Perdemos tudo, diz morador de casa alagada em Capelinha de São Caetano

Moradores de bairros como São Caetano e Cajazeiras contabilizam prejuízos causados pela chuva

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  • Raquel Brito

Publicado em 8 de abril de 2024 às 22:16

Laje de terreiro desabou por conta da chuva
Laje de terreiro desabou por conta da chuva Crédito: Reprodução/Redes sociais

A ialorixá Oneide Concha e sua família viveram momentos de pavor nesta segunda-feira (8). Primeiro, ela escutou pequenos estalos e um estrondo, seguidos de gritos de desespero dos vizinhos. Logo percebeu que se tratava do terreiro que lidera, localizado ao lado de sua casa. Com as fortes chuvas, uma das paredes do barracão desabou, enquanto duas mulheres dormiam no local. Nenhuma se feriu.

O caso do Terreiro Ilê Axé Soboajô, em Cajazeiras VII, foi uma das 418 ocorrências registradas pela Defesa Civil de Salvador (Codesal) por conta da chuva na capital baiana nesta segunda-feira, até as 22h15. Os bairros periféricos, áreas de maior risco de desabamentos e deslizamentos, são os líderes em registros.

Oneide afirma que esta foi a primeira vez em décadas à frente do terreiro que algo do tipo acontece. A líder religiosa conta, com voz desesperançosa, que não sabe o que fará daqui para frente e pede apoio à Codesal.

“Eu não tenho condições de levantar de novo a parede do Barracão. Eu ajudo muitas pessoas, mas não tenho condições de me ajudar. Eu já tenho muitos anos aqui, eu não sei mais o que fazer. As pessoas estão vindo, ligando, falando. Mas vamos ver daqui em diante se alguém vai estender a mão para mim”, lamenta.

O autônomo Edson Flávio, de 45 anos, também viu a chuva levar o que construiu com muito esforço pelos últimos 11 anos. No último domingo (7), uma encosta ao lado de sua casa cedeu, derrubando a parede do quarto de seus dois filhos e alagando todo o imóvel, em Capelinha de São Caetano.

Com a incidência da água, misturada à lama, Edson e a família não conseguiram salvar um móvel sequer. “A gente perdeu tudo. Desceu muita água, a parede destruiu os móveis no quarto dos meus filhos, a cama, guarda-roupa, ventiladores. Não sobrou nada”, lamenta.

Também no caso do autônomo, ninguém se feriu. Segundo Edson, sua família deu entrada no processo de recebimento de um auxílio para diminuir os danos, mas só poderá retirar em 30 dias. Enquanto isso, ele, sua esposa e os filhos, de 13 e 20 anos, se abrigam em uma casa disponibilizada por um parente.

A prefeitura-bairro Liberdade/São Caetano foi a região com mais ocorrências registradas nesta segunda-feira, com 94 casos. Na liderança, estão deslizamento de terra, com 30 solicitações à Codesal, e avaliação de imóvel alagado, com 23.

Logo em seguida, vêm Pau da Lima, com 59 registros, e Cajazeiras, com 54, sendo 22 por deslizamento de terra. O jornalista Lucas Pereira, de 24 anos, morador de Fazenda Grande III, em Cajazeiras, quase não conseguiu sair de casa para o trabalho pela manhã. Apesar da região onde mora não ter sofrido com os alagamentos, Lucas passou por outros tipos de transtorno.

“[Foi] muita demora nos pontos de ônibus. Houve muitos pontos de alagamento pela cidade, árvores caídas que acabaram congestionando o trânsito. Tudo isso foi prejudicial no deslocamento”, conta.

A chuva também inviabilizou o trabalho de comerciantes na capital. Alexsandra Santos, 51, dona de um mercado no bairro Caminho de Areia, conta que os alagamentos tomaram conta da rua nesta segunda, tanto de casas como de pontos comerciais.

“Em frente à minha loja, a praça ficou totalmente alagada e dificultou o acesso de pessoas ao estabelecimento. Foi um transtorno enorme. Eu mesma tive muita dificuldade para chegar lá. Eu e meu marido passamos com água mesmo”, diz.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela