Comércio fecha e feira é esvaziada em dia de enterro de Zé de Lessa

Corpo foi enterrado na tarde deste sábado (7), e velado na casa da mãe, em Mulungu do Morro

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  • Fernanda Santana

Publicado em 7 de dezembro de 2019 às 15:34

- Atualizado há um ano

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O comércio da cidade de Mulungu do Morro, na Chapada Diamantina, ficou fechado desde a chegada do corpo de Zé de Lessa, morto na última quarta-feira (4) e apontado como líder da facção Bonde do Maluco (BDM). O corpo do criminoso foi enterrado na tarde deste sábado (7) e velado na casa da mãe, que ainda mora no município.

O clima na cidade é de cautela, e muitos barraquistas sequer apareceram na feira tradicionalmente realizada aos sábados, que permaneceria no centro da cidade até 14h, num dia habitual.“O movimento tá bem fraco, muita gente nem apareceu, e os poucos decidiram fechar”, falou o dono de uma loja, com o pedido de não ser identificado. Os moradores que podiam preferiram ficar em casa depois que, em áudios transmitidos por mensagens, criminosos ameaçaram qualquer sinal de “desrespeito” à memória do “Veinho”, como era conhecido Zé de Lessa. Não há nenhum esquema especial de segurança para o velório, segundo a polícia.

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Apontado como líder da facção Bonde do Maluco (BDM), o então bandido mais procurado do estado foi morto na última quarta-feira (4), em uma área rural do estado do Mato Grosso do Sul, onde vivia em condição de foragido, após ter seu esconderijo descoberto pelos policiais.

O corpo foi trazido de avião até Salvador, segundo o coordenador regional de Polícia Civil de Seabra, Marcus Araújo, e depois seguiu, por estrada, até Mulungu. Zé de Lessa nasceu num povoado conhecido como Recife, em Carfanaum, também na região da Chapada. Desde a morte do criminoso, pelo menos oito festas foram canceladas, depois que áudios supostamente gravados por comparsas foram transmitidos. 

Alerta Com a morte de Zé de Lessa, foi emitido um alerta pelo Serviço de Inteligência (SI) da Secretaria de Segurança Pública (SSP) para que os agentes ficassem atentos a possíveis ataques do BDM em todo o estado.

A intenção é deixar os agentes em stand-by no final de semana, quando há uma redução do efetivo. “Não estamos falando de um bandido qualquer e, sim, do líder de uma das maiores facções do estado e que costumava agir com muita violência”, disse uma fonte da SSP ao CORREIO e que preferiu não revelar o nome. Uma das ações recentes da facção resultou na morte de uma pessoa e outras duas feridas em São João do Cabrito. 

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Zé de Lessa era o Ás de Ouros do Baralho do Crime da SSP, um arquivo que reúne os principais criminosos do estado. Ele tinha envolvimento com ataques a bancos, assaltos a carros-fortes, sequestro e tráfico de drogas. Zé de Lessa estava escondido no Paraguai. Em 2018, ele conseguiu fugir de uma caçada policial.

Procurada, a assessoria de comunicação da SSP negou o alerta e informou que o policiamento no estado não será reforçado. Apesar disso, a fonte disse ao CORREIO que a possível represália do BDM foi o principal assunto de uma reunião que aconteceu na tarde dessa sexta-feira (6) com agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). A reunião acontece, habitualmente, todas as sextas para discutir as ações no final de semana com assuntos de repercussão, como chacinas, crimes sexuais e casos de repercussão. “A nossa preocupação é com a taxa de homicídios que pode subir por causa dos seus soldados e com outras ações de costume da facção como ataques a ônibus, bloqueio de pistas e explosões de instituições financeiras”, disse a fonte ao CORREIO.A fonte contou ainda que um dos pontos da reunião é saber quem será o sucessor de Zé de Lessa. “Ainda não há um nome forte, alguém do grupo que esteja em evidência, que seja conhecimento do departamento (DHPP). Por isso vamos nos reunir para cruzar as informações de cada área de atuação nossa e mapear os nomes que podem chegar à liderança da facção”, declarou a fonte.

O outro assunto é a ação dos rivais. Com a morte de Zé Lessa, a estrutura da facção tende a declinar. “O que a gente sabe é que tudo passava por ele. Era um centralizador. Agora, a tendência é um ataque dos rivais, o que é óbvio. Atualmente, o maior rival é o CP [a facção Comando da Paz] e vai procurar o lugar mais vulnerável. Mas tem lugares que são impossíveis, como na Mata Escura, pois os soldados de lá estão bem armados”, explicou a fonte.