As prováveis desculpas de maio

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  • Elton Serra

Publicado em 29 de abril de 2018 às 08:00

- Atualizado há um ano

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Depois de um mexe e remexe nas tabelas, o Bahia descobriu que entrará em campo nove vezes no mês de maio. Encara Botafogo-PB, Sport, São Paulo, Palmeiras, Blooming e Flamengo, além de enfrentar três vezes o Vasco. Tudo isso por quatro competições distintas: Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Série A e Copa Sul-Americana. Um jogo a praticamente três dias.

O Vitória vive situação parecida e fará oito partidas no mesmo período, pelas Copas do Brasil e do Nordeste, além do Brasileirão: Fluminense, Vasco, Ceará, Botafogo, Internacional, Corinthians e Sampaio Corrêa, duas vezes, serão os rivais. Muitas viagens, pouco tempo de treinamentos. Desgaste físico e o mínimo de correções técnicas e táticas. Uma overdose de partidas que podem tirar ainda mais a qualidade do jogo.

Bahia e Vitória, na eleição para o presidente da CBF, votaram no candidato da situação, Rogério Caboclo. A opção mostra que os clubes estão satisfeitos com a atual administração, que começou com Ricardo Teixeira e passou pelas mãos de José Maria Marin e Marco Polo Del Nero, três dirigentes investigados por corrupção – Del Nero, inclusive, foi banido do futebol mundial pela Fifa. Uma entidade que estrangula o esporte mais popular do país com o apoio da maioria dos dirigentes, que entregam nas mãos da CBF o seu principal produto.

Maio não poderá ser um mês de reclamações por parte dos cartolas. Afinal, eles consentiram com tudo o que vem acontecendo no futebol brasileiro. Deixar que o calendário asfixie jogadores e coloque treinadores na berlinda é de responsabilidade dos clubes. Bradar sobre o excesso de partidas em 30 dias se tornará desculpa conveniente: é uma verdade, mas não dá razão aos gestores. A Copa do Mundo, uma das responsáveis por diminuir a quantidade de datas das competições nacionais, é uma muleta bem cômoda. Imagino, porém, que todos saibam que ela acontece de quatro em quatro anos, e que em 2018 teríamos mais uma edição. Planejamento é algo essencial em qualquer negócio.

Guto Ferreira já começou a sofrer com o desgaste de seu time em pleno mês de abril. Perdeu o zagueiro Tiago minutos antes de enfrentar o Botafogo-PB, e corre o risco de não ter o meia-atacante Marco Antônio nos próximos jogos. Vagner Mancini, durante a semana passada, foi obrigado a poupar atletas de treinamentos. São profissionais reféns do calendário, pois não têm o poder de decidir os rumos do esporte, apesar de serem capazes de mobilizar categorias. Enquanto o cenário permanece o mesmo, estão sujeitos a demissões em caso de uma sequência de resultados ruins.

Apesar das ações da CBF, que em tese diz qualificar o esporte no país, o futebol brasileiro continua sem ser discutido por todos que fazem parte dele. E o pior: seu estrangulamento tem a conivência dos clubes. Enquanto o calendário não tiver o equilíbrio necessário para privilegiar boas partidas, fazendo com que as datas Fifa sejam respeitadas e os técnicos possam ter tempo de trabalhar em busca da melhoria do jogo, veremos os torcedores se afastar dos estádios. Os interesses individuais, que ainda dominam as decisões da maioria dos cartolas, seguem estragando a chance de evolução. Por isso, cartola reclamar no mês de maio é hipocrisia. É jogar para a torcida. É camuflar a parcela de culpa que pertence a eles próprios.

*Elton Serra é jornalista e escreve aos domingos