Professora é acusada de usar Ufba para beneficiar PT baiano

Denúncia aponta que Renata Rossi criou curso na universidade para formar lideranças para o partido

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  • Rodrigo Daniel Silva

Publicado em 16 de maio de 2024 às 05:20

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Escola de Administração da Ufba Crédito: Divulgação

Uma denúncia, que foi protocolada no Tribunal de Contas da União (TCU) e na Controladoria Geral da União (CGU), acusa a professora da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Renata Alvarez Rossi, de usar a estrutura e recursos da instituição para beneficiar o Partido dos Trabalhadores.

De acordo com a denúncia, a docente, que ainda seria filiada ao PT, elaborou e apresentou, no ano passado, à Escola de Administração da Ufba um curso de “Formação de Lideranças para a Democracia”. O projeto é desenvolvido em parceria com a Escola Luiza Mahin, que nunca existiu formalmente, e, no Instagram, tem sido uma plataforma de divulgação do PT. Nesta rede social, há mensagens de parabenização, por exemplo, ao governador Jerônimo Rodrigues, a ex-presidente Dilma Rousseff e trechos de palestras de deputados estaduais, como Robinson Almeida e Marcelino Galo.

Instagram da Escola Luiza Mahin
Instagram da Escola Luiza Mahin Crédito: Reprodução

A Congregação da Escola de Administração aprovou o curso “sem minimamente saber do que se tratava de fato essa tal Escola de Formação Política Luíza Mahin”, conforme a acusação. De acordo com a denúncia, os diretores, conselheiros e coordenadores da escola são filiados ao PT. No Instagram, Gutierres Barbosa, que é vice-presidente do PT da Bahia, é descrito como o diretor da Escola de Luíza Mahin.

A acusação aponta, no entanto, que o diretor seria Ivan Alex Lima, que é marido de Renata Rossi. Na rede social, ele aparece em algumas publicações, e é descrito como assessor especial do governo Jerônimo Rodrigues. “É importante destacar que em momento algum a professora Renata Alvarez Rossi mencionou o vínculo da ‘suposta’ Escola com o Partido dos Trabalhadores e que a mesma era dirigida pelo seu companheiro, como quem mantém relação estável, Ivan Alex Lima, o que demonstra claro conflito de interesse”, diz a denúncia.

Trecho da denúncia
Trecho da denúncia Crédito: Reprodução

Para o curso ser desenvolvido, o senador Jaques Wagner, do PT da Bahia, destinou R$ 200 mil. De acordo com a acusação, o dinheiro foi enviado para a “universidade pública, a qual repassou esses recursos para beneficiar uma professora filiada ao Partido dos Trabalhadores para, então, destinar recursos para uma ‘organização’ informal vinculada ao próprio Partido dos Trabalhadores, sendo um de seus principais diretores o Sr. Ivan Alex Lima”. O curso, que iniciou no dia 16 de março deste ano, é administrado pela Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão da UFBA (Fapex), e contratou por CLT Jeane dos Santos Macedo Santos, que é filiada ao PT e parte da coordenação da Escola Luíza Mahin, conforme a denúncia.

A acusação ainda diz que a professora Renata Rossi se articula para a inserção de membros do PT, mais especificamente da Escola de Formação Política Luíza Mahin, no Mestrado em Desenvolvimento e Gestão Social (PDGS) da Escola da Administração da Ufba.

“A estratégia do PT é clara, utilizar a universidade pública para fortalecer o seu processo de formação de lideranças na Bahia (e no Brasil), que anda deveras débil, e com isso se fortalecer no processo eleitoral, especialmente no que se aproxima. (...) Na universidade pública, a formação política é um elemento fundamental na construção de um cidadão consciente e participativo. Essa formação deve ser pautada em uma visão crítica, ampla e inclusiva, que abarca múltiplas perspectivas e não se restringe ou se alinha automaticamente a uma única corrente ideológica ou partido político”, diz outro trecho da denúncia.

Procurada pela reportagem, a Ufba informou que recebeu a denúncia e encaminhou para os órgãos de controle e correição, que irão proceder à devida apuração dos fatos. “A Ufba se reserva o direito de não emitir julgamentos prévios ou, de qualquer maneira, se manifestar sobre pontos que possam interferir no bom andamento do processo”, diz, em nota.

Diretor da Escola de Administração, André Luis Nascimento, disse que está "pouco familiarizado com o teor da denúncia" porque tomou posse do cargo no início deste mês, e acrescentou que ainda não houve notificação.

A CGU afirmou que não comenta sobre a eventual existência ou inexistência de investigações em face de agentes públicos ou pessoas jurídicas antes de sua conclusão. O TCU informou que a denúncia foi recebida e está em análise. Também declarou que ainda não há informações públicas disponíveis ou processo aberto sobre o caso.

O Partido dos Trabalhadores afirmou que “o PT Bahia não possui instrumento de contrato, cooperação ou parceria com a Ufba ou nenhuma outra universidade; assim como não tem conhecimento ou foi notificado acerca de qualquer denúncia a órgãos de controle que envolvam o partido ou suas instâncias”. Já o senador Jaques Wagner disse que destina emendas para Ufba com o objetivo de "fortalecer a universidade pública, contribuindo para que ela se consolide como um espaço capaz de fomentar atividades de ensino, pesquisa e extensão nas mais diversas áreas.". Declarou ainda confiar na "correta aplicação dos recursos".

"Não tem nenhum fundamento essa suposta denúncia. Talvez, seja mais uma tentativa de ataque à universidade"

Renata Rossi
Professora da Ufba

Outro lado

Renata Rossi negou qualquer irregularidade. Disse que o curso é um projeto de extensão que tem como público 50 estudantes da Ufba e fora da universidade.

Sobre ser filiada ao PT, a professora disse “não sabe dizer” se permanece como quadro do partido, já que pediu a desfiliação em 2019, mas não acompanhou a tramitação na Justiça Eleitoral.

“O curso é destinado para estudantes da Ufba, mas também para pessoas de fora da Ufba. A parceria com a Escola Luíza Mahin foi no sentido de apoiar a divulgação do curso para pessoas da sociedade civil. Não faço parte da militância partidária a um tempo. Acompanho movimentos sociais, mas não sou engajada politicamente com o movimento”, afirmou.

Renata Rossi negou que o seu marido Ivan Alex seja responsável pela escola. Também afirmou que como não houve transferência de recursos a Escola Luíza Mahin não precisaria de CNPJ. Disse não saber se há filiados do PT no curso. “Não tem nenhum fundamento essa suposta denúncia. Talvez, seja mais uma tentativa de ataque à universidade.”, declarou.