Ala militar discute se segue com Bolsonaro após demissão de Moro

Grupo se sentiu ‘traído’ por não ser avisado da mudança na PF; especula-se que retirada de apoio possa levar a renúncia do presidente

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  • Da Redação

Publicado em 24 de abril de 2020 às 16:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Fernando Frazã/Agência Brasil

A cúpula militar do governo Jair Bolsonaro (sem partido) entrou em crise após o pedido de demissão de Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública. A retirada do apoio militar é uma das hipóteses que, se concretizada, pode levar a uma renúncia do presidente. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.

Diante das especulações, dois fatos contrariaram os militares e fizeram elevar a pressão de setores importantes da cúpula da ativa que integra o governo. O primeiro deles foi a publicação no Diário Oficial da exoneração do diretor da Polícia Federal, Maurício Valeixo, sem consulta prévia aos grupo de militares. 

Os generais do palácio passaram o dia de hoje (23) tentando costurar uma forma de Moro permanecer no governo e se sentiram ‘traídos’ pela atitude de Bolsonaro com a publicação, o que teria sido a ‘gota d’água’ para que Moro anunciasse esta manhã o seu afastamento. 

Um interlocutor direto da ala militar afirmou que os generais ficaram chocados com a acusação explícita de interferência na Polícia Federal, exposta por Moro durante seu pronunciamento. A fonte comentou ainda, que não se tratava de achar que Bolsonaro não desejaria fazer isso, dado seu histórico de proteção aos interesses de sua família, mas sim a exposição pública da situação por o agora ex-ministro, Sérgio Moro. 

Mais repercussões  Nas conversas sobre tentativas de manter a governabilidade, os militares defenderam que o próximo ministro da Justiça fosse um jurista de reputação sem conexões políticas. Inicialmente, Bolsonaro parece rejeitar a sugestão. O presidente quer o chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Jorge Oliveira, no lugar de Moro. O ministro, contudo, ainda não aceitou o convite. Outro nome é o de André Mendonça (Advocacia-Geral da União).

Como se não bastasse a pressão interna, os militares do governo estão crescer a insatisfação da condução da crise do coronavírus. Segundo relatos vindos da ala militar, o comandante do Exército, general Edson Pujol, está cada vez falando menos a mesma língua que a do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo.

Já as fontes ligadas ao ministro negam tal versão, afirmando que eles estão alinhados e que não há divergências.  Segundo um oficial-general, o clima eleva a pressão sobre os fardados no governo para se posicionarem, caso Bolsonaro não dê uma explicação convicente para a acusação de Moro, que por sinal, é muito bem visto entre os militares. 

De acordo alguns militares de escalão intermediário, a saída de Moro não era um desejo dos fardados. Na reserva, o presidente do Clube Militar, general Eduardo Barbosa, disse que a entidade "lamenta" o episódio. "Com certeza, uma vitória dos que defendem a impunidade dos corruptos poderosos", completou.

Para um político conhecido pelos militares, a situação não é favorável a Bolsonaro. O presidente só tem hoje a família, os a ala militar e alguns poucos nomes no Congresso para se apoiar. Se os militares ameaçarem sair do governo, Bolsonaro está praticamente convidado a negociar, segundo dizem. As informações são da Folha.