Baiano Elieser Cesar retorna à poesia em novo livro

Publicação reúne mais de 100 textos do escritor e jornalista, sobre temas como solidão, morte e nascimento

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  • Da Redação

Publicado em 21 de março de 2018 às 05:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Laureano Teófilo/divulgação

O jornalista e escritor baiano Elieser Cesar - que já atuou como repórter no CORREIO - demorou 20 anos para publicar seu segundo livro de poemas. É que, segundo o poeta, "o poema não é como um pão que sai do forno e deve ser servido imediatamente, mas um artefato que precisa ser posto em uma espécie de 'quarentena' sem prazo determinado, a fim de ver se sobrevive à releitura sob o crivo do tempo".

Finada a quarentena, eis que está pronto Ciranda de Maria Cecília (Candeeiro/144 págs.), uma coleção de pouco mais de 100 textos sobre os mais diversos temas. "Como foram produzidos ao longo de um tempo, acaba sem ter uma temática. Tem uns mais leves, que até o público infantil pode ler. Já outros são mais profundos e abordam a solidão, o desamparo ou a morte", explica Elieser.

Um desses textos singelos, que pode agradar às crianças, é Das Coisas Simples da Vida. O poeta lembra como se inspirou: "Uma vez, acordei e vi um passarinho entrando no ninho, algo bem trivial, muito simples, mas de beleza transcendente. O poema então veio pronto e fiz na hora, para não deixar passar, porque às vezes a gente esquece".

Ficam claras também algumas influências de poetas por quais Elieser tem admiração, como em Metas, que diz: "Minha meta é não estabelecer meta nenhuma/ Para que haveria de estabelecer metas?". Quando terminou de escrevê-lo, Elieser notou certa semelhança com Tabacaria, de Alberto Caeiro (heterônimo de Fernando Pessoa): "Não sou nada/ Nunca serei nada/ Não posso querer ser nada". Daí, deu um subtítulo: "À maneira de Pessoa".

Há também outro que lembra Cecília Meireles, Fotografia, que abre o livro: "Ó, mundo, sopro abstrato! / Já não sei se vivi, ou se sonhei, esse retrato". "A transitoriedade da vida, a fugacidade, são elementos 'cecilianos'", observa Elieser, que, com esse texto, venceu o Prêmio Damário Cruz de Poesia em 2013, oferecido pela Fundação Pedro Calmon. 

O contraponto entre vida e morte estão presentes em dois poemas: Cirandas faz referência ao nascimento da filha de Elieser, Cecília, que hoje tem oito anos; já Lourdes, dedicado à mãe do poeta, é um réquiem que encerra a publicação. "Cirandas é um poema anunciatório, mais ou menos como faz Alceu Valença em Anunciação (Tu vens/ Tu vens/ eu já escuto teus sinais)", observa Elieser. 

Foi a filha Cecília também que inspirou o título do livro. A primeira publicação de poemas de Elieser foi batizada Os Cadernos de Fernando Infante, em homenagem ao primogênito do escritor, que hoje tem 27 anos. "Resolvi, desta vez, homenagear Maria Cecília. Assim, não tem queixa em casa", brinca o escritor.

Elieser nasceu em Euclides da Cunha e aos cinco ou seis anos de idade mudou-se para Feira de Santana, onde, mais tarde, começou a envolver-se com o meio literário. Começou a publicar na revista Hera, que, segundo ele, durou em torno de 30 anos e foi uma das mais longevas publicações brasileiras regulares dedicadas à poesia. Ali, esteve ao lado de escritores como Roberval Pereyr, Juraci Dórea e Washington Queiroz. "Comecei a escrever na Hera em 1997, mais ou menos e fui da terceira geração da revista. Era uma publicação resistente, porque a maioria desse gêneros já nasce morta".