'As duas filhas estavam com ela', desabafa irmão de professora morta na Vila Canária

Priscila foi morta no dia em que inauguraria sua creche

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 6 de fevereiro de 2019 às 17:42

- Atualizado há um ano

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Em frente à entrada da creche Pa Pri Pam havia apenas um carro, modelo Fiorino, de cor branca, no meio da tarde desta quarta-feira (6). Cenário bem diferente do que a professora Priscila Rebeca Oliveira de Souza e sua família imaginavam para o dia de inauguração do espaço. No lugar do corre-corre das crianças e da luta das professoras para passar as lições, havia luto e dor. Isso porque a fundadora, Priscila Rebeca, foi morta com um tiro na cabeça na noite de terça (5), a menos de 12 horas antes de inaugurar o que era seu sonho. Priscila tinha 37 anos e era professora (Foto: Reprodução) Priscila tinha 37 anos, era professora na escola Flora Encantada, que ficava próxima à sua casa, e estudava Pedagogia. Ela era a irmã do meio entre três irmãos. O mais velho, Pablo Souza, 41, conversou com a reportagem do CORREIO e disse que toda a família mora em um mesmo prédio de dois andares, na Vila São José, localizada na Vila Canária. 

Pablo mora no andar superior. No de baixo, Priscila morava com a irmã mais nova, Pâmela Souza, a mãe, de 61 anos, e as duas filhas: uma de 10 anos e outra de apenas 2 meses. Neste mesmo andar funcionaria a creche, que seria inaugurada hoje. Todos estavam em casa quando o crime aconteceu. Irmão da vítima estava saindo do banho quando ouviu o disparo que matou a irmã do meio   (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Segundo Pablo, era por volta de 21h30 quando um homem bateu na porta da casa de baixo à procura de Priscila e alegou querer informações sobre as matrículas na creche. Pâmela abriu a porta e chamou a irmã, que prontamente foi à porta para esclarecer as dúvidas. Após passar as informações solicitadas, a professora virou de costas para o homem e retornaria para a sua casa, quando levou um tiro na cabeça. Em seguida, o criminoso fugiu. “Estava todo o mundo em casa. A filha [mais velha] dela e minha mãe estavam deitadas na cama junto com ela. Ela estava olhando a bebê. As duas filhas estavam com ela. Do lado dela, do lado mesmo. Minha irmã só fez levantar e aí aconteceu”, contou o irmão, abalado.Foi Pablo quem socorreu Priscila após o tiro. Imediatamente, ele pegou o carro e correu até a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de São Marcos. De lá, a professora foi transferida para o Hospital do Subúrbio, onde morreu.

Em nota, a Polícia Militar afirmou que duas equipes da 47ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Pau da Lima) estiveram no local, mas a vítima já havia sido socorrida. A PM afirmou ainda que fez buscas na região, mas nenhum suspeito foi encontrado. 

De acordo com Pablo, a irmã cursava o quinto semestre do curso de Pedagogia, na Unirb, graduação que a ajudaria no sonho da creche. Os próximos anos, esperava ela, seriam de realizações, com sua formatura e a consolidação da Pa Pri Pam, que lhe daria retorno financeiro e uma melhor qualidade de vida às filhas.“Todo o mundo na rua gostava dela. Era uma mulher muito querida. A primeira a ser chamada para as festas, para tudo. A dor é muito grande, mas eu sei que vamos encontrar os responsáveis por isso. Não vai acabar a dor, mas sei que será feita a justiça”, afirmou Pablo.Suspeito Familiares e amigos acreditam que o pai da filha caçula da professora, um ex-namorado identificado apenas com o apelido de Hulk, é o mandante do crime. Os dois estavam separados desde o sexto mês de gestação de Priscila.

Amiga da vítima, a estudante de logística Claudiane da Cruz, 23, contou que Priscila já chegou a ser agredida por ele - fato confirmado por Pablo, que contou ainda que, após um dos episódios de violência, a família orientou que Priscila procurasse uma delegacia para prestar queixa, o que não ocorreu.  Escola onde Priscila Rebeca Souza trabalhava fica ao lado da casa e da creche que a vítima construiu  (Foto: Vinícius Nascimento/CORREIO) Ainda segundo Claudiane, desde o nascimento da criança, Priscila e Hulk estavam envolvidos em uma batalha judicial, porque o pai não queria assumir a criança. Uma audiência estava marcada para esta quinta-feira (7), no Fórum de Nazaré, para iniciar uma conciliação sobre o caso. A amiga afirma ainda que o suspeito mantinha um outro relacionamento.

Outra amiga da vítima, que preferiu não ser identificada, afirmou que presenciou conversas entre Priscila e Hulk, onde ele afirmou que só assumiria a criança caso eles reatassem o namoro.“Ela não queria, tinha medo de ser agredida de novo. Ela estava disposta a criar a menina sozinha, era batalhadora e se esforçava para isso. A única coisa que estava pedindo é que assumisse a menina”, relatou a amiga.O CORREIO questionou a Polícia Civil sobre as linhas de investigação do crime e sobre a identidade do homem apontado como suspeito de ser mandante do assassinato, mas não obteve resposta. Em nota, a Polícia Civil afirmou apenas que o caso será investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que vai apurar autoria e motivação.

Comoção Nas redes sociais, muitos conhecidos da vítima escreveram mensagens de luto e prestaram homenagens. A escolinha onde trabalhava, que fica bem ao lado de sua casa, publicou uma nota de pesar para a antiga funcionária. “A Escola Flora Encantada com muito pesar comunica a perda tão precoce da querida professora Priscila Rebeca. Pedimos a Deus que conforte o coração dos familiares e amigos que tanto a amavam”, publicou a escola em uma rede social.Uma antiga aluna de Priscila escreveu: “A melhor professora que eu já tive se foi e eu não estou acreditando nisso. Pq isso aconteceu logo com vc?? Descanse em paz, pró! (sic)”.

Outra amiga, inconformada com a perda, tentou confortar quem sofre com a perda: “A vida e a morte decidem levar quem querem e resta ao amor e à amizade manter vivos aqueles que no nosso coração se tornaram imortais. Você é um deles, amiga! Deixa saudades eternas e muitos corações quebrados, mas também lindas lembranças que servem de consolo aos que ficam e sofrem com sua ausência. Até sempre, mh[sic] amiga. Boa professora amiga de infância. Obgd por ensinar meus filhos agora virou um anjo”.

* Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela