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Georgina Maynart
Publicado em 7 de abril de 2019 às 13:00
- Atualizado há 2 anos
Queda e elevação de até 400%. A chuva que caiu nas últimas semanas na Bahia puxou para baixo o preço de muitos alimentos, mas nem chegou a refrescar o valor alto de outros produtos. O correio* fez um levantamento nas principais regiões do estado para saber até que ponto a chuva está influenciando na mesa do consumidor.>
Os dados indicam que as oscilações de preços devem continuar atingindo muitos alimentos nos próximos meses. Oscilações de peços atingem produtos mais consumidos em Salvador. (Foto: Luiz Vaz Ribeiro) Quiabo>
Quiabo a perder de vista, bom e barato. Nas feiras livres de Salvador, o preço do fruto caiu até 75%. Na Ceasa de Simões Filho, a saca com 30 quilos que custava 60 reais, agora não passa dos 15 reais. Em alguns mercados da capital baiana, o quilo caiu de R$ 7 para R$ 2. Assim, o produto está se multiplicando nas bancas.>
A fartura é reflexo de vários fatores. A safra em Sergipe, um dos principais fornecedores do Nordeste, está em alta. Além disso, a chuva que caiu nas últimas semanas no interior da Bahia ajudou as plantações de sequeiro, não prejudicou as plantações irrigadas, manteve a safra abundante e faz o preço despencar.>
“Nesta época há um excesso de fruto no campo. Alguns produtores nem chegam a retirar da plantação, porque fica tão barato que não cobre os custos de produção. Fica inviável colher. Alguns chegam a dar aos animais ou até jogar fora. E não adianta fazer conserva ou colocar no congelador, porque ele endurece”, conta o produtor rural Paulo Cézar Bernardino, que cultiva quiabo há 16 anos na região de Jaguaquara, no centro sul da Bahia.>
Mas a queda no preço não deve durar muito. A tendência é de alta com a aproximação da Semana Santa, quando o procura cresce quatro vezes mais. Os agricultores adiantam que até lá a variação vai ser no sentido contrário, para cima, com elevação de até 300% no preço. Este é o segundo período do ano em que o baiano mais consome quiabo, depois de setembro quando acontece o tradicional caruru.>
A Bahia é o quinto maior produtor de quiabo do país. Cerca de 6.700 agricultores cultivam o fruto no estado. De acordo com o último levantamento do IBGE, em 2017, foram produzidas mais de 11.300 toneladas de quiabo.>
Os maiores produtores estão concentrados nos municípios de Jeremoabo, Tanhaçu, Barra da Estiva, Juazeiro, Santo Estevão, Várzea da Roça e Iramaia. Apenas os agricultores do povoado de Ilha Grande, em Iramaia, produzem cerca de 8 toneladas de quiabo por semana. O quiabo registrou queda de 75%, mas deve voltar a subir até a semana santa. (Foto: Luiz Vaz Ribeiro) Feijão>
Em Salvador, o quilo do feijão vem registrando altas consecutivas que ultrapassam os 12% ao mês, de acordo com dados do Dieese. Tem sido assim desde o fim do ano passado por causa da seca. E apesar da chuva que vem caindo nas regiões produtoras, o grão deve continuar com preços elevados, pelo menos durante os próximos cinco meses.>
No município de Euclides da Cunha, um dos maiores produtores de feijão do país, choveu mais de 300 milímetros nas últimas duas semanas. O índice, quase metade do previsto para o ano inteiro, ajudou a irrigar o solo seco, e a encher os açudes castigados pela longa estiagem.>
Mas os agricultores afirmam que a chuva só vai se refletir no preço dos produtos agrícolas da região a partir de agosto, quando deve começar a colheita da safra, ainda em fase de plantio. Até lá a tendência é de alta.>
“As chuvas foram boas, a contento, e não houve intempéries como enchentes e estragos. Os agricultores estão animados, querendo plantar e preparando o solo. Mas estamos encarando com cautela, e não deve haver aumento da área plantada. A perspectiva é apenas começar a recuperar os quatro anos de perdas consecutivas. O feijão deve continuar com este preço até agosto, até estabilizar a produção”, afirma Maria Djalma, produtora rural e secretária de agricultura de Euclides da Cunha. O feijão é a base da economia do município do semiárido e serve de renda para mais de 12 mil produtores rurais.>
A saca de 60 quilos, do tipo carioquinha, está custando em média R$ 320, cerca de 400% a mais do que a menor cotação anteriormente registrada na região.>
Em outra grande área produtora do estado, entre os municípios de Adustina e Fátima, o feijão está ainda mais caro. A saca está cotada a R$ 350. Bem acima dos R$ 100 registrados antes da última seca. A região conta com mais de 6 mil produtores,>
Nestes municípios a chuva das últimas semanas ultrapassou os 200 milímetros, cerca de 30% do esperado para o ano todo. Muitos agricultores estão aproveitando para arar o solo, mas não há previsão de queda nos preços a curto prazo.>
“Quase todo dia está chovendo. Os mananciais estão cheios. Mas tem muita gente descrente com o feijão e desistindo da cultura para plantar milho. Além disso vamos ter que esperar mais de 60 dias depois do plantio. Por este motivo talvez o preço não desça. A não ser que venha feijão de outros estados como Mato Grosso e Goiás”, afirma o produtor rural Roberto Santos. Em Adustina, agricutores começaram o plantio da nova safra de feijão. A saca esta custando R$ 350 na região. (Foto: Roberto Santos) Banana da Terra >
O preço de outra fruta vem assustando os consumidores, a banana da terra. A fruta registrou alta de 230% na capital baiana. O cento que custava até R$ 15 em fevereiro, está sendo comercializado por R$ 50 nas centrais de abastecimento. O quilo subiu de R$ 1 para R$ 2,50.>
No Baixo Sul do estado, região que mais produz banana da terra no Brasil, a chuva foi generosa nos últimos dias. Choveu entre 80 e 150 milímetros nos municípios de Gandu, Teolândia, Presidente Tancredo Neves e Wenceslau Guimarães. Os agricultores estão otimistas, mas ainda não conseguiram recuperar os pomares afetados pela seca no fim do ano passado.>
“Nós perdemos muitas bananeiras que ficaram desidratadas, e não dá para recuperar de uma hora para outra. Vai demorar um pouco. São necessários três ou quatro meses de chuva frequente para voltar a aumentar a produção. E isso vale também para o cacau, principal cultivo da região”, afirma Renato Dias, produtor rural e Coordenador do Comitê de Fruticultura do Baixo Sul.>
Batata>
A batata, outro produto que vinha registrando cotações elevadas nas feiras de Salvador, começou a sofrer uma leve queda de preços. Na Ceasa de Simões Filhos, a saca de 50 quilos está custando R$ 260, cerca de 15% abaixo do preço cotado em fevereiro. O quilo, que estava sendo vendido por R$ 9, agora pode ser encontrado nas feiras da capital por R$ 7.>
Mas o consumidor, que costuma usar o produto na ceia da semana santa, não deve se animar muito. A tendência de queda deve durar pouco, e dificilmente o produto vai voltar as cotações normais. Não foi a chuva daqui que influenciou na sutil redução do preço. O motivo principal foi o início da regularização da produção nos outros estados, como Espírito Santo, Minas Gerais e Santa Catarina, onde parte da safra anterior havia sido perdida devido aos temporais.>
Na Bahia a produção continua reduzida na Chapada Diamantina, entre os municípios de Mucugê e Ibicoara, onde as plantações são irrigadas. Nestes municípios a chuva ainda não foi suficiente para permitir um aumento significativo do nível das barragens, de onde sai a água usada nas plantações.>
“Está começando a acontecer uma recarga dos rios e do solo, e isso é muito importante. Por que nós estávamos atravessando um período de seca prolongada, e diminuímos muito a área cultivada. A chuva serve de alento para os agricultores, mas ainda não é suficiente para recarregar o lençol freático”, afirma Evilásio Fraga, coordenador do Agropolo.>
A recuperação do preço e da produção interna de batata vai ser lenta. Com a chuva de março, o nível da Barragem do Apertado subiu apenas de 6% para 11%, um nível considerado ainda muito baixo. Outro produto produzido na região também está mais caro, o tomate. Nas principais centrais de abastecimento, a caixa aumentou de R$ 80 para R$ 120.>
Excesso de sol e de chuva>
As hortaliças também estão cerca de 50% mais caras na Região Metropolitana de Salvador. Tem couve sendo vendida até por 15 reais. Os motivos são contrários. Os feirantes culpam a seca que atingiu as hortas no fim do ano passado, e o excesso de chuva que destruiu muitas plantações nas últimas semanas.>
“O sol forte demais estraga e a chuva em excesso dizima. O maço de hortelã miúdo está chegando aqui por até R$ 15, antes custava R$ 6. O mesmo acontece com o coentro e a cebolinha. A gente não pode aumentar para não assustar o cliente. A única coisa que podemos fazer é explicar para o consumidor e diminuir a quantidade do maço, para ele continuar levando”, explica o feirante Luiz Vaz Ribeiro, da Ceasa do Ogunjá. Hortaliças registraram alta de 50% na capital baiana. Sol forte e chuva em excesso são os principais motivos. (Foto: Paulo Cézar Bernardino) Mamão>
Os bons ventos da chuva também ainda não influenciaram no preço do mamão, que subiu mais de 300% de janeiro para cá. Nas principais feiras de Salvador, o quilo que custava R$ 0,50 centavos, agora sai por mais de R$ 2.>
A alta é reflexo da queda da produção nas principais regiões produtoras, como Eunápolis, no Sul da Bahia. Os produtores rurais do município enfrentaram as altas temperaturas provocadas pelo El Niño, e mais de noventa dias de seca entre dezembro de 2018 e fevereiro de 2019.>
O volume de chuva no município ultrapassou os 120 milímetros esta semana. A quantidade foi suficiente para molhar os pomares, mas vai demorar alguns meses para beneficiar o bolso do consumidor. Depende do tempo de maturação dos novos frutos.>
“O agricultor da Bahia vinha sofrendo muito com os efeitos do El Niño, que provocava altas temperaturas e períodos longos de estiagem. Agora os indicadores apontam que a tendência é a situação se normalizar. Acreditamos que as safras no campo vão ficar mais regulares, já que este fenômeno do clima está perdendo força”, pontua Rui Dias, produtor rural e vice-presidente de desenvolvimento agropecuário da Federação de Agricultura e Pecuária da Bahia.>
Salvação do cafezal >
No Extremo Sul e na Chapada Diamantina, a chuva que atingiu os cafezais está ajudando a salvar pelo menos 60% dos grãos. Os pés vinham sofrendo com a seca e as temperaturas elevadas, que acabaram prejudicando o desenvolvimento de cerca de 40% dos frutos. Chuva das últimas semanas salvou cafezais e devolveu o verde as plantações de Barra da Estiva, na Chapada Diamantina. (Foto: Luiz Eusébio) Em Barra da estiva, onde existem cerca de 3.600 cafeicultores familiares, a chuva salvou a lavoura e evitou a perda de muitos cafezais. Os pés voltaram a ficar verdinhos.>
“Estávamos com mais de 60 dias sem chuva, e parte dos grãos não cresceram como deveriam. Mas esta chuva foi essencial para barrar a perda que vinha ocorrendo, agora a colheita do café está garantida. A chuvinha definiu a safra, exatamente no momento em que o grão está criando mais consistência e indo para o ponto de maturação”, conta Luiz Euzébio Filho, produtor rural e secretário de agricultura do município.>
O preço para o consumidor deve continuar baixo, já que o mercado continua com excesso de grãos, devido as safras abundantes dos anos anteriores.>
Novo aplicativo fornece dados de chuva e rios em todo o Brasil Os agricultores possuem agora uma nova ferramenta para obter dados sobre chuva, vazão e nível dos rios brasileiros. O aplicativo Hidroweb Mobile foi lançado pela Agência Nacional de Águas (ANA) e está disponível para dispositivos móveis com sistemas Android e iOS.>
O dispositivo gratuito traz dados coletados nas mais de 3 mil estações hidrometeorológicas gerenciadas para agência. O aplicativo oferece a opção para o usuário encontrar as estações mais próximas, consultar por estado, município, bacia hidrográfica ou entidade responsável pelo monitoramento do local. É possível visualizar dados sobre vazão dos rios no último dia, por semana, mês e ano.>
A ferramenta inclui ainda vídeos sobre direito de uso de recursos hídricos e cobrança pelo uso da água.>
"Com o Hidroweb Mobile, o cidadão e profissionais da área de recursos hídricos passam a contar com um acesso simplificado a dados, em tempo real, de níveis e vazões dos principais rios do Brasil e de chuva em várias cidades brasileiras. Para isso, basta usar dispositivos móveis, como celulares e tablets ", afirma o coordenador de Dados e Informações Hidrometeorológicas da ANA, Walszon Lopes. Aplicativo monitora volume de chuva e pode ter acessado por todas as plataformas. Foto: Agência de Águas ANA Para baixar na Play Store (Android), acesse: https://play.google.com/store/apps/details?id=br.gov.ana.hidroweb>
Para baixar na App Store (iOS), clique em:https://itunes.apple.com/br/app/hidroweb/id1453212814>
O Hidroweb também pode ser acessado por meio de computadores pelo link: http://www.snirh.gov.br/hidroweb/publico/mapa_hidroweb.jsf.>