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‘A gente não ensina para que todos aprendam’: diz ex-diretora do Banco Mundial sobre taxa de analfabetismo na Bahia

Estado tem o 9º pior desempenho do país, segundo o IBGE

  • Foto do(a) author(a) Maysa Polcri
  • Maysa Polcri

Publicado em 18 de maio de 2024 às 13:30

Sala de aula
O número de analfabetos corresponde a 12,6% da população baiana Crédito: Joel Rodrigues/Agência Brasil

Uma em cada dez pessoas de 15 anos ou mais, na Bahia, não sabe ler e nem escrever. É o que revelam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), através do módulo Alfabetização, do Censo 2022. Mas essa não é uma novidade para o estado, que caminha a passos lentos para universalizar a educação para seus habitantes. Há 31 anos, a Bahia tem o maior número absolutos de pessoas analfabetas no Brasil.

Para Cláudia Costin, que foi Diretora Sênior para a Educação no Banco Mundial, entre 2014 e 2016, uma série de fatores ajuda a explicar por que a Bahia e o Brasil ainda têm dificuldades em alfabetizar a população. Enquanto a taxa de analfabetismo no país é de 7%, a baiana é de 12,6%.

“Se a gente comparar com outros países, o avanço aqui foi muito mais lento. O Brasil demorou muito para colocar todas as crianças no ensino primário, o que só aconteceu na última década do século XX”, contextualiza Cláudia Costin, que é presidente do instituto Singularidades, que forma professores.

 Cláudia Costin fundou e dirigiu o Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas
Cláudia Costin fundou e dirigiu o Centro de Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas Crédito: Divulgação

Desde que as portas das escolas primárias foram alargadas e passaram a atender grande parte da população baiana, o número de crianças analfabetas diminuiu, mas o estado se mantém nas mesmas posições do ranking nacional de 12 anos atrás. Entre 2010 e 2022, a taxa de analfabetismo na Bahia recuou de 16,6% para 12,6%. A redução ocorreu em todos os 417 municípios baianos.

“Mesmo com a universalização do acesso às escolas, ainda existem analfabetos com anos de escolaridade, porque não mudamos a forma de atuar dentro das escolas. A gente não ensina para que todos aprendam. A política educacional tem uma abordagem pedagógica que o papel do professor é ser um fornecedor de aulas e não um assegurador de aprendizagem para todos”, ressalta Cláudia Costin.

Ela lembra ainda que o analfabetismo e a sua evolução no tempo também se mostram desiguais por cor ou raça. Se entre os brancos, a taxa de analfabetismo é de 11,3% na Bahia, para os pardos é de 12,7% e, para os negros, 13,3%.

“Um outro fator também chama atenção na Bahia, que é o recorte étnico-racial. Há mais analfabetos negros do que brancos e pardos, mesmo o estado tendo uma grande concentração de população negra”, lembra Cláudia Costin. A educação tem impactos no rendimento médio dos baianos. Pessoas brancas no mercado formal faturam três vezes mais do que os negros que estão na informalidade, segundo dados do Censo 2022.

A necessidade de dividir o tempo entre trabalho e estudos reflete na maior evasão escolar e, consequentemente, no analfabetismo. “Não é raro que as crianças e adolescentes negros se sintam inferiorizados ou, por vezes, que os professores olhem para essas cirnaça cosmo alguém que têm menos condições de aprender”, diz. Entre os homens, a taxa de analfabetismo é de 13,8%, maior do que entre as mulheres baianas, que é de 11,5%. 

Enquanto a crise na educação baiana amarga, uma política educacional que ficou conhecida como “aprovação em massa” é criticada por professores. A portaria 190/2024, da Secretaria de Educação do Estado da Bahia, possibilita que estudantes avancem mesmo reprovados em disciplinas e com falta de aulas. A medida, segundo especialistas, tenta melhorar os índices de educação no estado de forma indevida.

"A educação de jovens e adultos pode ser uma maneira de endereçar esse problema. Todo jovem que for deixado para trás precisa ter uma chance de novo, mas a taxa de desistência dessa faixa etária é muito grande. Precisamos de novas maneiras de lidar com essa educação, provavelmente associando a recuperação de aprendizagens perdidas com uma formação técnica, que dê a sensação de que o adulto poderá logo melhorar de vida", indica Claúdia Costin. 

A Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC) foi questionada, através da assessoria de impresa, sobre o estado ter o maior número absoluto de pessoas analfabetas do Brasil. Até a publicação desta matéria, a pasta não se manifestou. A reportagem será atualizada assim que o Governo da Bahia se posicionar sobre o assunto. 

Em nota enviada à imprensa após a divulgação dos dados pelo IBGE, o Governo da Bahia comemorou os resultados, destacando que o estado tem a menor taxa de analfabetismo do Nordeste e a redução do analfabetismo em todos os municípios baianos.

“Para atingir este público adulto, a Secretaria de Educação do Estado (SEC) tem atuado por meio de diferentes iniciativas. Uma delas é o Projeto Estadual Paulo Freire, que possibilita alfabetizar jovens, adultos e idosos matriculados nas redes municipais de educação”, disse.

“Ainda neste sentido, outro trabalho realizado pela Secretaria da Educação do Estado para reduzir o analfabetismo entre a população mais velha é o programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). Hoje, na Bahia, há cerca de 125 mil pessoas matriculadas nesta modalidade de ensino, oferecida em 1025 escolas, de 403 dos 417 municípios baianos”, completa a pasta.