'A gente nunca está preparado' diz irmã, sobre morte de estudante na Nicarágua

Raynéia foi morta a tiros na noite dessa segunda-feira, durante uma manifestação; governo brasileiro pede punição dos responsáveis

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Publicado em 24 de julho de 2018 às 19:58

- Atualizado há um ano

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"Tão linda minha irmã. Tão cheia de vida. Feliz por estar terminando a faculdade e se tornando uma médica. Mesmo sabendo que um dia a vida acaba, a gente nunca está preparado para perder alguém", lamentou Ketelly Lima, irmã estudante de medicina Raynéia Gabrielle Lima, 31 anos, que foi morta a tiros na noite dessa segunda-feira (23) em Manágua, capital da Nicarágua. O desabafo foi feito no Facebook. A Nicarágua passa por uma onda de protestos que pedem a saída do presidente Daniel Ortega. 

A irmã da estudante de medicina lembrou ainda, na rede social, de como Raynéia ficava triste por não consegui ficar por perto da sobrinha Cecília. "Por viver tão longe, ela me pedia tanto pra mostrar fotos delas pra Cecília saber quem era ela , ficava tão feliz quando eu mandava fotos arrumada pra ir pra festinhas, ou quando fazia uma coisa diferente que a gente ficava besta. Ficam as lembranças para contar como foi sua vida e restam as saudades para lembrar a falta que você fará", acrescentou. 

Segundo informações de amigos, a pernambucana, de Vitória de Santo Antão, na Zona da Mata, não participava de nenhum tipo de manifestação no país. "Ela não participava de nenhum protesto, estava cumprindo o seu internato no hospital militar", disse Anderson Felipe, amigo da estudante.

"Quando ela foi atingida, o seu namorado saiu do carro gritando que não fazia parte de nenhum grupo politico. Logo depois os atiradores fugiram", contou Anderson.O assassinato, divulgado pela imprensa local, foi confirmado pela Embaixada do Brasil na Nicarágua. Raynéia era estudante da Universidade Americana (UAM) e teria sido metralhada por manifestantes.

Onda de violência O país, vive desde abril uma onda de protestos que pedem a saída do presidente Daniel Ortega. O governo respondeu com violência aos manifestantes e ao menos 360 pessoas já foram mortas, a maior parte civis.

O governo nega ter ligação com os grupos paramilitares que são acusados de serem os responsáveis pela maioria das mortes, apesar deles usarem bandeiras do partido do presidente, a Frente Sandinista de Libertação Nacional.  

Brasil exige providências da Niocarágua

O governo brasileiro manifestou, em nota, indignação, e exigiu que as autoridades nicaraguenses mobilizem todos os esforços necessários para identificar e punir os responsáveis pelo assassinato da estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, na noite de segunda-feira (23).

No texto, o governo ainda condenou “o aprofundamento da repressão, o uso desproporcional e letal da força e o emprego de grupos paramilitares em operações coordenadas pelas equipes de segurança” e repudiou a perseguição a manifestantes, estudantes e defensores dos direitos humanos.

A estudante de medicina foi morta com um tiro no peito que, segundo o reitor da Universidade Americana (UAM), Ernesto Medina, foi disparado por um "um grupo de paramilitares" no sul da capital Manágua. “A brasileira foi atingida por disparos em circunstâncias sobre as quais [o governo brasileiro] está buscando esclarecimentos junto ao governo nicaraguense”, destacou o Itamaraty, estendendo votos de solidariedade à família da estudante.

Crise A Nicarágua vive uma crise sociopolítica com manifestações que se intensificaram, desde abril, contra o presidente Daniel Ortega que se mantém há 11 anos no poder em meio a acusações de abuso e corrupção. A repressão aos protestos populares já deixou entre 277 e 351 mortos, de acordo com organizações humanitárias locais e internacionais.

O assassinato da estudante brasileira ocorreu horas depois de Medina participar de um fórum no qual disse que o crescimento econômico e a segurança na Nicarágua antes da explosão dos protestos contra Ortega em abril "era parte de uma farsa" porque "nunca houve um plano que acabasse com a pobreza e a injustiça".

Em entrevista a uma emissora de TV local, o retior da UAM acrescentou que as forças paramilitares “sentem que têm carta branca, ninguém vai dizer nada a eles, ninguém vai fazer nada. Eles andam sequestrando e fazendo batidas".

O governo de Daniel Ortega foi acusado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e o Escritório do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (Acnudh) pelos assassinatos, maus tratos, possíveis atos de tortura e prisões arbitrárias ocorridas em território nicareguense.