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Capela do Corpo Santo é entregue restaurada após 9 anos fechada

Templo religioso foi construído no século XVIII

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  • Nilson Marinho

Publicado em 28 de maio de 2018 às 18:24

 - Atualizado há um ano

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. por Foto: Evandro Veiga/CORREIO

Os ventos e a chuva estavam contra o marujo. O tempo nada ajudava. Uma tempestade chegava à Baía de Todos os Santos, e o espanhol Pedro Gonçalves, a bordo da sua nau, prestes a desembarcar em terras baianas, só queria um livramento daquele mau tempo. Vindo de terras tão distantes, do outro lado do continente, do velho mundo, Pedro, já cansado, pediu a ajuda ao santo que o nomeava: Pedro Gonçalves Telmo, em castelhano, Pedro González Telmo. Se chegasse vivo em solo firme, pediu o marujo, construiria uma capela em homenagem ao santo. 

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O marujo chegou à costa vivo, e a capela São Pedro Gonçalves do Corpo Santo foi construída em 1711 como forma de agradecimento. Na manhã desta segunda-feira (28), três séculos depois de sua construção, o espaço religioso reabriu depois de ficar por 9 anos fechado para restauração, após a Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba) e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) firmarem uma contrapartida.

A Codeba precisava, em 2010, de uma licença ambiental para a execução de uma dragagem no Porto de Salvador, e o Iphan sugeriu que a companhia bancasse a restauração da capela que sofria com a ação do tempo. No total, foram investidos R$ 3,5 milhões pela Codeba.  Igreja foi restaurada com um investimento de R$ 3,5 milhões (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) História e problemas Voltando para o tempestuoso dia, Pedro, após chamar pelo santo, viu, em sua frente, a imagem do divino bem em cima da proa da nau. Era um sinal de que o marujo chegaria vivo à costa e de que o santo escutava os chamados dos seus fiéis. 

Diógene Santos, membro da irmandade São José do Corpo Santo, lembra que o espaço precisava de uma restauração urgente. A nave da capela ameaçava cair, e os animais faziam o lugar de morada."Tinha muitos cupins destruindo tudo e era cheio de pombos por todos os lados fazendo a maior sujeira. Vivíamos combatendo isso, colocando remédio para espantar, mas não resolvia", lembra o membro da irmandade.  Em 2016, quando a intervenção começou a ser feita, as celebrações, como missas, batizados e casamentos, deixaram de acontecer, e os fiéis passaram a frequentar a Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, também no Comércio.  Missas voltarão a ser celebradas no local no dia 18 de julho (Foto: Evandro Veiga/ CORREIO) A devota Maria Conceição, 80, membro da irmandade, só ficou mais tranquila em deixar a capela porque a imagem de São Pedro Gonçalves também foi levada para Conceição da Praia durante as obras. A imagem retorna para a capela no dia 18 de julho."Foi difícil ficar longe daqui, a capela é como a nossa casa. O que deixou o meu coração mais tranquilo foi saber que a imagem do santo estaria lá (Conceição da Praia). Está tudo tão lindo, nem parece aquele mesmo lugar", comemora Maria. Devoção  Além de São Pedro Gonçalves, na capela também se venera São José. Todas as quartas-feiras, inclusive, eram celebradas missas em homenagem ao santo. Cerimônias que passam a acontecer novamente após o dia 18 de julho. Depois dessa data, o local ficará aberto para visitação todos os dias, sempre até as 17h.

Quem passa a assumir o templo religioso é o padre José Abel Carvalho Pinheiro, nomeado, durante a cerimônia de entrega do espaço, como capelão. Padre Abel deixa claro que ainda continua à frente da Igreja do Santíssimo Sacramento e Sant’Ana, no bairro de Nazaré, e que seu papel no Corpo Santo é de presidir as cerimônias religiosas. "A entrega dessa capela vai agregar valores para que essa comunidade se sinta mais em casa, tendo essa igreja como a sua referência a sua casa, o lugar do seu culto", disse Padre Abel. Recuperação Durante as obras, a equipe técnica do Iphan que executou a recuperação fez a descoberta do revestimento padrão em ouro nas molduras do forro da nave, ocultado sob várias camadas de tinta branca.

Também foi encontrado o primeiro arco cruzeiro da Igreja, que separa a nave da capela-mor, confeccionado em pedra, além de uma pintura escaiole ocre e tirantes metálicos de amarração estrutural da nave.

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A obra incluiu também a recuperação de revestimentos internos e externos, assoalhos, bem como um novo sistema de instalação elétrica e sensor de combate a incêndios.

 O arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger, disse que, com a capela pronta, o soteropolitano ganha mais um espaço de referência cultural e religiosa. "Não tem outra cidade na América Latina que tenha um patrimônio artístico e religioso como Salvador, mas um patrimônio que foi sendo deixado de lado, se deteriorando. Com isso, o povo vai perdendo referências. Reabrindo, estamos dizendo para o povo: 'Aqui está mais uma riqueza que a cidade tinha escondida'", afirmou Dom Murilo. *Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier