia. Ele ocupava o posto desde 2009, mas, em 2017, passou a ser investigado a pedido do Ministério Público da Bahia (MP-BA). As suspeitas eram de que Branco realizava apropriação indevida de recursos da colônia, falsidade ideológica e furto de água e energia. 

Branco faleceu em dezembro do ano passado, mas era procurado para pagar o que devia antes disso. "Ele dava muitos banquetes, fazia muita festa e pegava dinheiro emprestado para isso. Muitas pessoas, de policial a agiota, iam cobrar o que ele devia na colônia", revela um pescador. Os pescadores ouvidos pela reportagem não souberam estipular o valor da dívida. 

O clima de insegurança torna o posto indesejado. No ano passado, o barco de um representante da colônia foi queimado na praia de Itapuã. Segundo conta, o pescador fez uma denúncia à Capitania dos Portos depois que viu uma embarcação que realizava manutenção de um cabo submarino, em novembro.

"A Capitania veio apurar e descobriu que o barco não tinha as autorizações necessárias para fazer o serviço. Foi quando comecei a ser ameaçado e colocaram fogo no meu barco", diz. Colegas se reuniram e fizeram um financiamento coletivo para que uma nova embarcação fosse comprada. Isso ainda não foi feito e o pescador utiliza o barco de amigos para garantir o sustento da família.

Outro representante, que faz parte da junta provisória, também disse que foi acusado sem provas por pescadores. “Já disseram que eu tinha roubado dinheiro do cofre de Iemanjá, entre outras coisas”, comenta. "Quando você é presidente, as pessoas começam dizer que você está querendo mandar demais, arranja confusão", completa. 

Enfrentar atos de violência e vandalismo também faz parte do trabalho do presidente. Em dezembro, boxes da colônia de pescadores e a Casa de Iemanjá, ambos no Rio Vermelho, foram invadidos.  O suspeito teria tentado roubar dinheiro do cofre que guarda as oferendas deixadas por visitantes.