Com tecnologia, pacientes ficam mais informados e exigentes

Sites e aplicativos informam sobre médicos, permitem marcar consultas on-line e comparam preços das farmácias

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  • Gil Santos

Publicado em 15 de setembro de 2019 às 07:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arte CORREIO

Toda vez que precisa marcar uma consulta médica, a assistente de suprimentos Julyana Valente, 29 anos, corre para a internet. É navegando na tela do celular que ela procura os especialistas, se informa sobre os sintomas e agenda os encontros. Esse procedimento, que coloca a tecnologia no meio, está se tornando cada vez mais comum e não é por acaso.

“É mais fácil. Na internet eu consigo pesquisar vários médicos, ver os consultórios que atendem o meu plano de saúde e ainda consigo ver os comentários dos outros pacientes sobre o médico.  Eu encontrei o pediatra do meu filho assim. Já tinha passado por dois que não gostei, quando resolvi procurar na internet. Isso já tem dois anos”, contou.

Julyana faz parte do perfil chamado de paciente 4.0. O termo é usado para designar os impactos que as transformações tecnológicas estão provocando na medicina e, em especial, na relação entre médico e paciente. Em termos gerais, os pacientes estão ficando mais bem informados e exigentes.

Segundo um levantamento da Doctoralia, plataforma de saúde com 600 mil médicos cadastrados - 5,8 mil deles na Bahia - e 9 milhões de usuários, 60% das pessoas que usam esses serviços são mulheres, e 40% delas têm entre 25 e 34 anos. Elas pesquisam sobre saúde com frequência e são responsáveis por marcar os médicos para toda a família. Julyana disse que é ela quem faz os agendamentos para o filho, o marido, a mãe e a sobrinha.

A mudança está em tudo. A jovem contou que usa um aplicativo no celular em que ela informa na tela os alimentos que vai consumir antes das refeições. O app calcula a quantidade de calorias e divulga outros detalhes nutricionais sobre os produtos, o que ajuda Julyana a definir o tipo e a quantidade de comida que vai colocar no prato.

Existem aplicativos que calculam até a quantidade de água que o usuário precisa beber por dia, com base no peso da pessoa. Para os mais fitness, tem os que monitoram as distâncias percorridas e calorias queimadas em caminhadas, corridas e passeios de bicicleta. Outros informam sobre os batimentos cardíacos e pressão arterial, ou ainda os que oferecem videoaulas com orientações sobre atividades físicas, como yoga e abdominais.

As especialidades mais procuradas na internet são pediatria, ginecologia e dermatologia. Um dos aplicativos queridinhos dos usuários é o que compara os preços dos remédios nas farmácias. Sem sair de casa, o paciente consegue escolher o produto mais barato, o estabelecimento mais próximo ou quais deles fazem entrega em domicílio.

Futuro Para o CEO da Doctoralia, Cadu Lopes, o uso de ferramentas como sites e aplicativos facilita a relação entre médico e paciente e torna o processo mais humanizado. Ele defende que essas mudanças são a base da nova economia e acredita que vão revolucionar a área de saúde assim como aconteceu no setor de hotéis e entrega de alimentos, com a chegada do Booking e do iFood.

“Essa é a possibilidade de transformar a experiência em saúde mais humana. Oferecemos a oportunidade de agendamento on-line, de ter perguntas respondidas por especialistas da área, com informação de credibilidade, e de mandar mensagens diretas e privadas para o profissional de saúde. A plataforma permite, por exemplo, que o paciente escolha um médico pautado nas opiniões e avalições de outros pacientes. Esse é o futuro”, disse Lopes.

Em agosto, a empresa inaugurou o terceiro escritório em Curitiba e, agora, estuda abrir uma nova unidade em Salvador, São Paulo ou Rio de Janeiro. O local já intermediou mais de 2,5 milhões de consultas. A plataforma, que faz parte do grupo espanhol DocPlanner, atua em mais de 15 países e está, fisicamente, no Brasil desde 2017. Na prática, ela é especializada em marketing digital para profissionais de saúde. Os médicos pagam para fazer parte do grupo - o plano mínimo custa cerca de R$ 340 -, mas o serviço é gratuito para os pacientes. 

O ortopedista baiano Vitor Hugo Moraes contou que em cinco meses de uso da plataforma viu o número de consultas crescer em cerca de 40%.“Conheci a plataforma através de outros médicos. Eles indicaram, e eu fiz um teste por um mês. Gostei do resultado e continuei usando, porque nos dá visibilidade e facilita a busca para os pacientes”, disse Moraes, que é um dos 5,8 mil profissionais que atuam na Bahia.Outro benefício, diz ele, é que quando as consultas são agendadas, os pacientes recebem um alerta nos celulares, o que diminui o número de faltas nos consultórios. Moraes destacou também o sistema de feedback. Isso porque quando um paciente avalia on-line o atendimento, o médico recebe o comentário, o que ajudar a melhorar o atendimento.

Em Salvador, o número de consultas realizadas pela plataforma cresceu de 198 em 2017 para 7,2 mil em julho de 2019. 

Em 2017, quando a Doctoralia começou a operar, a Bahia tinha 2,2 mil profissionais cadastrados na plataforma, 1,2 mil deles em Salvador. Este ano, o número é de 3,4 na capital e 5,8 mil em todo o estado.  O ortopedista avalia como positiva a inserção de novas tecnologias na relação com os pacientes.

"Essas novidades fazem parte das transformações do mundo e se forem usadas de forma responsável e com ética serão sempre positivas. Outro benefício, por exemplo, é que quando as consultas são agendadas os pacientes recebem um alerta nos celulares, o que diminui o número de faltas nos consultórios", disse.

Já o número de acesso às páginas da plataforma cresceu de 7,4 milhões, em 2017, para 12 milhões, em 2018, e 16 milhões, em julho de 2019, em todo o país. Na Bahia, o aumento foi de 2,5 milhões para 6,4 milhões. Na capital, 1,4 milhões de pessoas interagiram com o site em 2017, mas, até julho deste ano, eram 3,3 milhões.

Esse dado representa a quantidade de ações que os usuários fizeram dentro do site da Doctoralia, como agendamento de consultas, envio de dúvidas sobre saúde, e avaliação do atendimento médico.

O número de registro de pacientes também cresceu. Em Salvador, eram 1,4 milhão em 2017. Agora, são 1,5 milhão. Em todo o estado da Bahia o aumento foi de 1,6 milhão há dois anos para 3,1 milhões em julho de 2019.

“O brasileiro é um povo conectado, é um povo que precisa e busca essas plataformas como solução para facilitar a vida, e os médicos estão começando a perceber isso”, afirmou Cadu.

Ele tem razão. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na Bahia, 8 em cada 10 jovens de 20 a 24 anos usam a internet (82,5%) e quase metade dos usuários (46,5% ou 3,7 milhões de pessoas) tem menos de 30 anos. No Brasil, essa participação é um pouco menor: 42,2%.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2017 e apontam também que 63% das mulheres baianas acessam a web. Em todo o país, 70% delas têm intimidade com a internet.

Além da Doctoralia, outros dois sites fazem o serviço de marcação de consultas on-line, na Bahia. O Boa Consulta tem 34 mil especialistas e mais de 1 milhão de pacientes cadastrados em todo o país. Já o Consulte Aqui tem 2,2 mil médicos e 15 mil pacientes, mas atente apenas duas especialidades no estado, cirurgia geral e vascular. Alguns planos de saúde também permitem esse tipo de serviço, mas a logística muda de acordo com as normas de cada empresa.

Cuidados Para o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina (Cremeb-BA), Júlio Braga, o uso de sites e aplicativos tem caráter educativo e é importante porque ajuda a população a esclarecer dúvidas sobre doenças, fatores de risco e estilo de vida, mas existem alguns pontos a serem observados.“O grande diferencial do médico em relação à tecnologia é o diagnóstico. A tecnologia veio para ajudar, mas essas informações precisam ser discutidas com quem entende do assunto que, em geral, é o médico”, afirmou Braga.Ele frisou que o Cremeb não tem como controlar o tipo de informação que está sendo divulgada pelos sites e apps, por isso, é importante buscar fontes confiáveis e conversar com o seu médico antes de seguir as orientações dessa ou daquela plataforma.

“O Ministério da Saúde e as associações e entidades médicas, em geral, são as que têm mais publicações isentas de interesse, porque boa parte dos serviços públicos acaba tendo algum grau de informação, mas não é tão detalhada quanto os especialistas, como as sociedades de cardiologia ou de endocrinologia, por exemplo. Em outros sites, você pode estar sujeito a ser orientado por um grupo de interesse, como laboratório e outras empresas que patrocinam aquela plataforma”, disse Braga.

Interação Ferramentas como WhatsApp, chats e outras tecnologias de interação têm influenciado também na proximidade entre os profissionais e os pacientes. Quando a estudante Bianca Oliveira, 24, precisa falar com a ginecologista dela, manda um 'whats', como ela diz. “Nem sempre ela pode responder na hora, mas assim que possível ela responde. Em outros tempos, eu teria que marcar uma consulta e esperar uma semana ou mais para esclarecer uma dúvida”, contou.  

A Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge) disse, em nota, que uma das características desse novo perfil de paciente é o imediatismo. Ele quer mais informações, maior qualidade, e quer agora.“Se os médicos não se digitalizarem, não entenderem que o paciente quer se relacionar de forma digital – e é possível se relacionar com o paciente de forma digital segura, por meio da telemedicina responsável – talvez o paciente procure outro profissional que o faça”, afirma a nota.A presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindmed), Ana Rita de Luna, disse que essa interação é uma faca de dois gumes. Ela acredita que a tecnologia facilitou a transmissão de conteúdos e a marcação de consultas, mas ela não substitui o encontro presencial, quando o profissional tem a possibilidade de avaliar melhor os sintomas do paciente e fazer um diagnóstico mais preciso.

“Essa troca de informações, essa celeridade na forma de se abordar condutas e procedimentos terapêuticos, é bem-vinda. O que nos traz a preocupação é a questão ética em relação ao cuidado com o paciente. A medicina trata da vida das pessoas, do seu bem mais caro que é a saúde”, disse.

Ela acredita que existem casos em que a interação e o uso de apps não são suficientes. Por uma questão ética, a presidente do Sindmed preferiu não indicar nenhuma plataforma de informação considerada confiável.

“Dependendo do grau de complexidade da doença e da dúvida, a interação on-line entre médico e paciente pode não funcionar. Uma coisa é, pela internet, dirimir uma dúvida a respeito de um curativo ou uma virose, outra coisa é o paciente achar, pressupor, porque ele não tem obrigação de saber, que um médico por aquela plataforma possa tirar uma dúvida sobre uma interação de antibióticos com algum outro tipo de medicação, por exemplo”, afirmou.

Confira alguns aplicativos gratuitos que podem ajudar a sua saúde

RunKeeper – Ele monitora corrida, caminhada, passeio de bicicleta, trilhas, mountain bike e muito mais usando o GPS do telefone. Oferece informação como estatísticas detalhadas sobre o seu ritmo, distância, tempo e calorias queimadas.

Daily Yoga – Oferece vídeos em HD de ensino de ioga, com durações e níveis diferentes, além de instruções e música suave para a aulas. O usuário também tem acesso a uma comunidade móvel que pode ajudá-lo a fazer novos amigos.

Water Drink Reminder – Ele calcula a quantidade de volume de água que você precisa beber, de modo personalizado a sua necessidade diária. Você só precisa digitar o seu peso atual e o app calcula quanta água seu corpo precisa todos os dias.

Despertador inteligente – O app é ideal para quem tem preguiça de sair da cama. Ele oferece diferentes formas de fazer seu cérebro funcionar e te obriga a levantar, como por exemplo fazer um teste de matemática, exigir que você balance o celular mais de 10 vezes, reproduzir um desenho ou digitar um código de barras. Sem isso, o despertador não para.

Sleep Cycle – Esse também é um despertador inteligente, mas voltado para quem tem tempo de sobra, como nas férias ou nas folgas. A tecnologia acompanha seus padrões de sono usando análise de som ou de vibração, monitorando seus movimentos na cama durante as diversas fases do sono e te acorda no sono leve. Ele fornece também estatísticas detalhadas e gráficos diários do sono.

Consulta Remédios - O App é um comparador de preços on-line. Ele pesquisa e compara os preços de mais de 80 mil itens, entre medicamentos, cosméticos, produtos de perfumaria, higiene e beleza, em diferentes farmácias. Inserindo o CEP na busca, o cliente pode checar também quais lojas realizam entregas na sua região.

Hora do remédio! – É um app que alerta para o horário dos remédios. Ideal para quem tem que fazer uso de mais de uma medicação por dia. É possível configurar vários horários diferentes, para medicamento contínuo ou não.

Runtastic Results – Ele oferece planos de treino funcional personalizados, utilizando apenas o peso corporal. Os planos ajudam a perder peso, treinar para ganhar massa muscular e entrar em forma com sessões de abdominais, pranchas, agachamentos, flexões de braço e outras variações.

Runtastic Six Pack – Esse app foca exclusivamente nos exercícios que podem ajudar a melhorar o abdômen. Ele oferece plano de treino com diferentes níveis, animações e guias em vídeo com exemplos e orientações.

Contador de Calorias – Ele tem um banco de dados com as informações nutricionais de diversos produtos alimentícios. Através do app é possível calcular quanto de caloria está sendo ingerida e quais os alimentos mais adequados para treinos, dietas etc.

Monitor de Frequência Cardíaca – É o aplicativo que mede a frequência cardíaca e promete otimizar e acompanhar o progresso dos exercícios. Coloque a ponta do seu dedo indicador com a câmera do telefone e em um par de segundos, os batimentos serão exibidos.

* O jornalista viajou a convite da Doctoralia