Com homenagem a Castro Alves, Flipelô chega à terceira edição

Evento gratuito acontece de 7 a 11 de agosto, em mais de 60 espaços do Pelourinho

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  • Da Redação

Publicado em 24 de julho de 2019 às 16:57

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Lançamento da terceira edição da Flipelô, no Convento do Carmo (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) A força da poesia libertária de Castro Alves vai dar o tom da terceira edição da Festa Literária do Pelourinho (Flipelô). O evento gratuito acontece de 7 a 11 de agosto, em mais de 60 espaços do Pelourinho. O local, aliás, não poderia ser mais apropriado. Afinal, era lá, onde há pouco mais de 130 anos negros escravizados eram castigados em praça pública. 

Conhecido como "poeta dos escravos", Castro Alves foi uma das vozes literárias mais ativas na luta abolicionista. Dentre seus poemas mais famosos, estão O Navio Negreiro e Vozes d’África, ambos publicados no livro Os Escravos. "Vamos festejar a arte da palavra nos inspirando em um dos maiores gênios da nossa literatura", disse Ângela Fraga, diretora executiva da Fundação Casa de Jorge Amado e coordenadora geral do evento, durante lançamento da programação na manhã desta quarta-feira (24), na Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus.

CONFIRA PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO SITE OFICIAL DO EVENTO (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO) Na abertura, o cantor Arnaldo Antunes e a Orquestra Sinfônica da Bahia fazem uma performance poêtico-sinfônica dedicada ao homenageado. "A Orquestra Afrosinfônica já representa tudo isso, inclusive a música que abre nosso disco é justamente Navio Negreiro. Dessa vez, vou juntar diversos textos com uma música que se relaciona com esse texto clássico do Castro Alves", comenta o maestro Ubiratan Marques, que confessa adorar poemas sinfônicos e participa da segunda vez do evento.

Como toda festa que se preze, a Flipelô vai ter uma decoração especial esse ano, quando as ruas do Pelourinho ganham enfeites projetados pelo cenógrafo Euro Pires. Para Ângela Fraga, mais uma forma de sinalizar a soteropolitanos e turistas que está acontecendo o evento. A organização espera um público de mais de 80 mil pessoas circulando nos cinco dias de festa.

No total, 145 escritores participam das atividades, que incluem mesas de debates, bate-papos, lançamentos de livros, saraus e recitais. Destes, cinco são internacionais - três a mais que na edição passada: María Vázquez (México),Oyinkan Braithwaite (Nigéria), Max Annas (Alemanha), Rómulo Bustos Aguirre (Colômbia) e Bruno Vieira Amaral (Portugal). Para Ângela Fraga, a grande mudança em relação às edições passadas é justamente a expansão da programação, com a realização de mais de 120 atividades. Dentre os nomes nacionais, destaque para o cantor Martinho da Vila, os jornalistas Edney Silvestre e Joselia Aguiar, o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras Ignácio de Loyola Brandão e a escritora Ana Maria Gonçalves.  

Outros dois grandes destaques da programação são a Feira da Sé; a Rota Gastronômica, que esse ano inclui 60 restaurantes, que montarão um cardápio especial inspirado no livro A Comida Praiana da Bahia, de Guilherme Radel, com preços de R$ 19,90 a R$ 59,90;  e as exposições Na Trilha do Poeta, feita em parceria com o Parque Histórico Castro Alves - localizado em Cabaceiras do Paraguaçu, cidade onde o poeta nasceu -, e Lendas Africanas dos Orixás, promovida pela Fundação Pierre Verger. Ambas as exposições exibirão peças originais e estarão abertas à visitação no Solar Ferrão. Na ocasião, também vai ser relançado o livro homônimo, que estava com edição esgotada há três anos. Quem adquirir o livro ou  for visitar a exposição vai poder conhecer, através de um aplicativo que pode ser mirado para as ilustrações, detalhes das histórias por trás de cada desenho de Carybé, narradas por Dona Cici. 

Jorge Amado e Castro Alves Um dos grandes admiradores da poesia de Castro Alves, Jorge Amado escreveu uma "louvação" ao conterrâneo que em suas poesias expressou a indignação aos graves problemas sociais de seu tempo: o livro ABC de Castro Alves. Nele, Jorge admite sua admiração literária, mas também sua profunda identificação pessoal, tanto no plano estético como no político e ético, com o poeta.Castro Alves foi um artista que encarou a vida de frente, que não teve medo de se envolver nos problemas dos homens [...] Como escritor uma coisa me liga poderosamente a ele: tenho sempre encarado a vida de frente e, como ele, escrevo para o povo e em função do povo. A morte precoce, aos 24 anos, por conta da tuberculose, não fez com que seu nome fosse esquecido. Castro Alves é patrono da Cadeira nº 7 da Academia Brasileira de Letras, e sempre lembrado. Ele também é o homenageado da Festa Literária de Mucugê (Fligê), que este ano acontece de 15 a 18 de agosto.

O caráter engajado e libertário de Castro Alves e de Jorge Amado foi lembrado por  Paloma Amado, filha de Jorge, que defendeu o caráter popular do evento. "Nós estamos aqui hoje para abrir mais uma vez as portas da Fundação [Casa de Jorge Amado], do Pelourinho, da Bahia, ao povo brasileiro, a quem quiser vir para participar da festa da cultura, a festa do livro, a festa do Nordeste, a festa dos baianos, a festa de todos nós”, convidou A escritora Paloma Amado participou do lançamento (Foto: Arisson Marinho/ CORREIO)