Brasil fornece vacinas para gado da Venezuela

Operação conjunta com país vizinho visa proteger rebanho brasileiro 

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  • Georgina Maynart

Publicado em 16 de novembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Esta semana, pela primeira vez na história, o Brasil começou a realizar uma operação conjunta com a Venezuela para reforçar a proteção do rebanho bovino brasileiro contra a febre aftosa. Veterinários brasileiros, ligados ao Ministério da Agricultura, foram autorizados a entrar no país vizinho para vacinar o gado de sítios e fazendas que ficam na região da fronteira com o estado de Roraima.

Os primeiros a serem vacinados, através da operação binacional, foram 18 animais de um Sítio na comunidade indígena de Acurimã, município de Sabana. Em uma semana de operação, mais de 400 animais já receberam a vacina.

A Venezuela é o único país das Américas ainda não reconhecido como livre de febre aftosa pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), e vem sendo considerado uma das principais ameaças à saúde do rebanho bovino brasileiro.

No fim do ano passado, a Colômbia também perdeu o status de livre da doença depois que casos foram identificados na fronteira oeste com a Venezuela.

Interesse

A operação conjunta é considerada de interesse de toda a América do Sul, em especial para os brasileiros. O Brasil é o país que possui o segundo maior rebanho bovino do mundo, são mais de 226 milhões de cabeças. Cerca de 22,6% do total de animais bovinos do planeta. Este foi um dos motivos que levou o setor privado brasileiro a doar para a Venezuela 21 milhões de vacinas. As doses estão sendo administradas pelos dois países.

“Não é simplesmente uma questão humanitária, mas de estratégia e segurança. Existe um plano hemisférico de combate à doença”, afirma Guilherme Marques, diretor do Departamento de Saúde Animal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e delegado do Brasil na OIE.

A atuação conjunta foi autorizada através de uma resolução da Comissão Sul Americana da Luta contra a Febre Aftosa (Cosalfa), assinada em abril do ano passado. A resolução reconheceu a necessidade dos 13 países membros apoiarem a Venezuela sob a coordenação do Centro Panamericano de Febre Aftosa (Panaftosa), em parceria com o Instituto Nacional de Saúde Animal Integral da Venezuela.

O plano prevê três vacinações anuais no país vizinho e a imunização de mais de 15 milhões e 450 mil cabeças. A vacinação abrange uma zona de proteção de 180 quilômetros quadrados a partir de Pacaraíma, Roraima. A zona delimitada inclui, principalmente, uma linha de fronteira de 33 quilômetros, na divisa com Gran Sabana, município de Bolívar, que é o maior estado da Venezuela.

A estimativa é de que o cenário epidemiológico da região andina se altere em dois a quatro anos. "Nessa zona de proteção estabelecemos medidas de controle mais severas. As ações são mais fortes, mais incisivas do que no restante do estado de Roraima. Estamos contribuindo para que a Venezuela alcance a condição de livre da aftosa. Até chegarmos lá precisamos da zona de proteção como uma medida adicional a todo o trabalho que já é realizado nessa região de fronteira”, explicou Marques.

As equipes com técnicos e médicos veterinários estão se movimentando pelo país vizinho em carros com placas anotadas pelo Exército e com permissão de trânsito livre. Elas foram autorizadas ainda a transportar óleo diesel nas caçambas, já que a Venezuela enfrenta racionamento de combustível.

Bahia: Apenas 15% declararam vacinação

Faltando pouco mais de duas semanas para terminar o prazo de vacinação do gado contra a febre aftosa na Bahia, apenas cerca de 15% dos pecuaristas do estado declararam ter aplicado a vacina no rebanho. Os dados fazem parte de um balanço parcial da Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (ADAB).

Os números estão dentro do previsto pelo órgão de defesa agropecuária. “Em geral os pecuaristas deixam para fazer a vacinação no fim do prazo e este número deve crescer nos próximos dias. Muitos aproveitam o feriado para ir até as propriedades, fazem a vacinação, e só depois vão declarar”, diz Rui Ferreira Leal, diretor de Defesa Animal da ADAB.

Depois de vacinar, o pecuarista tem 15 dias para fazer a declaração através do site da ADAB. A segunda fase da campanha vai até o dia 30 de novembro, portanto, as declarações podem ser apresentadas até 15 de dezembro.

Nesta segunda etapa de vacinação devem ser vacinados os bovinos e bubalinos com até dois anos de idade.

O rebanho total do estado ultrapassa as 10 milhões de cabeças. Desta vez, o objetivo é vacinar mais de três milhões e quatrocentos mil animais. A outra parte já foi vacinada na primeira fase da campanha, em maio, quando o índice de vacinação chegou a 93,55% do esperado.

A Bahia é reconhecida internacionalmente como livre de aftosa com vacinação desde 2001. O estado precisa continuar mantendo este status, para alcançar condições de ser considerado zona livre sem vacinação, uma meta prevista para 2021.

“O nosso objetivo é manter o status de zona livre de febre aftosa concedido à Bahia, pela Organização Mundial de Saúde Animal, pelo 17º ano consecutivo. Essa meta estabelecida garante a manutenção de índices vacinais superiores a 90% e o cumprimento semestral das metas exigidas pelos organismos internacionais”, ressalta Leal.

A multa para os pecuaristas que não vacinarem durante a campanha, e nem declararem a vacinação, é de R$ 53 por cabeça,e de R$ 160 por propriedade. Os proprietários ficam impedidos também de vender ou transportar o rebanho. A declaração pode ser feita através da internet, no site da ADAB, até 15 dias após a vacinação.

Doença

 A febre aftosa é uma doença contagiosa, que afeta animais de casco fendido, como os bois, búfalos, cabras, ovelhas e porcos. A doença pode ser transmitida pelo contato entre os animais doentes e sadios. O vírus pode ser transportado ainda pela água, ar, alimentos, pássaros e pessoas que entrem em contato com animais doentes. A aftosa provoca restrições sanitárias e comerciais ao estado e ao país, além de desvalorização no preço da arroba. Além disso, pode causar embargos comerciais a outros produtos, como o farelo de soja, e gerar entraves para a exportação de carne.