Beth Carvalho morre no Rio aos 72 anos

Cantora estava internada desde 8 de janeiro

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  • Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2019 às 18:18

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Beth Carvalho ficou internada por um ano e meio para tratar um problema na coluna (Foto: Divulgação) A cantora Beth Carvalho, 72 anos, morreu no Rio de Janeiro na tarde desta terça-feira (30). A 'Madrinha do Samba', como era conhecida, estava internada no Hospital Pró-Cardíaco, na Zona Sul da capital fluminense, desde o início de 2019.

Também compositora, ela começou a cantar com oito anos de idade. Na carreira profissional, tinha 50 anos e era um dos maiores nomes do samba. Segundo o portal G1, ela tinha um problema na coluna. A causa da morte, no entanto, ainda não foi divulgada.

Em 2009, Beth Carvalho chegou a cancelar sua apresentação no show de Réveillon, na Praia de Copacabana, por causa de fortes dores, e, em 2012, se submeteu a uma cirurgia na coluna.

Em 2010, a cantora foi homenageada pela escola de samba Acadêmicos do Tatuapé, no Carnaval de São Paulo, mas não participou do desfile já por motivos de saúde. Lu Carvalho, sobrinha de Beth, foi quem representou a tia na ocasião.

Volta à Bahia  Após passar um ano e meio internada por conta dos problemas na coluna, ela voltou, em 2016, para um show na Bahia que teve como tema o samba baiano.

Antes, em 2007, ela já havia gravado, no Teatro Castro Alves, o DVD/CD Beth Carvalho Canta o Samba da Bahia, só com composições de sambistas do estado, como Riachão, Ederaldo Gentil, Roque Ferreira e Nelson Rufino.

Outros artistas importantes da Bahia, como Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Caetano Veloso e Gilberto Gil, também já fizeram parcerias com a sambista.

História Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio em 1946. A paixão pela música ela herdou da família. Sua avó tocava bandolim e violão. Desde criança, ouvia Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, que eram grandes amigos de seu pai e que ele recebia em sua casa. E ali Beth ouvia, atenta, aos convidados do pai - e à cantoria. 

Na adolescência, cantava bossa nova e outros ritmos em festas e, para ajudar a família, após o pai ser perseguido na ditadura por seus pensamentos de esquerda, ela passou a dar aulas de violão. Não por acaso, herdou do pai a postura engajada por toda a vida.

Gravou o primeiro compacto em 1965, com a canção 'Por Quem Morreu de Amor', de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Nos anos seguintes, seguiu a trilha dos festivais. 

Seu primeiro sucesso foi Andança, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, que ela defendeu no Festival Internacional da Canção, em 1968, e com o qual conseguiu o 3º lugar. A música também deu título ao seu primeiro LP, que foi lançado em 1969. Emendou outros sucessos na sua voz, como o hino 'Vou Festejar', e eternizou 'Coisinha do Pai'. 

Na década de 1970, foi ao encontro dos mestres, ao gravar 'Folhas Secas', com Nelson Cavaquinho, e 'As Rosas Não Falam', de Cartola. Dois momentos sublimes em sua carreira. 

Ficou conhecida também sua presença assídua na quadra Cacique de Ramos, onde Beth identificava talentos no samba e os revelava, como aconteceu com nomes como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre tantos outros. Daí a alcunha de 'madrinha do samba'.

"Quem levou Beth Carvalho pro Cacique foi o Alcir Portela, que era jogador naquela época. Ela se apaixonou pelo samba tocado embaixo da Tamarineira. Gostou tanto que resolveu gravar com a gente em estúdio, no formato da nossa roda de samba", contou, em seu site, o cantor, compositor e percussionista Bira Presidente, integrante do Fundo de Quintal. 

Beth Carvalho não renegava o posto de madrinha, da grande matriarca, mas preferia não ter essa função. Gostaria que os talentos tivessem outros tipos de incentivo e oportunidades para se expor. "Não é meu papel, mas sou assim, gosto de mostrar o que há de bom", disse, certa vez, em entrevista ao Estado. 

Mangueirense de coração, foi homenageada por outras escolas de samba: foi tema de enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçú, 'Beth Carvalho, a enamorada do samba', em 1984, e recebeu da Velha Guarda da Portela uma placa comemorativa por ela ter sido a cantora que mais gravou seus compositores. 

Em 2009, no Grammy Latino, ganhou o prêmio Lifetime Achievement Awards, em celebração à sua carreira. No mesmo ano, precisou fazer uma pausa por causa de uma fissura na região sacra, que a obrigou a ficar em repouso total. Voltou aos palcos no dia 19 de fevereiro de 2011, no show de encerramento do evento Sesc Rio Noites Cariocas. Poucos meses depois, em abril, a cantora se apresentou em São Paulo e, na ocasião, disse ao Estado que havia se surpreendido consigo mesma após passar 1 ano e meio convalescendo em cima de uma cama. "Tive paciência de Jó. Contei com o apoio dos amigos e da família. Toda hora tinha pagode em casa", contou ela, à época. 

Apesar de a cantora se manter na estrada, suas condições físicas foram piorando. Em 2018, fez apresentações deitada. Por causa das dores, não conseguia ficar sentada. E emocionou as plateias. No final do ano passado, foi morar com a filha, a cantora e compositora Luana Carvalho, fruto de seu relacionamento com o jogador Édson de Souza Barbosa, mais conhecido como Édson Cegonha. 

Ao jornal O Estado de S. Paulo, na época do lançamento de seu trabalho de estreia, o disco duplo 'Sul' e 'Branco', em 2017, Luana não negou que seu maior desafio talvez estivesse relacionado ao fato de ser filha de Beth Carvalho. Ter como mãe uma grande intérprete como ela lhe deu menos direito ao anonimato, tampouco licença para se lançar crua na carreira musical.

"Para eu aparecer com as minhas canções, sendo filha de uma pessoa que já tem um trabalho muito conhecido, talvez o mais delicado seja o quanto você precisa chegar com um senso estético já muito bem apurado, com uma proposta um pouco mais concreta, mas afinal são muitas vantagens também", disse Luana. 

Nas cinco décadas de carreira, Beth reuniu uma discografia de 33 discos e 4 DVDs - e muitos prêmios, homenagens e troféus conquistados ao longo de toda uma vida dedicada ao samba.