Caso Henry: relatos chocantes traçam perfil de Dr. Jairinho

Após morte do garoto, surgem mais depoimentos de agressões do vereador a crianças

Publicado em 3 de abril de 2021 às 07:00

- Atualizado há 10 meses

. Crédito: Reprodução/ TV Globo

Relatos de novas vítimas de Dr. Jairinho (Solidariedade), padrasto do menino Henry, encontrado morto com vários ferimentos no corpo, no último dia 8, no Rio de Janeiro, começam a traçar um perfil perverso do vereador de 43 anos. Trocas de mensagens e um depoimento de uma terceira vítima, divulgados pela Revista Veja, apontam que o homem educado, gentil e generoso na aparência, tinha um temperamento violento e até mesmo sádico na intimidade. 

Até o momento, a polícia já ouviu 16 pessoas. Entre elas, uma ex-namorada, mãe de um menino de 5 anos, que se relacionou com Jairinho entre 2014 e 2016. Na delegacia, ela negou a ocorrência de maus-tratos. Essa mulher recebeu um telefonema do vereador horas depois da morte de Henry. À polícia, ela disse que Jairinho não falou sobre a tragédia na ligação.

No entanto, a revista localizou uma amiga da ex-namorada que falou ter conhecimento dos episódios de violência. Segundo a amiga, em um dos episódios, Jairinho tentou dopar a ex-namorada em um hotel. “Minha amiga acordou grogue e deparou com o menino [filho da ex-namorada] chorando e o namorado o forçando a tomar banho de banheira”, revelou. Ainda de acordo com a amiga, ela viu o menino “chorando e tremendo” por diversas vezes só de ouvir o nome “tio Jairinho”.

Em outro relato à revista, a amiga contou que o vereador arranjava motivos para sair sozinho com o menino, que voltava parecendo ter passado “por sessões de tortura”. Em uma das vezes, o garoto retornou com o rosto desfigurado e com os olhos roxos e a explicação do vereador foi que ele havia caído de cabeça. A amiga da ex-namorada de Jairinho também contou que a mulher segue em contato com ele. 

Outra ex-namorada de Jairinho deu um dos depoimentos mais assustadores. Segundo ela, que já prestou depoimento à polícia relatando os ataques a filha que hoje tem 13 anos, o relacionamento com o vereador ocorreu de 2010 a 2013. A mulher contou que ele também criava pretextos para sair sozinho com a menina, que na época tinha 4 anos. A filha sempre contava que o “tio” torcia seus braços e pernas e lhe dava cascudos. 

Em um episódio, a menina contou a mãe que foi levada a um local em que o quarto tinha uma cama e uma piscina – que pela descrição parece ser um motel – e que Jairinho teria despido ela e, de sunga, entrou com ela no boxe, abriu o chuveiro e bateu várias vezes com a cabeça dela na parede. A ex-namorada também contou que ele teria afundado a cabeça da menina na piscina com os pés. A mulher disse que só resolveu contar tudo agora porque, após a morte de Henry, ela recebeu um telefonema em tom de ameaça do vereador, com quem não falava há oito anos.

‘Faz outro filho’ O pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida, falou à que o filho também tinha reclamado que o “tio Jairinho abraça muito forte” e que batia nele. Segundo o engenheiro, Monique Medeiros, mãe do menino, teria dito que seria invenção do menino e reflexo da separação. Ele também revelou que o filho mudou de comportamento quando começou a morar com o vereador. 

Semanas antes de morrer, Henry havia começado a frequentar uma psicóloga. Leniel lembrou também que, ainda no hospital, logo após ter sido declarado o óbito do filho, Jairinho falou pra ele, diante de duas testemunhas: “vamos virar essa página, vida que segue. Faz outro filho”. Médicos que atenderam Henry revelaram à Veja que Jairinho não queria que o corpo fosse periciado.

Jairinho é filho do Coronel Jairo, ex-deputado estadual apontado na CPI das Milícias de 2008 como um dos líderes da temida Liga da Justiça. Há suspeitas, inclusive, do envolvimento do próprio vereador com a quadrilha de milicianos em que ele teria participado de uma sessão de tortura de jornalistas em uma favela.MP TERIA ELEMENTOS PARA PEDIR PRISÃO O Ministério Público do Rio avalia que tem elementos suficientes para denunciar e pedir prisão do vereador Dr. Jairinho pela morte do menino Henry. As informações são da coluna de Guilherme Amado, da Época. O vereador afirma que é inocente. Ele e a mulher, Monique, dizem que ela achou Henry desacordado ao lado da cama na madrugada. O menino foi socorrido para um hospital, mas já chegou sem vida. Em nota, o MP diz que aguarda acesso ao inquérito para analisar documentos como laudos necroscópicos, de materiais apreendidos e da simulação reproduzida, que foi feita na quinta-feira sem participação  de Jairinho e Monique.LIGAÇÃO PARA GOVERNADOR O colunista Lauro Jardim, de O Globo, revelou que Jairinho ligou para o governador do Rio, Claudio Castro, horas após a morte de Henry, para contar o que havia acontecido. A ligação aconteceu antes da história ser divulgada na imprensa. Em nota, o governador admitiu que recebeu a ligação, dizendo que se limitou a explicar ao vereador que “o assunto seria tratado pela delegacia responsável pelo inquérito”, encerrando logo depois o telefonema.MATERIAL APREENDIDO Na semana passada, 11 celulares e laptops de Monique, Jairinho e Leniel foram apreendidos pela polícia. Um dos aparelhos do casal teve mensagens de um aplicativo apagadas e agora peritos tentam recuperar. “Se apagaram ou não, não tenho essa informação”, afirmou o advogado André França Barreto, que representa o casal.EXCLUIU TUDO Seguido por mais de 12 mil pessoas no Instagram, Dr. Jairinho apagou todas as postagens na última sexta-feira (2) em meio às investigações pela morte de Henry Borel Medeiros, de 4 anos, seu enteado. CARGO NOVO APÓS A MORTE  Somente três dias após a morte do enteado, Dr. Jairinho assumiu um cargo no Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, que conta com outros seis vereadores. Desde que o caso ganhou repercussão, ele não vai nas sessões.