'Ancine está destruída', diz Wagner Moura em exibição de 'Marighella' nos EUA

Governos como o de Bolsonaro "têm medo do que um artista pode fazer", diz

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  • Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2019 às 21:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: AFP

O ator e diretor Wagner Moura voltou a criticar as políticas culturais do governo de Jair Bolsonaro. Em Nova York para uma exibição de "Marighella", sua estreia na direção, Moura falou com o público do African Diaspora International Film Festival no sábado (7).

Inspirado no livro do jornalista Mário Magalhães, "Marighella, o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo" conta os últimos cinco anos de vida do ex-deputado, começando no golpe militar de 1964. O filme teve problemas com a Agência Nacional de Cinema (Ancine) e ainda não foi lançado no Brasil.

"Eu não gosto de falar do 'Marighella' como um caso isolado: todo o universo da cultura, no Brasil, está basicamente destruído. A Ancine está destruída. Acabada. Game over. E esse é o jeito que eles fazem hoje: a censura não é como a da ditadura militar, que dizia 'isso é proibido'", afirmou Moura para o público de cerca de 70 pessoas, de acordo com a Folha de S. Paulo."Hoje eles infiltram pessoas nessas agências, e elas tornam tudo impossível de acontecer. Foi isso que fizeram com 'Marighella'. Eles acharam uma forma de tornar o lançamento impossível do ponto de vista burocrático. Mas nós iremos achar um jeito", afirmou, sendo aplaudido.O baiano incentivou que os artistas não parem e não se deixem intimidar, afirmando que governos como o de Bolsonaro "têm medo do que um artista pode fazer".

"Eu percebi que essas pessoas têm medo do que um artista pode fazer. Essa é a natureza da arte. Dos filmes, das peças. Essas coisas fazem as pessoas pensarem. Mesmo se não for uma produção diretamente política, ela representa uma ameaça. Então o que eu diria para os artistas, é: continue fazendo o que você faz. E, naturalmente, seja selvagem. Quanto mais radical melhor", acredita.

O filme estreou em fevereiro no Fesival de Berlim. Em Nova York, teve duas sessões, uma na Universidade de Columbia e outra no Cinema Village, como parte da programação do festival que convidou Moura.