Com atraso de mais de 4 horas, ônibus voltam a circular em Salvador 

Mais de 600 coletivos, de três garagens, foram impedidos de iniciar a circulação no horário 

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  • Tailane Muniz

Publicado em 25 de abril de 2019 às 08:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tailane Muniz/CORREIO

Os mais de 600 ônibus de três garagens do Consórcio Integra, que já deveriam estar nas ruas de Salvador, na manhã desta quinta-feira (25), só começaram a circular por volta de 9h. 

Segundo o sindicato da categoria, a ação, que atrasou a saída em mais de quatro horas, foi organizada para convocar os trabalhadores para uma assembleia que vai discutir o reajuste salarial de motoristas e cobradores, às 9h, e às 15h, no Sindicato dos Bancários, no Centro da Cidade.

Antes da liberação, no entanto, em uma reunião entre os funcionários da garagem, representantes do sindicato disseram que, em caso de não haver um consenso, “Salvador vai parar”.

Ainda no início da manhã, dezenas de rodoviários já estavam concentrados nas garagens das baias Salvador Norte (azul), na região do Iguatemi; Plataforma (amarela), na Avenida Suburbana e OT Trans (verde), em Pirajá. 

Os representantes da categoria informaram que não se trata de greve ou paralisação, mas de um “alerta”, para que os trabalhadores participem do processo de discussão com o sindicato patronal, que ofereceu 2,7% de reajuste salarial, de um total de 8% solicitado pelos rodoviários.

Caos no Subúrbio  Na garagem da Praia Grande (bacia Plataforma), localizada na Avenida Suburbana, 260 ônibus saíram com atraso de cinco horas da garagem. Motorista de ônibus há 34 anos, Evangivaldo Marques, 52, concorda que a discussão de reajuste é legítima. O rodoviário não é favorável, no entanto, ao não-funcionamento de parte da frota.

“Nós ganhamos pouco, sim, é isso não é novidade. Você vai no supermercado e vê que todos os produtos só aumentam e o nosso salário, de trabalhador, só falta congelar, não sai do lugar para nada”, disse, ao comentar a oferta do patronal de 2,7%, segundo a categoria, abaixo da inflação -  o índice em 2018 foi de 3,75%.

No local, cerca de 100 trabalhadores, entre cobradores e motoristas, se concentraram desde o início da manhã, quando pedestres já se aglomeravam nos pontos de ônibus da Avenida Suburbana.

Para parte população, a manhã de atraso na saída dos coletivos é certeza de transtornos, ainda que alguns ônibus estivessem circulando. A reportagem percorreu alguns pontos do Subúrbio Ferroviário, onde muita gente se sentiu prejudicada.

O sufoco começou logo cedo para a vendedora Taciane Pereira, 34, que precisava levar o filho até metade do caminho da escola, no bairro de Periperi. Ela, que mora em Colinas, na parte alta da localidade, embarcou o filho em uma van que, hoje, “não tinha espaço nem para uma mosca”.

“Porque se os ônibus não passam, as pessoas pegam a van pra adiantar o lado. Meu filho, coitado, foi todo apertado, e isso porque eu implorei para deixarem ele subir, de tão cheio que estava”, relatou.

Taciane trabalha na Praça da Sé e, até as 7h30, ainda aguardava o ônibus da Avenida Suburbana. “Eu sei que é para um benefício deles [rodoviários], mas a gente fica muito prejudicado, principalmente quem mora aqui no Subúrbio”, destacou a vendedora, acrescentando que os trens também não estavam operando normalmente nesta quinta.

O trem funciona como alternativa para alguns moradores, especialmente os que trabalham no Centro, pontuou Taciane. 

Morador de Paripe, o cobrador José Roque Sousa, 42, disse que se surpreendeu com a quantidade de gente no ponto. “Tomei um susto, nem estava sabendo dessa ação hoje. Acho válido, desde que as pessoas sejam avisadas com antecedência, porque só os usuário do transporte público sabem como é”, ponderou ele, que estava a caminho da Estação da Lapa.

No Centro da cidade, por sua vez, passageiros relataram que não sofreram tanto os reflexos da diminuição dos coletivos - em função da localização das garagens que ficaram com o funcionamento interrompido. No ponto de ônibus do Teatro Castro Alves (TCA), na Praça do Campo Grande, a diarista Vanda Gomes, 40, contou que os ônibus estavam passando normalmente na região.

“Se tinha menos, não deu para perceber. Fui em uma consulta médica em Nazaré hoje, voltei em casa e agora vou ver umas coisas na Avenida Sete”, disse ela, que mora no bairro do Garcia.

A estudante de Engenharia Milena Marques, 25, também afirmou que saiu do Cabula, onde mora, até a região da Praça do Campo Grande, sem muita dificuldade. “Eu peguei um metrô para a Estação da Lapa e depois outro ônibus ali na Piedade, não vi nada anormal, nem sabia disso”, comentou ela.

Assembleia A primeira parte da reunião entre os representantes do sindicato e os trabalhadores, que rodam os coletivos à tarde, terminou por volta de 11h20. Ao CORREIO, o vice-presidente, Fábio Primo, disse que motoristas e cobradores não concordam com a proposta do patronal.

O próximo passo, segundo Fábio, é apresentar a proposta, a partir das 15h, a quem trabalha no turno da manhã. Dezenas de cobradores e motoristas participaram da primeira reunião.

“Nós fomos bem claros com os empresários, de que não aceitaremos, mas ficamos de comunicar isso aos trabalhadores, que também não são favoráveis, agora é esperar, não vou comentar porque os próximos passos são parte de nossas estratégias”, disse.

Mediação  A Prefeitura de Salvador informou, em nota divulgada as 10h20, que anualmente desde 2013, faz a mediação das negociações, por meio da Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob), entre os sindicatos dos rodoviários e o patronal sobre a campanha salarial dos trabalhadores. 

O secretário da Semob, Fábio Mota, informou que este ano se reuniu com as empresas de ônibus e terá também um encontro com os rodoviários. Após isso, a pasta pretende agendar uma reunião na mesa de negociações com os dois lados. 

"Estamos ouvindo o que cada um dos lados está propondo para mediar a negociação. É o que a Prefeitura pode e deve fazer, pois, apesar dessa ser uma relação particular entre patrões e empregados, trata-se de uma concessão pública, um serviço fundamental para a população de Salvador", disse Fábio Mota.

Nesta quinta-feira (25), a Semob informou que liberou a circulação de micro-ônibus do sistema complementar e também fez remanejamentos de frota para minimizar os efeitos da ação dos rodoviários. A Semob destacou que cerca de 30% dos ônibus do sistema Integra saíram das garagens depois do horário previsto.