Bel Borba é primeiro brasileiro com obra digital certificada em leilão internacional

'O mundo está mais digital do que nunca', diz o artista baiano

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  • Luana Lisboa

Publicado em 3 de junho de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Quanto vale um meme? Ou um arquivo de áudio? É difícil mensurar o valor de uma mídia digital, mas o NFT torna possível. Essa é uma sigla para “Tolken Não-Fungível”, que dá valores a bens de complicada valoração e, por isso, também permite a troca desses bens, como as obras de arte. Realidade nos maiores mercados do mundo há sete anos, os leilões de produtos e artes digitais em NFT movimentam bilhões de dólares e acabaram de chegar no Brasil e, simultaneamente, em solo baiano.

De sábado até o dia 20 de junho estará à venda o quadro “Fronteira Físico/Digital”, do artista plástico baiano Bel Borba, através da plataforma da startup também baiana InspireIP. Aos 63 anos, é a primeira vez que o soteropolitano produz uma obra híbrida para os ambos os meios físico e digital e para ser leiloada em NFT, à convite da empresa.

E quem fizer o lance mais alto e conseguir levar a criação, leva também fragmentos físicos da obra. O artista plástico dividiu a criação em 100 pedaços, para que o comprador leve mais do que o certificado digital de propriedade. É que o NFT, atrelado a um "bem", dá a ele um atestado de originalidade. Cada parte custará o equivalente a R$ 3,2 mil.“A empresa me chamou e disse: 'Você vai ser o primeiro artista brasileiro a utilizar essa tecnologia e queremos inaugurar com você'. Foi muito bem-vindo, pra mim é uma honra. Eu não sou um típico artista digital, sou escultor, mas há mais de 20 anos que eu lido com esse recurso. O mundo está mais digital do que nunca, então fiz essa tela já sensível e suscetível aonde eu estava adentrando”, explica o artista plástico.A pintura, inspirada no momento em que estamos vivendo, foi fotografada por Alberto Lira, em altíssima resolução. A ideia é que cada uma das pessoas que adquiram um pedaço, que tem dimensão de 17 cm por 15 cm, virem sócias da arte. A intenção de entregar um fragmento físico junto ao digital foi do próprio Borba. Bel Borba dividiu a obra em 100 partes (Foto: Divulgação) “Abri mão da integridade física da obra para que hoje ela só exista, na íntegra, no plano digital. No plano físico, ela só existe dividida em 100 pedaços. É a primeira vez que faço isso, com essa sofisticada tecnologia para ter uma certificação de alta qualidade. Essa qualidade é a mesma que garante a integridade e autenticidade da criptomoeda, é a mesma tecnologia”, conta.

Quem também garante isso é a CEO e fundadora da Inspire IP, Caroline Nunes. A ideia do leilão foi inspirada pelo caso de sucesso da casa de leilão inglesa Sotheby’s. Eles conseguiram arrecadar cerca de 10 milhões de dólares em obras de arte em NFT em apenas 15 minutos. E como Caroline já apreciava a obra do soteropolitano, escolhê-lo não foi difícil.“O NFT é uma tecnologia que chega para atribuir escassez ao universo digital. Já estamos trabalhando com outros artistas, como o roteirista da Turma da Mônica, o grupo musical JetLag, mas o leilão nunca foi feito antes. Escolhi o Bel Borba para isso porque ele representa Salvador e eu queria muito que o primeiro leilão do Brasil tivesse raízes aqui”, esclarece a CEO.O leilão em NFT 100% brasileiro é uma iniciativa da empresa InspireIP Collectibles em parceria com a Nordeste Leilões.

Mas será que isso é uma tendência para o mundo artístico? O economista da empresa Arazul, Patrick Duarte, explica a relação entre o NFT e o mundo da arte.

“O que tem acontecido bastante é essa tendência de você poder comprar um pedacinho da obra de arte, dessa propriedade. Você não compra a obra, é o direito à imagem. É como ir no cartório para registrar um pedaço da propriedade, não ela inteira”.

Para ele, o atrativo está para além de uma questão especulativa, mas também é o sentimento de fazer parte daquilo. “O atrativo pode até ser uma questão especulativa, de comprar para revender quando ela estiver mais cara, mas também pode ser simplesmente participar. Pensar ‘eu tenho um pedaço da história desse artista, eu fiz parte disso’”, finaliza.

*Luana Lisboa, com orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo