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Vitor Rocha
Publicado em 7 de setembro de 2024 às 05:00
Hoje tem espetáculo? Tem, sim senhor. E de lona nova, cor de rosa, em formato de chapéu de bruxa. O novo visual do tradicional Circo Picolino, instalado na orla do bairro de Pituaçu, em Salvador, renovou não apenas a estrutura do local, mas o sonho de manter viva a arte circense na cultura e memória dos baianos. >
A lona veio através de uma doação da família de Luís Jardim, ex-integrante do Circo dos Sonhos, localizado em São Paulo, que morreu neste ano. Para Luana Serrat, coordenadora artística do Picolino, a nova cobertura de cor rosa coincide com o momento do circo, que tem aproximadamente três vezes mais mulheres do que homens na equipe fixa do local.>
"Justamente no momento em que temos uma maioria de mulheres nós recebemos uma lona rosa. Diz a lenda que ela deu sorte para o Circo dos Sonhos e estamos acreditando que ela está dando sorte para a gente também", diz. A nova estrutura foi colocada depois de um processo de 15 dias.>
O principal circo de Salvador estava sem lona desde abril, quando um temporal rasgou o tecido da antiga estrutura. No último final de semana a nova cobertura teve sua estreia no evento "A Praça do Circo", que terá sua terceira edição neste domingo (8), e a entrada é gratuita.>
Após a perda da lona, o circo precisou se adaptar, realizando atendimentos em escolas e oficinas a céu aberto. De acordo com Luana Serrat, o local está planejando o retorno das atividades fixas no espaço tradicional, incluindo oficinas. "Estamos finalizando os horários e logo retornaremos. Acredito que algumas aulas voltem já na semana que vem, e outras em outubro. Volta a ter tecido acrobático às terças e quintas, às 18h30. Aulas para crianças nos sábados. Estamos organizando a nossa agenda e o quadro de aulas para o público", informa. Ela reitera que as informações vão ser atualizadas nas redes sociais do Picolino.>
Acrobata e malabarista do Picolino, Wellington dos Santos, de 36 anos, conta que o local é mais do que um palco para expressão artística, mas um patrimônio social. "Entrei como aluno quando tinha 10 anos e estou até hoje. Vim com o projeto Ágata Esmeralda, gostei e fiquei. A importância do circo na minha vida é tudo. Eu sou a pessoa que sou, tenho o que tenho, graças a Deus através do circo", revela.>
O circo é um tipo de arte que não tem idade. Deise Côrtes, de 45 anos, começou nas artes circenses em 2018, quando foi levar a sua filha para uma aula experimental. Desde então, se tornou acrobata do Circo Picolino. "Acho que o pior julgamento é o autojulgamento. A prática do tecido não é fácil para quem está começando. Com o tempo, vamos ganhando força e confiança. Me julguei, mas a vontade de continuar sempre foi maior. O tecido acrobático foi sem dúvidas um divisor de águas para mim", diz. Neste domingo (8), a artista se apresenta no espetáculo DAQUI, a partir das 18h, no evento "A Praça é o Circo".>
Diretor da apresentação que finaliza o final de semana do Picolino, Felipe Cerqueira explica que utilizou o momento de reconstrução do circo e a região de Pituaçu como inspiração para o conto circense DAQUI.>
"A ideia inicial do projeto vem a partir da reflexão que o Edital traz como proposta que é territórios, e de utilizar pessoas majoritariamente do território do circo, que é a região de Pituaçu e bairros em volta. E aí, a partir desses requisitos, eu, muito tocado por essa aflição climática que a gente vive, começo a pensar nesse território, nesse chão, nesse chão que é o Circo Picolino, em processo de reconstrução com a lona nova, mas esse chão que também é toda a obra que está acontecendo em volta do circo já há anos, que é também a Bahia", conta. >
Cerqueira ainda acrescenta que no espetáculo tem "acrobacias, malabarismos, tem performance aérea, tem palhaçada e tem tudo junto e misturado".>
Criada há 39 anos, o Picolino foi a primeira escola de circo do Norte-Nordeste e supre até hoje o papel educacional das artes circenses. "O Picolino vem cumprindo um papel fundamental em Salvador. A gente tem todas as universidades artísticas, teatro, dança, visuais, cinema no Recôncavo, mas a gente não tem circo. O Estado não nos presenteou isso ainda, então o Picolino vem cumprindo essa função de educar", declara o coordenador de produção do circo, Marcelo Galvão.>
A arte circense marca a infância de muitos brasileiros, como Luana Serrat, que compartilha a sensação de quem vive o circo desde criança. "O Circo Picolino além de circo é casa, quintal, parque, local de trabalho. Chega a dar branco de tantas memórias que tem", relata. Aos 15 anos, o estudante João Gabriel Costa nunca esqueceu de quando foi ao circo pela primeira vez aos 6 anos. "Quando eu ia pro circo, o que eu mais gostava era dos acrobatas e dos caras de motocicleta. Eles faziam o que parecia impossível se tornar possível", conta.>
História do Picolino>
O Circo Picolino foi criado em 1985, por Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki, através do grupo Tapete Mágico. "Surgiu o grupo Tapete Mágico em São Paulo, que veio fazer um trabalho em Salvador, num shopping, e acabou ficando por aqui. Montou a escola, e o primeiro lugar onde ela foi montada foi no Circo Troca de Segredos, em Ondina. Depois, foi para o Espaço Xisto, em seguida para o Vagão. Quando chegou ao Aeroclube, foi quando tivemos a primeira lona. Ficamos lá por sete anos, e depois viemos para Pituaçu, onde estamos desde então", resume Luana.>
Confira a Programação do "A Praça do Circo">
14h - Abertura com a Feira de Artesanato e Gastronômica>
14h30 - Oficinas Circense - acrobacias e malabarismo>
15h30 - Oficina de Produção de Caxixi, seguida de aula de instrumentalização>
16h - Show musical com Gabriel>
18h - Espetáculo Circense “DAQUI”>
*Com orientação da subeditora Fernanda Varela>