Ciência, palavra ainda pouco feminina

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  • Marcio L. F. Nascimento

Publicado em 21 de novembro de 2018 às 13:25

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Desde 1901, a maioria dos Prêmios Nobel tem sido entregues a pessoas e/ou organizações, totalizando 935 premiações entre 590 prêmios entregues. Infelizmente, as mulheres foram laureadas precisamente 52 vezes, sendo que apenas uma delas recebeu em duas oportunidades, a saber: a genial cientista polonesa Marie Sklodowska Curie (1867 - 1934). Ou seja, apenas 51 mulheres receberam tal prêmio entre 1901 e 2018.

A conta das premiações femininas é simples: 17 prêmios para a Paz, 14 em Literatura, 12 em Fisiologia ou Medicina, 5 em Química, 3 em Física e 1 em Ciências Econômicas (que é o prêmio mais recente, iniciado em 1968). Curiosamente, Marie Curie foi a primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Física, em 1903. O segundo, em Química, foi entregue em 1911. Tal premiação foi estabelecida pelo químico e inventor sueco Alfred Bernhard Nobel (1833 - 1896) por meio de um testamento em que visava a criação de uma fundação que laureasse anualmente as pessoas que mais tivessem contribuído para o desenvolvimento da Humanidade.

O primeiro Prêmio Nobel foi entregue em 1901 ao descobridor dos raios X - o físico e engenheiro mecânico alemão Wilhelm Conrad Roentgen (1845 - 1923). Desde então, muitos prêmios foram entregues anualmente, com exceção do período 1940 - 1942, devido a Segunda Grande Guerra. Neste ano de 2018, três mulheres foram laureadas com o Nobel: Donna Theo Strickland (n. 1959, canadense) em Física, Frances Hamilton Arnold (n. 1956, americana) em Química e Nadia Murad Basee Taha (n. 1993, iraquiana) para a Paz.

Surpreendentemente, Donna Strickland é apenas a terceira mulher a ganhar o Prêmio Nobel de Física, por descobrir uma maneira de tornar os feixes laser mais intensos. Tal técnica permite hoje manipular átomos, moléculas e mesmo seres unicelulares a partir de pinças óticas, que nada mais são que feixes de laser cruzados. Historicamente, tal prêmio não havia sido concedido a uma mulher desde 1963, quando a física alemã Maria Goeppert-Mayer (1906 -1972) havia sido laureada por seu trabalho sobre a estrutura atômica da materia, 55 anos antes. Ao ser lembrada pela imprensa do fato, a mais nova laureada em física perguntou: “É isso tudo mesmo? Eu pensei que poderia ter sido mais”.

Apenas para ilustrar, pode-se citar ao menos cinco grandes cientistas que certamente mereceriam ter recebido um Prêmio Nobel em Física: Lise Meitner (1878 -1968), física austríaca que descobriu a fissão nuclear; Cecilia Payne (1900 -1979), astrônoma inglesa que determinou qual é a composição do nosso Sol e das estrelas); Chien-Shiung Wu (1912 -1997), física teórica chinesa que elaborou um experimento provando que a natureza não é simétrica para determinados eventos do mundo quântico; Vera Cooper Rubin (1928 - 2016), astrônoma americana que demonstrou a possibilidade de existência da matéria escura no universo; Jocelyn Bell-Burnell (n. 1943), astrofísica norte-irlandesa que descobriu os pulsares, estruturas estelares feitas de nêutrons.

É importante também lembrar que Frances Arnold é apenas a quinta mulher a receber um Nobel em Química em 117 anos... Desta forma, além do desejo de que premiações femininas ocorram com maior frequência nos próximos anos, é necessário fomentar a participação de mais mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática. É também absolutamente necessário diminuir a discriminação por gênero. Não à toa, a maioria dos nomes dados ao conhecimento são femininos: física, química, matemática.... De fato, a Ciência, enquanto prática, ainda é pouco feminina.  

Márcio Nascimento é professor da Escola Politécnica, Departamento de Engenharia Química e do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da UFBA

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