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Caique de Castro Santos tem 18 ocorrências registradas e já estava sendo procurado pela polícia por outro crime
Gil Santos
Publicado em 6 de setembro de 2023 às 14:38
Ele diz que não gosta de homens gays afeminados, prefere que a pessoa tenha local e more sozinha e que não seja assumidamente LGBT. Caique de Castro Santos, 30 anos, foi preso suspeito de extorquir vítimas através de um golpe em diversos bairros de Salvador. Ele responde a dois processos por roubo e um por receptação de carro roubado, e tem registros por ameaça, extorsão, roubo, violência doméstica e desacato policial.
Antônio* foi uma das últimas vítimas do golpe. Ele conheceu Caique através de um aplicativo de encontros para pessoas LGBT+ e os dois marcaram na casa da vítima. O caso aconteceu na semana passada. O suspeito foi educado ao chegar, os dois mantiveram relações sexuais e logo após tomar um banho o golpe começou.
“Ele perguntou se eu iria pagar no PIX ou no dinheiro. Eu disse que não estava entendendo, que em nenhum momento ele disse que era garoto de programa, e ele começou a falar alto, disse que eu teria que pagar R$ 550 ou ele faria um escândalo. Ele disse que sabia onde eu morava e que ia mandar ‘os caras’ me pegar. Fiquei muito assustado”, contou a vítima, um homem de 42 anos.
Antônio não tinha o dinheiro e ligou para amigos na tentativa de conseguir a quantia. Depois de algumas ligações, um colega fez a transferência, mas Caique não ficou satisfeito. “Ele disse que fiz ele perder muito tempo e outros programas, e que teria que fazer o pagamento em dobro. Eu não questionei nada, porque fiquei com medo do que poderia acontecer. Como eu não tinha mais R$ 550 para entregar, ele levou meu celular”, contou.
Esse não foi o primeiro caso de extorsão. Caique é investigado por aplicar o mesmo golpe em outras pessoas nos bairros da Trobogy, Boca do Rio, Armação e outras localidades próximas da Orla. Em todos os casos, ele se apresentou como uma pessoa comum e após a relação disse ser garoto de programa. Para o titular da 9ª Delegacia (Boca do Rio), Carlos Roberto de Freitas Filho, que investiga o caso, ele escolhia vítimas não assumidas sexualmente e que vivem sozinhas para facilitar o crime.
“São pessoas discretas e que ficam com medo de um escândalo. Além disso, por conta do local do encontro, ele sabia onde elas moravam e fazia ameaças. Temos cerca de dez denúncias desse tipo, além dos casos de roubo, receptação e outros crimes, mas sabemos que o número de vítimas é muito maior porque elas sentem vergonha de denunciar”, afirmou.
O delegado explicou que durante a pandemia os casos de extorsão e estelionato aumentaram, orientou que as pessoas escolham marcar o primeiro encontro em locais públicos e monitorados, que evitem levar para casa desconhecidos, cobrou mais ações educativas dos grupos militantes e fez um apelo.
“Isso não tem a ver com orientação sexual. Temos muitos casos de senhoras que foram extorquidas ou sofreram a ação de estelionatários que buscavam esse tipo de vítima. Esses casos aumentaram bastante durante a pandemia. Seja homem, seja mulher é preciso redobrar os cuidados e denunciar. Vou reunir os casos e representar pela prisão preventiva dele, então, quanto mais pessoas denunciarem, melhor”, disse.
Prisão
Caique estava em um bar, em Itapuã, com outra vítima, quando foi surpreendido pelos policiais, por volta das 20h30 de terça-feira (5). Segundo os investigadores, ele alegou ser garoto de programa e negou os crimes.
Apesar das denúncias de extorsão, a prisão foi por outro motivo. Em fevereiro de 2022, Caique e outro homem foram presos por roubar um carro em Stella Maris, ele estava usado tornezeleira eletrônica, mas arrancou o equipamento. Um mandado de prisão preventiva foi expedido e ele estava sendo procurado.
Em 2022, o suspeito foi conduzido à Central de Flagrantes por desacatar guardas civis municipais e também era investigado por supostamente ter se apoderado de um carro que um amigo lhe havia emprestado. As ocorrências começaram a cerca de um ano e as denúncias por extorsão nos últimos meses.
Caique é natural de Salvador e já morou em diversos bairros. Atualmente, ele estava vivendo em Tubarão, em Paripe, no Subúrbio Ferroviário. Ele tem esposa, três filhos e os pais já são falecidos.
Há 18 registros policiais contra ele na 10ª Delegacia (Pau da Lima), 6ª Delegacia (Brotas) e na Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derca), como autor, além da 9ª Delegacia (Boca do Rio). Segundo o Serviço de Inteligência da 9ª Delegacia, ele é considerado perigoso.
O suspeito foi encaminhado para a Polinter e depois será transferido para o Complexo Penitenciário da Mata Escura. Mesmo assim, o delegado informou que vai solicitar a prisão preventiva dele também pelos crimes de extorsão e pediu que as vítimas procurem a unidade. “Todos serão acolhidos com respeito e o sigilo é garantido. Denuncie”, disse.
O CORREIO ainda não conseguiu contato com a defesa de Caique.
*Usamos nome fictício para proteger a identidade da vítima.
Outros casos
Na semana passada, Lucas Silva de Jesus, 13 anos, foi morto a tiros na rua da Barragem, que dá acesso ao bairro de Sete de Abril, em Salvador, após sair para um encontro romântico com uma jovem, marcado pelas redes sociais. A família acredita que o adolescente foi vítima de uma emboscada. O caso aconteceu na quarta-feira (30), o casal vinha trocando mensagens há dias e a dona do perfil ainda não foi localizada.
Na noite de sábado (2), o ator Victor Meyniel foi espancado na portaria de um prédio na zona sul do Rio de Janeiro (RJ). Ele conheceu Yuri de Moura Alexandre em uma boate e os dois estavam chegando na casa do agressor quando a violência começou. Nas imagens divulgadas pela assessoria do ator, é possível ver o agressor desferindo diversos socos contra Victor enquanto o porteiro do local olha.
Após a agressão, o ator passou por exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) e foi atendido em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Junto com a mãe, prestou queixa na 12ª DP contra o acusado. Yuri foi preso na segunda-feira (4) e vai responder por homofobia.
Confira dicas da polícia de como se proteger:
• Marque o primeiro encontro em um local público, pode ser uma região discreta, mas que tenha presença de outras pessoas para casos de emergência;
• Escolha um local que tenha monitoramento eletrônico, porque se mais tarde houver problemas será mais fácil de identificar;
• Não receba em casa pessoas que você nunca viu antes e nem visite desconhecidos na residência deles, sempre desconfie;
• Busque informações sobre essa pessoa nas redes sociais ou em outros mecanismos antes de marcar o encontro;
• As dicas valem para todas as sexualidades e o cuidado deve ser redobrado porque você ainda não sabe quem está do outro lado da tela;