Cinco do Central Park: um caso de racismo

Olhos que Condenam é a série mais vista da Netflix desde que estreou há duas semanas; corra pra ver

  • Foto do(a) author(a) Ana Pereira
  • Ana Pereira

Publicado em 16 de junho de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

É difícil assistir à série Olhos que Condenam e não se sentir  incomodado ou revoltado. O novo trabalho da diretora americana Ana DuVernay, 46 anos, baseado na história real conhecida como Cinco do Central Park, vai direto ao ponto. Mostra como a polícia de Nova York forjou uma narrativa para incriminar cinco adolescentes negros, de 14 a 16 anos,  pelo estupro brutal uma corredora branca no Central Park, em 1989. Depois de dez anos presos, eles receberam uma idenização milionária da justiça.       

Disponível na Netflix, a série de apenas quatro episódios amplia o tema enfrentado corajosamente pela diretora em seus últimos trabalhos: o racismo histórico e institucional americano. Num dos episódios, o agora presidente Donald Trump aparece (em imagens reais) pedindo a condenação dos jovens, muito antes deles serem julgados.  Lá como aqui, é duro fazer essa revisão sem despertar muitos ânimos. 

Tanto que as duas principais responsáveis pelo caso tiveram que vir a público se explicar por suas ações depois da estreia de Olhos que Condenam, há duas semanas. A ex-promotora Linda Fairstein, responsável pela acusação, se afastou no dia 8/06 do conselho universitário da Faculdade de Vassar, onde estava atuando atualmente. Saiu dizendo que a história estava “cheia de distorções e falsidades”. Já Elizabeth Lederer, promotora-chefe do caso, renunciou ao cargo de professora na Universidade de Columbia na última quinta, por pressão dos estudantes.

Além do tema urgente e relevante, a série nos pega de jeito, com atuações impecáveis (com destaque para os cinco jovens atores), condução no limite da tensão, uma boa reconstituição de época e uma trilha sonora envolvente. Segundo a Netflix, que comemorou nas redes sociais, Olhos que Condenam já é a série mais assistida do serviço desde o dia 31. 

Dois filmes fundamentais de Ava DuVernay

13ª emenda (2016) A escritora e militante Angela Davis é uma das entrevistadas de 13 ª Emenda (Foto: Divulgação) Foi a primeira produção de Ava DuVernay para a Netflix. E digamos que é uma espécie de fundamentação da tese que ela sustenta em ‘Olhos que Condenam’.  Atrevés de muita pesquisa e entrevistas com  políticos, militantes, acadêmicos e ex- prisioneiros, a diretora mostra como o sistema penal americano trabalhou para punir a população negra desde que a 13ª Emenda - que veio para acabar com  a escravidão - foi aprovada.  O documentário ganhou o prêmio Bafta de cinema.   Selma faz um recorte num momento decidivo da luta anti-segregacionista nos Estados Unidos (Foto:Divulgação)  Selma -  Uma Luta Pela Igualdade (2014) O filme conta a história da luta do pastor e ativista  Martin Luther King (1929-1968) para garantir o direito de voto dos afrodescendentes - uma campanha perigosa,  que culminou na marcha épica de Selma a Montgomery, no Alabama, e que estimulou a opinião pública e convenceu o presidente Johnson a implementar a Lei dos Direitos de Voto em 1965. O elenco conta com a presença de  Oprah Winfrey, parceira da diretora em vários projetos, como em Olhos que Condenam, no qual Oprah é uma das produtoras. Com Selma,  Ava foi a primeira diretora negra indicada a ao Globo de Ouro. A produção também foi indicada ao Oscar de Melhor Filme e ganhou como canção original (Glory).