Baía de Todos os Santos poderia abrigar transporte de passageiros do Comércio ao Subúrbio

Hidrovia do Rio São Franscisco é outra região de desenvolvimento hídrico pouco aproveitada na Bahia, segundo especialista

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  • Jorge Gauthier

Publicado em 16 de novembro de 2014 às 15:05

- Atualizado há um ano

Segunda maior e mais navegável do mundo, a Baía de Todos os Santos atualmente tem apenas a travessia Salvador-Itaparica pelo sistema ferry-boat como instrumento de navegação. “É muito pouco para o potencial de exploração que há nessa região. Acredito fortemente que devemos reconquistar o caráter fluvial e anfíbio do Brasil. A Baía de Todos os Santos e a Baía de Camamu poderiam puxar essa valorização da cultura construtiva de cidades flúvio-marítimas”, afirma o coordenador do Grupo Metrópole Fluvial da Universidade de São Paulo (USP), Alexandre Delijaicov.

O professor é um dos responsáveis pelo projeto Hidroanel, de despoluição e integração dos rios de São Paulo para o transporte de carga e de passageiros, além da criação de ilhas para a reciclagem dos resíduos sólidos.Para Delijaicov, há muito potencial para ser explorado nas hidrovias baianas (Foto: Evandro Veiga/CORREIO)Para o especialista, na Baía de Todos os Santos poderia ser implantado o transporte de passageiros para bairros de Salvador do Comércio ao Subúrbio Ferroviário, por exemplo. O novo modal ajudaria na mobilidade urbana da cidade, avalia.

A hidrovia do Rio São Franscisco é outra região de desenvolvimento hídrico pouco aproveitada na Bahia e no Nordeste, segundo o professor. “O eixo do São Franscisco que pega alguns estados, sobretudo a Bahia, é extraordinário para a navegação de cargas e passageiros. É a bacia totalmente brasileira. Os governos têm que ter um empenho para fazer essa hidrovia funcionar”, sugere.

Competitividade

No São Franscisco, atualmente, há obras de dragagem sendo realizadas em 21 pontos para possibilitar a navegação, inclusive no período onde há pouca oferta de água no rio. “A integração entre rodovias, hidrovias e ferrovias facilitaria a distribuição logística de produtos de consumo nas cidades”, destaca.

Para Delijaicov, as cidades tenderam, ao longo da história, a construir canais cobertos e ignorar os potenciais de navegação. “Poderíamos, em vez de tampar o rio, investir na navegação fluvial. Isso seria diferencial competitivo, por exemplo, para o transporte de cargas públicas”, ressalta. Dentre essas cargas, com potencial transporte pelas hidrovias, estão o sedimento de dragagem, o lodo das estações de esgoto, entulhos, movimento de terras e escavações.

HidroanelProjeto do Hidroanel em São Paulo: integração com moradores (Imagem: Divulgação)Delijaicov integrou o grupode professores que desenvolveu o projeto do Hidroanel, em SãoPaulo. A ideia é criar – com investimento médio de R$ 2 bilhões - uma rede de vias navegáveis formada pelos rios Pinheiros e Tietê e pelas represas Billings, Taiaçupeba e Guarapiranga, que irão integrar mais de 170 quilômetros de hidrovias urbanas.

Com pelo menos três canais (um central de navegação e drenagem e outros dois, às margens, com túneis para o esgoto), o Hidroanel teria ainda a facilidade de integrar a população nessas regiões. “Os rios das metrópoles precisam também ser pensados como locais de uso para as pessoas também”, argumenta.

A proposta do projeto paulista é despoluir especialmente os rios, especialmente oTietê, para criar rotas de transporte de carga e de passageiro em 17 cidades. Ao longo dos rios também serão instaladas “ilhas” de reciclagem de resíduos sólidos. “É como se entrasse a linguiça e saísse o porco”, brinca, sobre a possibilidade de reaproveitar o lixo.[[saiba_mais]]