Conheça a igreja que há mais de 400 anos é parte do cenário da Península de Itapagipe

Paróquia da Penha comemorou 260 anos de seu título nessa terça-feira (22)

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  • Vinicius Nascimento

Publicado em 23 de janeiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arisson Marinho/CORREIO

Quando a imagem do Senhor do Bonfim chegou a Salvador, vinda de Setúbal, em Portugal, a famosa igreja sequer existia. Colina Sagrada? Muito menos. Era só um monte rodeado por água. Contudo, a imagem já estava na capital baiana naquele ano de 1745 e precisava de algum abrigo. A solução foi oferecida por um arcebispo chamado D. José Botelho de Mattos, o oitavo da história de Salvador, que ofereceu sua pequena ermida, há pouco mais de 3km do Bonfim, pelo tempo que fosse necessário. E assim foi.

Por nove anos, a conhecida imagem do santo que levou cerca de dois milhões de fiéis para as ruas da Cidade Baixa ficou nessa pequena capela, que existe há mais de 400 anos. Há 260, ganhou status de Paróquia, mais alto escalão entre as Igrejas no catolicismo. Trata-se da Paróquia da Penha de Itapagipe.

Desde agosto de 2018, a Paróquia da Penha ganhou um novo líder: Homero Gomes Rebouças Filho. Nascido em Teixeira de Freitas, ele foi um dos responsáveis pela missa festiva dessa terça-feira, quando a data foi comemorada.“É uma emoção e responsabilidade muito grandes. Estamos falando de uma igreja que existe há mais de quatro séculos. Há muita história guardada aqui”, disse o padre, de 39 anos.Junto ao pároco Homero, outros dois padres que já fizeram parte da Penha participaram da missa de celebração. Um deles foi o padre Jair Arlego, que dedicou sete anos ao local e, atualmente, atua na igreja da Santo Amaro de Ipitanga, em Lauro de Freitas. Ele chegou à Penha em 2002, a mando do então arcebispo de Salvador D. Geraldo Magela, e encerrou sua passagem em 2009, após um novo pedido do religioso.  Padre Jair Arlego (à esquerda), padre Homero (no centro) e padre Giuseppe (à direita) celebraram a missa (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Arlego conta que, devido a desavenças entre Dom José Botelho e o Marquês de Pombal, antigo governante da Bahia, ele foi exilado da sua antiga Igreja, nas proximidades do Palácio da Sé. Determinado, D. Botelho, ou simplesmente Bobô, atravessou a antiga Salvador, desceu até o bairro da Penha e montou sua casa em uma capela construída em homenagem à Nossa Senhora da Penha. E seguiu junto a alguns jesuítas com sua obra até o ano de sua morte. Até hoje, seus restos mortais estão sepultados na pequena igreja, que depois virou freguesia e hoje é uma paróquia.“Nossa Senhora da Penha é a mãe do Senhor do Bonfim”, explica o padre Jair.O outro que estava na celebração foi o padre Giuseppe, que veio diretamente da Itália, na cidade de Gênova, a convite do pároco Homero.“Sou feliz por ter celebrado essa missa tão bonita, movimentada, cantada, muito, muito bonita”, falou o padre, com direito a tradução simultânea do padre Homero.Fiel da Igreja há nove anos, a dona de casa Luciene dos Santos, 40, conta que começou a frequentar a paróquia de uma forma inusitada: foi na mesma época que começou a correr na orla da Ribeira. Ela explica que sempre que passa pela igreja acaba dando uma paradinha para se refrescar e, volta e meia, até fazer uma prece.“É um lugar onde me sinto bem”, conta a dona de casa. Luciene começou a frequentar igreja após corrida na orla (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) História Reza a lenda que alguns pescadores se lançaram nas águas da Baía de Todos-os-Santos, mais especificamente no mar de Itapagipe, e após a pescaria se encontraram em apuros no retorno para casa. Eles simplesmente se perderam e passaram dias a fio no meio do mar. Em terra firme, as esposas, amigos e familiares sentiram falta daqueles pescadores: não era normal que demorassem tanto. A solução encontrada pelos entes queridos foi levantar as mãos aos céus e rezar para que retornassem com vida.  Missa de celebração atraiu fiéis (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Enquanto isso, os pescadores lutavam para voltar para suas casas. Eis que avistaram uma espécie de farol. Ou seria uma luz? Não tiveram dúvidas e seguiram em direção àquele feixe que se tornou uma esperança de voltar para seus lares. Poderia ser ao menos um lugar seguro. Chegando perto da misteriosa luz, avistaram uma senhora sobre uma rocha de pedra. Ela carregava uma criança nos braços e tinha nas mãos uma luz que iluminou a todos. Esse episódio se repetiu algumas vezes em outros lugares. Os pescadores foram seguindo a luz até que um dia chegaram em casa. 

Para os fiéis, essa mulher era ninguém menos que Nossa Senhora, a mãe do menino Jesus. Foi devido à homenagem e gratidão por guiar aqueles pescadores até o caminho de casa que Antônio Cardoso de Barros, donatário da Capitania Hereditária do Ceará, decidiu construir uma pequena ermida em Itapagipe.

Assim nasceu a Paróquia da Penha de Itapagipe. O ano de fundação é um mistério até para os padres que passaram pela Igreja, mas sabe-se que desde 1560 há registros daquela igrejinha no local. A informação é de Luan Sacramento, escrivão da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Penha de França.

*Sob supervisão da subeditora Fernanda Varela