Cooperativas da Bahia participam de evento gastronômico na Itália

Chefs vão preparar ceias com temperos e especiarias produzidos em diversos pontos do estado

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  • Georgina Maynart

Publicado em 19 de setembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Participantes da feira Slow Food embarcam para Itália a partir do Aeroporto de Salvador (foto: André Frutôso / Divulgação)

As malas estão cheias de sabores e histórias. Tem chocolates especiais do Sul da Bahia, doce de corte de umbu e geléia de maracujá de Canudos, chocolates com 70% de cacau do Sul do estado, e licuri caramelizado do Piemonte da Diamantina. Na bagagem cabe ainda o mel da Caatinga Central, a banana-da-terra chips do Baixo Sul, dendê de pilão do Recôncavo, café da Chapada Diamantina, e um mix com castanha de caju, abacaxi e banana do Nordeste da Bahia. Todos estes alimentos foram produzidos por agricultores baianos que embarcaram nesta terça-feira rumo a Turim, na Itália.

Os produtos estão sendo levados para o Terra Madre, um evento bianual que reúne produtores de alimentos de 160 países. O evento é organizado pelo Slow Food, movimento criado por chefes de cozinha de vários países. O movimento prioriza alimentos gerados de forma artesanal, produzidos através de processos que garantem a preservação ambiental, o preço justo, a economia solidária, a sustentabilidade e o respeito aos agricultores.

Este ano, nove cooperativas baianas foram convidadas pelo movimento Slow Food para participar do Terra Madre. Elas receberam o apoio da Secretaria de Desenvolvimento Rural do Estado (SDR) e durante quatro dias vão expor dezenas de produtos oriundos das lavouras baianas.

Cacau

Os representantes dos produtores de cacau de Ibicaraí, no Sul da Bahia, estão levando amêndoas torradas, nibs de cacau parazinho e chocolates recheados com frutas da região, como o cupuaçu. São alimentos produzidos pelos 60 integrantes da Cooperativa de Agricultura Familiar e Economia Solidária da Bacia do Rio Salgado (Coofesba). São alimentos beneficiados na primeira agroindústria familiar da Bahia e comercializados com a marca “Bahia Cacau”. Com o selo Cacau Bahia, produtores de cacau de Ibicaraí, no sul da Bahia, estão levando amêndoas torradas e chocolates recheados com frutas da região (foto: divulgação)

A produção é enviada para estados como São Paulo e Paraná, e vendida também em delicatessens, nos supermercados e na lojinha mantida pela cooperativa na região. “Nós usamos menos leite, menos açúcar e mais cacau nos nossos produtos. Pagamos preços justos aos produtores, atualmente até R$ 220 pela arroba do cacau. A ida à Itália significa a possibilidade de trocar experiências com pessoas que também produzem alimentos de qualidade, respeitando o meio ambiente e os biomas, no nosso caso, a mata atlântica”, afirma Osaná Nascimento, presidente da Coofesba.

Castanhas

Os 750 integrantes da Cooperativa de Cajucultura Familiar do Nordeste da Bahia enviaram castanhas fritas e salgadas. O representante da cooperativa está levando amostras da produção de 21 cidades das regiões do Semiárido, do Sertão, do Território do Sisal e do Litoral Norte.

“As castanhas dos nossos cooperados são produzidas através de um processo de temperatura controlada, que não deixa saturar, mantem o teor de óleo e a gordura da castanha intacta. Nossas castanhas estão lindas e gostosas, prontas para serem degustadas in natura, acompanhando queijos, ou em pratos da culinária internacional. A viagem a Itália é uma forma de apresentar nossos produtos para novos mercados, conhecer outras culturas e trocar experiências com a comunidade do Slow Food", pontua Ícaro Rennê, presidente da Coopercaju. A cooperativa, com sede em Ribeira do Pombal, beneficia cerca de 30 toneladas de castanha por safra.  Representante da Coopercaju leva amostras de castanhas produzidas em 21 cidades baianas (foto: divulgação)

Slow food

Na Bahia o movimento slow food conta com representantes de peso. As líderes do movimento no Brasil, Reveca Cazenave-Tapie e Valentina Bianco, e os chef renomados Lisiane Arouca, Caco Marinho e Fabrício Lemos. Todos também embarcaram para a Itália.

“Os nossos alimentos dialogam com o conceito filosófico do movimento. Usamos ingredientes bons, limpos e justos, em conformidade com a questão ambiental. São alimentos que precisam dar prazer, nutricionalmente falando, mas que também gere remuneração para o produtor”, explica Caco Marinho. 

“O Terra Madre é o momento para acessar a biodiversidade planetária. Vamos encontrar em um só lugar ingredientes de várias partes do mundo, de culturas diferentes. Eu estou amando a idéia de encontrar outros representantes do Slow Food internacional e mostrar todo o potencial da Bahia”, acrescenta Marinho.

Mel premiado

Os chefs da Bahia vão preparar na Europa ceias produzidas com temperos e especiarias de cada lugar de origem. Entre os ingredientes, estão própolis e mel de abelhas sem ferrão do Brasil, as chamadas abelhas nativas.

Duas porções se destacam. São exemplares de méis campeões, produzidos por abelhas de dois meliponários da Bahia. Eles saíram vencedores, este mês, do 6º Concurso Nacional de Méis de Abelhas Nativas, promovido pela AME-Rio, Associação de Meliponicultores do Rio de Janeiro. 

O mel produzido pelo criador de abelhas sem ferrão, Pedro Viana, no Litoral Norte da Bahia, conquistou o segundo lugar na categoria mel refrigerado. “Ficamos muito feliz com o resultado. Depois de tanta dedicação, chega o tempo de colher os frutos. É um grande incentivo”, diz Pedro Viana, criador de abelhas sem ferrão há mais de 15 anos. Já o mel das colméias da meliponicultora Gena Sousa, de Vitória da Conquista, foi considerado o melhor do Brasil na categoria desumidifcado. Para chegar aos vencedores, a comissão julgadora provou 25 amostras de produtores de vários estados do Brasil. O mel de abelhas sem ferrão tem sido preferido pelos chefs de cozinhas na preparaçao de pratos (foto: divulgação) O mel de abelha sem ferrão tem sido o preferido dos chefs de cozinha, por ser mais úmido que o mel de abelha com ferrão, ter leveduras selvagens, e temperatura ideal para fermentação controlada. “Além de encantar pelo sabor, textura e odor, é um mel que enche a boca de água, com um teor de umidade que quebra o excesso de doçura. O mel é mais do que uma alternativa edulcorante, quando interage com a acidez, ele é também um elemento estimulante do paladar”, explica Caco Marinho, que participou da comissão julgadora e reservou lugar especial na mala para o mel produzido na Bahia.