Codesal tenta localizar dono do imóvel que desabou em Nazaré desde agosto

Vistoria feita no dia 31 daquele mês identificou obra sendo realizada sem alvará

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  • Gil Santos

Publicado em 3 de novembro de 2020 às 19:59

- Atualizado há um ano

Toda vez que os moradores do bairro de Nazaré, em Salvador, precisavam transitar pela calçada próximo da Escola de Engenharia, na Avenida Joana Angélica, apertavam o passo. Isso porque a fachada do prédio que fica ao lado da instituição apresentava risco de desabamento, e desabou na noite desta segunda-feira (2). O casarão já estava sendo monitorado pela Defesa Civil (Codesal) e o proprietário procurado desde agosto. Parte da fachada ficou de pé e é possível ver a rua que ficava atrás do prédio (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) O acidente aconteceu por volta das 20h. Moradores contaram que ouviram um barulho, como se fosse um estalo, e logo depois os tijolos ruíram junto com pedaços de madeira velha e o telhado. Um homem que mora em frente ao casarão contou que o edifício já estava com o teto comprometido e que o risco de desabamento era evidente.

“Da minha janela, a gente conseguia ver o teto do prédio e ele estava rebaixado, como se estivesse afundando. A fachada não estava tão deteriorada, mas tinha uma rachadura que chamava a atenção. Há uns dois meses uma janela caiu. Por sorte, não passava ninguém na hora. Ligamos para a Codesal e no dia seguinte eles apareceram”, contou um morador que disse não conhecer o proprietário e que pediu para não ser identificado. Marcas na parede do prédio vizinho e escombros na calçada (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A Defesa Civil afirmou que a última vistoria feita no imóvel foi em 31 de agosto e que os engenheiros do órgão identificaram uma obra sendo realizada de maneira irregular. Não havia alvará da prefeitura. Desde então, eles estão tentando localizar o proprietário, mas ainda não tiveram sucesso.

Localizar os donos de imóveis danificados é uma das principais dificuldades do Projeto Casarões, realizado pela Codesal. As equipes usam dados da Secretaria da Fazenda, de órgãos tombadores e faz contato com vizinhos para tentar identificar os proprietários, mas nem sempre conseguem um bom resultado. 

A coordenadora do projeto e subcoordenadora de Áreas de Risco, Rita Jane Moraes, contou que o órgão está monitorando a situação de 1.290 imóveis desse tipo na capital. Os casarões são classificados em cinco categorias: sem risco de desabamento (120), baixo risco (335), médio risco (475), alto risco (230), e risco muito alto (130).

“A gente faz um trabalho de acompanhamento desses casarões, sendo que 75% deles estão ocupados e 25% desabitados. Muitos estão tombados ou em poligonais de tombamento. O imóvel que desabou não estava em uma poligonal, mas não sabemos a situação dele”, afirmou.   Escada foi a única estrutura que ficou de pé do lado de dentro (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Perigo Moradores contaram que quando a fachada e o interior do prédio cederam, arremessam escombros sobre a calçada e uma das faixas da Avenida Joana Angélica. O local costuma ter movimento intenso de estudantes e trabalhadores do comércio, mas como o acidente aconteceu durante a noite, em um dia de feriado e com chuva, não havia ninguém passando pelo local no momento e não houve feridos.

Os vizinhos contaram que um restaurante funcionava no andar térreo do prédio, e os dois pavimentos superiores eram alugados. O restaurante foi o primeiro a fechar, há alguns anos, e os inquilinos foram se mudando aos poucos. O último saiu tem alguns meses. O medo dos moradores é que o que restou de pé tombe sobre uma pizzaria que fica ao lado. No final da tarde desta terça-feira (3), o estabelecimento estava fechado. Moradores contaram que houve um estalo antes dos tijolos caírem (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Do lado esquerdo, outro imóvel antigo preocupa os vizinhos porque, segundo os moradores, o teto também está apresentando deformações. Esse foi o 12º casarão a desabar em Salvador desde o início do ano. Segundo a Defesa Civil, entre 2013, início da atual gestão, e 2020, a cidade registrou 1.353 desabamentos totais de imóveis, sendo 16 casarões, e outros 1.202 parciais, sendo 43 eram casarões e incluído o de Nazaré.

As equipes da Defesa Civil e da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur) estiveram no local, nesta terça-feira, para fazer a vistoria e para demolir o que restou de pé e que ainda apresentava risco de desmoronar.

Depois que os escombros foram recolhidos, no lugar onde ficava o prédio existe agora um vazio que permite ver a rua de trás. Olhando de fora, a sensação é de abandono. Do lado de dentro, uma escada que leva a lugar algum parece ter sido a única estrutura que resistiu ao tempo.