Clientes formam fila para comprar botijão de gás a R$ 50 no Vale da Muriçoca

Em Salvador, foram vendidos 200 produtos com o preço promocional

Publicado em 11 de dezembro de 2019 às 22:40

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

“Todo mundo compra o gás porque é R$ 50. Se fosse mais caro, ninguém ia querer”, cantava o menino Guilherme Soares, 10 anos, enquanto observava a fila de pessoas para comprar um botijão de gás de cozinha de 13 Kg com desconto na distribuidora JLM Gás, no Vale da Muriçoca, no bairro da Federação.

No local, o bujão saía por R$ 50. Sem a promoção, o valor seria R$ 67, o que já é mais baixo do que o preço máximo do produto praticado na Bahia, que é de R$ 85.

Pra quem compra gás todo mês, o desconto ajuda nas contas da casa. A diarista Cristiane Oliveira, 39, conta que gasta o que ganha com um dia de trabalho para comprar o produto.“Eu arrumei um dinheiro emprestado para vir pegar o gás. Qualquer dinheiro que a gente economiza ajuda”, diz a diarista.O funcionário público aposentado, José Carlos Santos, 54, foi o primeiro a chegar para garantir um botijão de gás na promoção. Ele entrou na fila às 7h, mas passou no local mais cedo, por volta das 6h30, para ter certeza que conseguiria comprar o produto.

“No Tororó, um botijão de gás é R$ 75. Tudo está aumentando, mas o salário não aumenta. Ai a promoção ajuda muito”, fala. José Carlos retira o seu botijão de gás após esperar na fila (Arisson Marinho/CORREIO) Nesta quarta, foram distribuídos 200 botijões de gás na distribuidora da capital. Mesmo com a grande procura, a fila foi calma. Nivaldo Bastos foi aproveitar a promoção para comprar o produto por R$ 15 a menos do que o preço que ele normalmente paga. “Espero que a promoção aconteça uma vez por mês porque ajuda bastante. A fila não demorou muito, cheguei há uma hora”, revela.

O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro-BA) resolveu fazer a ação para mostrar que é possível manter o preço do botijão mais baixo levando em conta os custos de produção, as tarifas e os lucros. De acordo com o sindicato, uma consultoria econômica apontou que é possível comercializar o produto por R$ 50. Desta análise surgiu o preço promocional.

O coordenador geral do Sindipetro, Jairo Batista, explica que a nova política de preços da Petrobras é um dos fatores que aumenta o preço do gás e de todos os outros derivados do petróleo. Clientes levaram os botijões vazios para comprar o gás na promoção (Arisson Marinho/CORREIO) “Os preços passaram a ser variáveis de acordo com o valor internacional do barril de petróleo e do dólar sob a promessa de que, caso o barril baixasse, o preço seria diminuído. Mas isso não se observa”, afirma.

Ainda de acordo com o coordenador, a privatização das refinarias da Petrobras deve aumentar o valor dos derivados do petróleo. Assim, o consumidor final, ou seja, a população, deve sofrer com preços ainda mais altos do gás, gasolina e diesel, aponta o sindicato.“Nós precisamos alertar a população que o prejuízo causado pela privatização é para toda a população, não apenas para os petroleiros, pelo aumento do preço do petróleo”, avalia o coordenador.O sindicato deve fazer outras ações de conscientização, inclusive, sobre os outros derivados do material.

Procurada, a Petrobras enviou um link com a política de preços da companhia e a tabela com os valores atuais. Na página, a estatal informa que o valor do gás tem como base o preço de paridade de importação, formado pelas cotações internacionais destes produtos mais os custos que os importadores teriam.“A paridade é necessária porque o mercado brasileiro de combustíveis é aberto à livre concorrência, dando às distribuidoras a alternativa de importar os produtos. Além disso, o preço considera uma margem que cobre os riscos (como volatilidade do câmbio e dos preços)”, afirma a empresa na nota.O aumento no valor complicou o orçamento de quem trabalha com a culinária como é o caso de Eliene Araújo, 56. “O preço do gás está horrível. Como trabalho com comida, eu tenho que gastar dois bujões no mês e o orçamento fica apertadíssimo”, revela. 

De acordo com o Sindicato Nacional das Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), o preço médio de um botijão de gás de cozinha na Bahia, em novembro de 2019, era de R$ 62,68. Segundo um levantamento da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), de maio deste ano, o preço médio praticado na Bahia é o mais barato entre os estados brasileiros, que chega a ser R$ 34 mais em conta que a média de preço de Mato Grosso (R$ 97,27), estado com valor mais alto. 

Para realizar a promoção, o sindicato subsidiou o valor do gás. Além dos 200 botijões vendidos em Salvador, outros 100 foram vendidos com o subsídio em Alagoinhas. Na cidade do interior, a distribuidora Supergás também resolveu comercializar outros 150 botijões a R$ 50, porém sem o apoio monetário.

Outra revendedora de gás de Salvador ficou sabendo da promoção da concorrente do Vale da Muriçocas e resolveu abaixar seu preço. Um dos seus funcionários foi para a fila na porta da distribuidora JLM Gás para vender o produto, também, a R$ 50.

“Até agora já vendi oito e depois volto para vender mais. Nosso patrão se mobiliza e, se puder ajudar o povo, ajuda”, garante o revendedor Antônio Carlos Miranda.

*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier.