Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 20 de setembro de 2024 às 12:17
Cientistas da Universidade de Bristol, no Reino Unido, descobriram um novo sistema de grupo sanguíneo. A pesquisa revelou a origem genética do antígeno AnWj, e explicou a existência do sistema MAL, presente em 0,01% das pessoas. >
Até então, foram descobertos 47 sistemas de grupos sanguíneos. O mais famoso deles é o ABO, formado pelos tipos sanguíneos A, B, AB e O. Um tipo sanguíneo se diferencia de outro de acordo com os antígenos presentes nele, sendo que cada sistema pode ter vários antígenos diferentes. As informações são do g1 Brasil. >
Antígenos são proteínas que ficam nas hemácias, as células sanguíneas que levam oxigênio e recolhem gás carbônico do corpo. A principal função deles está relacionada ao sistema imunológico, e a ciência conhece, atualmente, mais de 360 tipos diferentes de antígenos. >
A descoberta da origem do antígeno AnWj, publicada na última segunda-feira (16) pelo periódico Blood, permite, na prática, que cientistas identifiquem pessoas com sangue pertencente a um novo sistema de grupo sanguíneo, o MAL - Proteína de Mielina e Linfócitos. A essencialidade de entender com exatidão o grupo sanguíneo ao qual cada pessoa pertence se relaciona, principalmente, às transfusões de sangue. Conhecendo o novo grupo, a chance de realizar uma transfusão prejudicial ao corpo dimunui. >
O antígeno não foi descoberto agora, sendo conhecido desde 1972, quando o hemograma de uma mulher grávida, que hoje tem 70 anos e participou da nova pesquisa, apontou que o sangue dela não tinha uma molécula presente em todos os humanos notados até então. A grande dúvida que pairava sobre o AnWj era relacionada à base genética que o formava, ou seja, qual parte do DNA fazia parte da sua produção.>
Foi justamente isso que os pesquisadores de Bristol desvendaram, ao entender que o AnWj fica ligado à proteína Mal. Também “acoplada” às hemácias, ela está presente em mais de 99,9% dos seres humanos. Isso, porque quase todas as pessoas têm o antígeno AnWj positivo em seus corpos.>
A minoria de indivíduos AnWj-negativos não tem a proteína Mal completa, e por isso, não podem receber sangue de pessoas que tenham o antígeno positivado. Por serem maioria na humanidade, os riscos de transfusões equivocadas são recorrentes. >
A descoberta da conexão entre a Mal e o AnWj veio após a introdução do gene Mal em células, resultando em um funcionamento normal. Por outro lado, quando introduziram o gene mutante, o funcionamento foi prejudicado, provando que a presença do antígeno no corpo está correlacionada com a presença da proteína. >
Assim, foi confirmada a identidade do grupo. “É muito empolgante que pudemos usar nossa capacidade de manipular a expressão genética em células sanguíneas em desenvolvimento para confirmar a identidade do grupo sanguíneo AnWj, que era um enigma há cinquenta anos”, comentou Ash Toye, professor de Biologia Celular e diretor da Unidade de Pesquisa em Sangue e Transplante da Universidade de Bristol.>
Em geral, os AnWj-negativos têm essa diferenciação em decorrência de alguma doença, como cânceres, que podem suprimir o antígeno e alterar a recepção ideal do paciente. É possível nascer AnWj-negativo, caso a pessoa não tenha o gene que produz a proteína Mal, mas é mais raro. Para isso, é preciso que parte do material genético responsável pela passagem do antígeno seja perdida.>
Agora, é possível identificar com precisão os indivíduos AnWj-negativos, determinando doadores e receptores com essa condição rara. >
Mesmo no estudo, não foi simples encontrar essa minoria de pessoas geneticamente AnWj-negativas. A raridade foi analisada em cinco pessoas. Uma delas, a primeira pessoa a ser identificada com esse tipo sanguíneo.>
No processo, que incluiu uma família árabe-israelense que tinha o genoma em comum, foi feito um sequenciamento de exoma, o material que codifica proteínas. Isso significa que alterações no DNA dessas pessoas foram testadas, e a ausência do gene Mal foi notada.>
"O trabalho foi difícil porque casos genéticos são raros. Não teríamos alcançado estes resultados sem o sequenciamento de exoma, já que o gene que identificamos não era um candidato óbvio e pouco se sabe sobre a proteína Mal nas hemácias", contou Louise Tilley, pesquisadora sênior do Grupo de Sangue e Transplante do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido que já estudava o antígeno há 20 anos.>