O que falta para garantir a preservação do Velho Chico?

Especialistas apontam soluções e reclamam de entraves

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  • Larissa Almeida

Publicado em 9 de maio de 2024 às 07:30

Áreas desmatadas na bacia do São Francisco vêm aumentando
Áreas desmatadas na bacia do São Francisco vêm aumentando Crédito: Plano Nordeste Potência/Divulgação

O Rio São Francisco, que percorre os estados da Bahia, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal, sofre com poluição e falta de tratamento adequado do esgoto dos municípios que vivem da sua bacia. De acordo com Anivaldo de Miranda Pinto, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Baixo São Francisco, há 20 anos o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF) luta por uma revitalização das águas do Velho Chico, que nunca saiu do papel por falta de incentivo. É por conta desse cenário que, nesta quarta-feira (8), foi lançada, em Salvador, a campanha "Eu viro Carranca para defender o Velho Chico", que tem como intuito dar visibilidade à necessidade de proteção e revitalização do rio.

Segundo Anivaldo de Miranda, para garantir a preservação do Rio São Francisco está faltando, antes de tudo, maior consciência dos usuários das águas.

“O Rio São Francisco responde por 70% da disponibilidade hídrica do Nordeste e ainda responde pelo Norte de Minas Gerais e um recorte do semiárido. O Rio São Francisco não tem plano B, então toda essa região depende das águas do rio. Então, essa população toda precisa tomar consciência disso, principalmente na hora de votar e escolher os gestores públicos”, afirma.

Ele ainda alerta que, se acontecer no Rio São Francisco o que aconteceu no Rio Doce ou no Rio Paraopeba, que foi gravemente afetado no caso do rompimento da barragem de Brumadinho, em Minas Gerais, não há saída para a população. Na oportunidade, também criticou a instalação de uma usina nuclear em um área que pode comprometer o Velho Chico.

“O Governo ainda teve a ideia de colocar uma usina nuclear em Itacuruba, em Pernambuco. É um complexo nuclear que vai estar na fronteira quádrupla de Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Bahia. Se for adiante, haverá muito consumo de água, especialmente numa região seca, sem possibilidade de um plano B para um grande fato poluente”, pontua Anivaldo.

No ponto de vista de Marcus Vinícius Polignano, falta vontade política para conseguir a preservação do Velho Chico. “Quando temos vontade política, as coisas acontecem e os recursos aparecem. É preciso ter a vontade de todos os entes para dizer que o Velho Chico é tão importante para o país que precisa ser cuidado. De 1985 até 2020, perdemos cerca de 50% da superfície de água do São Francisco. Isso significa que estamos destruindo Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica, e isso não se recupera. Isso vai desertificando e secando o solo, tornando-o cada vez menos permeável e, consequentemente, deixando tanto a população humana quanto a biodiversidade exposta”, aponta.

Ainda de acordo com o vice-presidente do CBHSF, o descaso político é tão grande que o Fundo de Contas da Eletrobras foi feito durante o processo de privatização da empresa, mas até hoje o Comitê do São Francisco, para onde o dinheiro é legalmente destinado, não faz parte da equipe gestora, que é composta por ministérios federais. “É absolutamente lamentável dado que, por lei, [o CBHSF] é o órgão gestor do São Francisco”, reclamou.

Por sua vez, Ednaldo de Castro Campos, coordenador da Câmara Consultiva Regional do Médio São Francisco, se queixa que, por conta dessa configuração, o grupo de trabalho do Governo Federal determina o uso de R$64 milhões anuais de recursos quando, na realidade, há R$700 milhões de recursos disponíveis para cuidar do Velho Chico, sendo que esse valor, só de rendimentos bancários, já teve acréscimo de R$65 milhões. “É terrível essa situação, mas nós não estamos parados. Nós vamos lutar e correr atrás para que sejamos inseridos no grupo gestor desses recursos”, garantiu.

*Com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo