A impressão mata, a síndrome de Sansão e os silvícolas eunucos

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  • Da Redação

Publicado em 28 de outubro de 2018 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Dizia-se com frequência lá em casa na infância: - Impressão mata! Lembro do milagre. Não do santo. Não me recordo quem disseminou a sentença. Talvez meu pai. Não meu pai não. Ele não tinha esse olhar. Talvez minha mãe. Coadunava-se com a alma melancólica que lhe era segunda pele.  Quase certo: foi dona Águida quem me disse essa frase pela primeira vez. Absolutamente certo: essa sentença axiomática me impressiona demais. Até hoje.

Afirmava-se também: a pessoa que se deixava imergir pelo mundo vertiginoso da impressão era ‘impressionada’. Também tenho alguma dúvida quanto a este quesito. Não sei sobre quem esse adjetivo era disparado com mais intensidade. Talvez minha mãe. Talvez uma de minhas duas irmãs.

Na minha meninice imersa em caraminholas e donas culpas selvagens me deixei impressionar de maneira arrebatada pelo espanto de tentar aprender a nadar. Era mar revolto demais no qual eu nunca naveguei de forma precisa. [Não duvido. Talvez eu fosse, e seja, o mais impressionado do clã Souza-Menezes].

Evento 1. Cismei a partir de vagas ilações que cortar cabelo atraía má sorte, em precoce síndrome de Sansão. Verdade:  à época cortava-se cabelo com máquina zero deixando à mostra apenas pequeno topete no cimo da cabeça. A mão pesada e às vezes mal-cheirosa do senhor Chaves, dono de barbearia no Beco do Cochicho, atenuava o drama.

[A morte de minha avó materna, Joana, quando eu tinha 9 anos, logo depois um corte de cabelo, confirmou, por linhas tortas, esse efeito maléfico que a poda das minhas madeixas teria].

Evento 2. Rico comerciante da urbe foi assassinado a tiros de metralhadoras por bando de capangas, a mando do fazendeiro mais rico e truculento  da região. Impressionado, a casa onde morávamos ficava a uma quadra do local do crime, adotei comportamento algo paranoide. Todas as noites, antes de dormir, olhava embaixo da cama para ver se algum assassino se escondera ali, de arma em punho, sibilante de ira.

Evento 3. A categórica sentença, é certo, não ouvi de meus familiares. Escutei da boca de algum colega de sala mais velho a seguinte assertiva: - Por isso o Brasil não vai pra frente. Pegaram o pau do índio pra fazer cachorro-quente!

Nunca mais comi cachorro-quente com a mesma convicção e gula dantes. Passei a ter a impressão de que essa prática torpe e infame fora realmente efetivada e, por isso, para pagar esse carma histórico, o Brasil que eu ainda acreditava varonil estaria reservado ao rebotalho e aos fiofós do planeta Terra.

Neste momento de padecimento coletivo do povo brasileiro, por conta de momento histórico desastroso e desastrado que vivemos, esta impressão deixa de ser impressão e passa ao terreno da certeza absoluta. De fato – falsos   brasileiros cordiais que um dia jactamos ser – mas nunca fomos – utilizamos a genitália masculina dos nossos silvícolas para rechear os cachorros-quentes que devoramos vida afora.

[Que carma da peste, oxente!][Ai de nós!]