Casos reais: especialistas apontam soluções para 5 problemas no orçamento

Leitores compartilham com o CORREIO seus problemas financeiros, dicas de consultores ajudam a resolver

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  • Priscila Natividade

Publicado em 11 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Ilustração: isaac de moraes neto

Muita gente se pergunta sobre o que fazer quando se vê preso em um labirinto conhecido como dívidas. Até achar a saída é muita dor de cabeça e noites sem dormir. Mas sempre existe uma luz no fim do túnel. 

O CORREIO pediu que especialistas em finanças pessoais se colocassem no lugar de leitores que aceitaram o convite de dividir com o jornal as difucludades que estão enfrentando para reequilibrar o orçamento. 

As soluções passam quase sempre pelo planejamento financeiro com a devida definição de prioridades e análise minuciosa e acompanhamento do dinheiro, tanto do lado da receita (os recursos que entram n conta), quanto das despesas (o dinheiro que sai da conta).

Os especialistas em finanças dizem que também é preciso adotar estratégias para amenizar o peso de alguns gastos er disciplina para acompanhar a planilha e, algumas vezes, abrir mão de um padrão de vida não compatível com a renda. Veja as histórias a seguir. 

QUANDO O SONHO VIRA PESADELO

Sidnéia Souza, 38 anos, analista em controladoria Ela tem um financiamento de um imóvel junto ao banco e reclama dos juros abusivos que foram cobrados. Ao fechar a compra na planta, a prestação que seria de R$ 600 pulou para R$ 1, 1 mil. “Financiei o apartamento em 360 meses ( 30 anos) e já paguei uns cinco anos. De três em três anos, eu utilizo o saldo do FGTS para abater o saldo destas parcelas”, conta. A analista não quis desistir do negócio, pois já havia pagado o sinal de R$ 5 mil e a incorporadora só devolveria 30% deste valor. O apartamento, no Caji, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador. O imóvel trouxe tantos problemas que ela desistiu de morar lá e aluga o apartamento para manter as prestações do financiamento em dia. Como negociar esta dívida junto ao banco e reduzir o custo do financiamento? 'O meu conselho é tentar fazer a venda e com isso fazer a quitação', recomenda Ricardo Hiraki Malia (Foto: Divulgação) Se livre deste financiamento No seu caso, apesar de já ter a sensação de perda, é importante se manter equilibrada com esse sentimento ou não terá grande sucesso procurando o banco, exceto se for possível fazer a transferência do financiamento imobiliário para outro e assim reduzir a taxa de juros. Já que não há o interesse em morar lá, o meu conselho é o de tentar fazer a venda e com isso fazer a quitação e ficar com um saldo pós-negociação. Vender imóvel não é simples e nem é o momento, porém, é o melhor caminho. Por hora, com o imóvel alugado, já tem um alívio e com a troca de banco pode reduzir os custos com juros. 

Ricardo Hiraki Maila é fundador da Plano Consultoria em Finanças

COMPRO, COMPRO, COMPRO E... COMPRO

Roberta Chaves, 38 anos, advogada Ao perder o antigo cargo, o salário de R$ 3 mil que a advogada ganhava caiu para R$ 1 mil. O problema de Roberta é que ela compra compulsivamente e não consegue adequar o seu padrão de vida ao novo salário e nem conter o uso do cartão de crédito para comprar roupas, sapatos e bolsas. “É um vício mesmo. Às vezes compro coisas que nem estão em promoção. Fiquei endividada por conta desses impulsos. Tento incrementar minha renda com a elaboração de trabalhos acadêmicos, mas a conta não fecha por causa destas compras”, confessa. Ela  precisou pegar empréstimos com o banco e com a mãe para zerar uma dívida de R$ 12 mil do cartão que estourou. Cartão que deixou, inclusive, de usar, pois  agora só utiliza a função débito. Ainda assim, por muitas vezes, Roberta ainda escorrega nas compras por impulso. O que fazer para evitar estas ‘escorregadas’? 'Por mais difícil que seja fazer cortes, não é impossível diminuí-los', destaca Antônio Rocha (Foto: Divulgação) Mudança de padrão  Assim como o seu salário, o padrão de vida também precisa ser ajustado. Não adianta continuar gastando como se ganhasse R$ 3 mil sendo que no final do mês terá apenas R$ 1 mil. É importante fazer o planejamento financeiro básico, entender quanto que entra e quanto que sai. Quanto entra nós já sabemos: R$ 1 mil. Classifique seus gastos em fixos e variáveis. Por mais difícil que seja fazer cortes, não é impossível diminuí-los.  Por exemplo, será que você usa todos os dados do seu plano de celular? Se a resposta for não, é bom renegociar com a operadora. Pense nestas adaptações. 

Antônio Rocha é presidente da IQ 360, startup de soluções financeiras 

OPERAÇÃO PENTE-FINO NAS DESPESAS

Marcos Santos*, 52 anos, funcionário público  Trabalhava em Brasília e com a aproximação da aposentadoria da esposa há quase um ano, ele pediu transferência Salvador. O salário dele reduziu em R$ 2 mil e Marcos ainda não conseguiu ajustar as contas. “Tinha um padrão de vida e a todo o momento penso onde posso cortar mais”, afirma. O funcionário público não teve pena em fazer estas reduções: abriu mão os planos de saúde dele, da esposa e da mãe.  Na tentativa de economizar com alimentação e transporte, Marcos também se mudou para um bairro próximo ao trabalho. Porém, o local é de alto padrão, o que aumentou o custo com aluguel e condomínio. Fora isso, a esposa, que ainda não conseguiu a transferência,  mantém outra casa em Brasília, mais os custos com as passagens aéreas  pelo menos, duas vezes por mês. (*Nome fictício) 'É preciso anotar todo dinheiro que entra e sai, centavo por centavo, organizando por segmento', ensina Meire Cardeal (Foto: Divulgação) Orçamento na malha fina É preciso passar um pente-fino nas despesas e receitas. Anotar todo dinheiro que entra e sai, centavo por centavo, organizando por segmento (alimentação, transporte, diversão, etc.). Esta ação deve ser seguida da análise de cada conta para a implementação de um plano de redução que deve estar entre 20% a 30% nestes itens.  Marcos pode reavaliar, por exemplo, a moradia atual, comparando os custos e condomínio com a  economia com alimentação e transporte obtida com a moradia e proceder uma nova mudança, se for o caso. Esta análise extremamente detalhada vai possibilitar novos cortes.

Meire Cardeal é educadora financeira comportamental 

DINHEIRO ADORMECIDO PROCURA INVESTIMENTO SEGURO

Bruno Cardoso, 25 anos, fisioterapeuta Depois que Bruno gastou sem limites a ponto de negociar o pagamento de uma fatura de cartão de crédito em 12 meses, ele mudou sua relação com o dinheiro. E quem não mudaria de postura ao ver uma fatura inicial de R$ 3,8 mil virar R$ 7,2 mil? A experiência nada boa fez com que ele passasse a poupar. Só que a reserva de R$ 10 mil está lá parada, bem adormecida na poupança. “Hoje, graças a Deus, eu não tenho mais dívidas. Zerei essa parte e agora quero investir. Só que não sei como fazer isso. Quero algo que me dê retorno com segurança”, afirma. Onde esse dinheiro pode render mais?   'Tudo é uma questão de entender o quanto de risco você tolera na sua jornada', aconselha Ramiro Gomes Ferreira (Foto: Divulgação) Tamanho do risco  No caso do Bruno, começaríamos pelo básico: quais são os seus principais valores? O que ele almeja conquistar no futuro e como o seu dinheiro pode ajudar nessa conquista?  Gosto de trabalhar com a seguinte “regra de bolso”: para objetivos financeiros para conquista em até 1 ano, ativos como o “Tesouro Selic”, uma CDB com liquidez diária ou um fundo DI. Para objetivos de médio prazo, com prazo superior a 1 ano e inferior a 5 anos, surgem opções, como títulos públicos prefixados e atrelados à inflação (“Tesouro Prefixado” e “Tesouro IPCA+”, respectivamente). Por fim, chegamos no longo prazo,  para uma conquista superior a 5 anos. Aí o investidor pode incluir, na sua carteira qualquer ativo de renda fixa ou de renda variável. Tudo é uma questão de entender o quanto de risco você tolera na sua jornada. 

Ramiro Gomes Ferreira é criador do Canal Clube do Valor

É VERÃO... SEI LÁ... DÁ UMA VONTADE LOUCA DE SE ENDIVIDAR

Letícia Silva*, 34 anos, vendedora  Letícia confessa: lazer é prioridade. E no verão ela não se importa de gastar com isso e quer curtir todos os ensaios e eventos que pipocam em Salvador ( e não são poucos): “Se eu não me endividar, não consigo curtir nada disso. Tenho consciência de que neste período eu gasto muito mesmo, as festas não são baratas. No verão, a predisposição  de sair com os amigos, tomar uma cerveja é bem maior”, afirma. Por mais consciência que ela tenha de que está gastando além, a pergunta é: como organizar o orçamento para não sentir  depois o impacto do verão? (*nome fictício) 'Por favor, fuja do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito', alerta Márcio Reis (Foto: Divulgação) Se jogue O caso da Letícia não é único. É mais comum do que se imagina. E não existe nenhum problema nisso, desde que a pessoa assuma essa condição e saiba que ao fazer isso vai ter que abrir mão de outras coisas. E aí os gastos acabam extrapolando a média durante os três meses do verão. A lição vem com a fábula da cigarra e da formiga, lembra? A formiga se esforça por um período pra usufruir os benefícios no outro. Se o foco é o verão, porque não se segurar um pouco nos outros meses? Pode ser reservando um pouquinho de cada vez. Mais  duas dicas: tente comprar antes ou barganhar um desconto para os shows. Ter dinheiro pra pagar à vista ajuda. A outra é tentar ganhos com uma renda extra. Pra terminar, mais um conselho de amigo: por favor, fuja do cheque especial e do rotativo do cartão de crédito.  

Márcio Reis é diretor de dados e pesquisas econômicas do Guiabolso