Chacina em Portão é ação da facção BDM em ataque a grupo rival, CP

Cinco pessoas morreram, sendo três da mesma família; ninguém tinha passagem pela polícia

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  • Bruno Wendel

Publicado em 19 de maio de 2019 às 17:18

- Atualizado há um ano

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Primeiro, eles aproveitaram a melhor oportunidade – a liderança do grupo arquirrival não estava na área de atuação. Em seguida, como demonstração de poder, mataram inocentes. Assim foi o ataque orquestrado pela facção Bonde do Maluco (BDM) ao Comando da Paz (CP) em Portão, bairro de Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS). A ação, na noite deste sábado (18), resultou numa chacina – cinco pessoas mortas, das quais três eram da mesma família. A polícia informou que, a princípio, nenhuma das vítimas tem passagem.

De acordo com a Polícia Civil, nos últimos anos, tem sido acirrada a disputa por pontos de venda de drogas no bairro de Portão entre as facções BDM de CP. Os traficantes Paulo Robson, o “Lambe Tchola”; Mateus, conhecido como “Boreu”; Manoel Plínio, apelidado de “Branquinha”; e “Buscopeu”, são lideranças do BDM que atuam na região do entorno do Terminal Turístico de Portão.

Há cinco anos, eles tinham controle total do tráfico de drogas do bairro, mas foram expulsos da localidade da Boca da Mata por traficantes do CP. Então, na noite deste sábado, o quarteto do BDM planejou um ataque em mais uma tentativa de tomar a boca da 2ª Travessa Mário Ogando – local onde houve o maior número de mortes no ataque de sábado –, na Boca da Mata. 

Para o ataque de sábado, o BDM contou com duas situações. A principal delas foi o fato de que “Patolino” e “Léo Pequeno”, chefes do CP no bairro, estavam numa festa numa mansão em Vila de Abrantes, comemorando o aniversário do dono de uma rede de transporte alternativo de Lauro de Freitas – no local houve uma abordagem da polícia e acabaram presos por tráfico a namorada de “Patolino” e outro integrante do grupo, apelidado de “Pacato”. 

O segundo fato é o enfraquecimento do CP desde a prisão de Marcos Vinícius Santos Longo, 21, o King, no dia 18 de abril deste ano, após fazer refém uma moradora de Portão. Ele era uma das lideranças e era tido como o “cabeça cara" pelo BDM e pela polícia – no currículo dele consta que já baleou um policial civil e outro militar e planejava matar outros quatro PMs – para isso, havia encomendado um fuzil para usar contra uma guarnição.

Ataque Diante das vantagens sob os rivais, a bordo de um Fiat Siena, “Lambe Tchola”, “Boreu”, “Branquinha” e “Buscopeu” promoveram o terror na noite deste sábado (18). Segundo a Polícia Civil, a primeira vítima da chacina foi Pablo Ferreira Santos, 16 anos. Ele estava com uma amiga quando foi morto pelos criminosos na Rua Santo Antônio – próximo ao Terminal de Turismo de Portão – pouco depois das 19h. “Ele disse que ia na praça, que ia encontrar com uma moça. Eu não vi, mas me contaram que ele conversava com ela na porta de casa, quando chegaram atirando. A moça conseguiu se salvar, mas meu filho não teve a mesma sorte”, contou ao CORREIO, o pai do rapaz, que preferiu não revelar o nome. Informações ainda não confirmadas pela polícia dão conta de que Pablo morreu porque a moça que estava com ele seria traficante da CP.

Logo em seguida, os criminosos seguiram para a 2ª Travessa Mário Ogando, onde funciona a boca de fumo do Comando da Paz. Eles estariam a procura de um rapaz integrante do CP, mas não o encontraram. Testemunhas contaram o Siena foi até o final da rua e voltou.“Foi aí que começaram a atirar. Foram muitos tiros. As pessoas já estavam no chão, agonizando, quando um dos assassinos desceu do carro e atirou mais vezes, pra se certificar de que todos estavam mortos”, contou um morador, que não quis revelar o nome.Foram mortos: Raimunda Jesus dos Santos, 35 anos, Rogério Oliveira da Silva, 36, Guilherme Gomes da Silva, 19, os adolescente Raiane Freitas, 12, e Pablo dos santos, 15.

Arthur Silva de Jesus Moreira, 23, segue no Hospital do Subúrbio. Segundo pessoas próximas, ele teve morte cerebral, mas a informação não foi confirmada pela polícia. Apenas Guilherme e Arthur chegaram a ser socorridos. 

Lembranças Guilherme era sobrinho de Raimunda e primo de Raiane. Rogério era pintor e vizinho da família, assim como Arthur. Na hora do crime, todos estavam na porta de casa de Raimunda, o imóvel de número 70, com exceção de Rogério – ele foi baleado ao sair de casa. 

Na manhã de deste domingo (19), parentes e amigos das vítimas se aglomeravam na rua, entre eles o marido de Raimunda, que estava na hora do ataque. Sentando no banco de cimento, em frente à casa, ele relembrou: “Estava bem aqui. No lado direito, estava Raimunda numa cadeira em frente ao portão. Atrás dela estava Raiane, em pé. Perto das duas estava Guilherme bebendo uma xícara de café. E um pouco afastado de todos estava Arthur, que segurava o filho recém-nascido, enquanto a mulher preparava o leite da criança”, contou.“Foram 29 anos de convivência de muito respeito. Ela era uma ótima mãe, mulher, uma trabalhadora e se foi de forma tão brutal”, acrescentou abalado. Guilherme começaria a trabalhar numa rede de lanchonete daqui a uma semana. “Ele era evangélico e tinha acabado de passar nos exames médicos, estava feliz porque ia poder ajudar a mulher que está grávida de três meses”, contou o irmão de Guilherme na manhã deste domingo, durante a liberação do corpo no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). Atingido na clavícula, ele foi socorrido para o Hospital Menandro de Faria. “Ele ainda chegou andando e falando. Os médicos preparavam para uma transfusão, mas ele não aguentou”, lamentou o irmão. 

Investigação Rogério foi morto ao sair de casa. “Ele já estava em casa para dormir, não ia sair mais, mas esqueceu um creme no carro e foi buscar. Foi quando eles chegaram atirando. Ele foi atingido, mas continuou correndo. Encontraram o corpo dele numa outra rua”, disse uma moradora da região. 

Um cachorro sem raça definida, chamado de Preto, que vivia na casa de Raimunda, também morreu. “A animal estava deitado embaixo do banco quando foi atingido duas vezes”, contou outro morador. 

A chacina é investigada pela 34ª Delegacia (Portão). A delegada titular da unidade, Andréa Arrais, esteve cedo nos locais de crime.