Após pichações, Igreja de Sant’Ana, no Rio Vermelho, espera por reforma

Padre Ângelo Magno repudiou o ato de vandalismo no local

  • D
  • Da Redação

Publicado em 23 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva

Local que marcou a história de Salvador, onde muitos se casaram e batizaram seus filhos, a Igreja de Sant’Ana, no Rio Vermelho, foi pichada por um grupo de quatro homens, na madrugada de segunda-feira (22). Câmeras de segurança flagraram a ação. No momento do crime, a região do Largo de Dinha ainda estava movimentada. O padre Ângelo Magno, responsável pelo templo, afirmou que a igreja foi muito amada desde sua fundação, em 1913, e repudiou o ato de vandalismo. 

A igreja passou a funcionar como um centro cultural após ter sido substituída por uma nova paróquia, localizada na Rua Guedes Cabral, também no Rio Vermelho. “A igrejinha foi desativada para as cerimônias religiosas e passou a funcionar como um centro social para ajudar a paróquia. O templo passou por requalificação em 2016, mas depois precisou ser desativado, pois teve problemas sérios de estrutura. Hoje, lutamos muito para que seja efetuada a reforma da igreja, para que ela seja aberta novamente para o público como um centro cultural”, explicou o religioso. 

Na segunda-feira mesmo, pela manhã, a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) começou a retirada da pichação da igrejinha de Sant’Ana. Colaboradores da prefeitura fizeram a secagem com produtos, removedores e tintas específicas. O custo desta operação é de aproximadamente R$ 7 mil. Para Virgílio Daltro, engenheiro presidente da Desal, a pichação é uma falta de respeito com a população. "Recebemos entre 10 e 20 queixas por dia, 60% são de vandalismo”, declarou o dirigente. 

Uma garçonete de um dos bares próximos, Lilia Oliveira, afirmou que sempre picham os muros da igreja. “A prefeitura pinta e eles picham de novo. Mas a igreja estava fechada há muito tempo, né? Fico feliz que pelo menos ela vai ser reformada”, declarou a mulher. O presidente da Desal informou que, para fazer o trabalho de cobrir os vandalismos com pichações, a companhia chega a gastar R$ 45 mil por mês. "É impressionante a falta de cuidado com a coisa pública”, concluiu Virgílio.

Em setembro, as paredes da Igreja e Convento Nossa Senhora da Piedade também foram pichadas e exibiam as iniciais do maior grupo criminoso do estado, facção Bonde do Maluco (BDM). A Desal informou que atende cerca de oito pedidos por mês para recuperação de igrejas pichadas. Ao todo, a companhia recebe diariamente entre 12 e 15 pedidos de retirada de pichações e vandalismo de equipamentos de praças e monumentos de Salvador. 

“As ações de vandalismo não param, são criminosamente danificadas mesas de concreto, que servem para jogos de tabuleiros e para o bate-papo. Muitos aparelhos das academias, brinquedos e até as casinhas de Tarzan vêm sofrendo vandalismo, com a retirada dos telhados ou pisos”, declarou a companhia. 

História  O templo é um dos principais patrimônios históricos do Rio Vermelho, mas sua capacidade era de 72 pessoas e, com o crescimento do bairro, uma nova paróquia foi construída no antigo Forte de São Gonçalo. A antiga igreja quase foi demolida na década de 1980, mas foi salva graças a uma campanha feita pelos moradores da região com apoio de personalidades como Jorge Amado, Carybé e Mário Cravo. O local não é tombado individualmente pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), porém está em área que a entidade administra.

O Ipac informou que a pichação se enquadra em crime de depredação de patrimônio histórico e a responsável pela segurança pública do entorno é a 12° Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM), órgão que declarou que iniciou a investigação para identificação e prisão dos autores.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro