Coordenador da Funai morre após levar flechada de indígenas isolados

'A gente só escutou o barulho da flecha no peito dele', diz testemunha

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  • Da Redação

Publicado em 10 de setembro de 2020 às 10:56

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arquivo pessoal

O coordenador da Frente de Proteção Etnoambiental Uru-Eu-Wau-Wau (FPEUEWW) da Fundação Nacional do Índio (Funai), Rieli Franciscato, 56 anos, morreu nesta quarta-feira (9) após ser atingido no tórax por uma flecha disparada por indígenas isolados em Rondônia. As informações são da TV Globo e portal G1.

Segundo a Polícia Civil e a Associação Etnoambiental Kanindé, o caso aconteceu nas proximidades da Linha 6 em Seringueiras (RO). A Kanindé acrescentou que os indígenas isolados não sabem a distinção entre defensor e inimigo, reforçando que o território "está sendo invadido e os índios estão tentando sobreviver".

Desde os anos 1980, Rieli era uma das grandes referências nos trabalhos de proteção aos indígenas isolados da Amazônia. O coordenador defendia o não contato com o grupo e atuava para evitar um conflito com a população local. Também fez parte da equipe que demarcou a primeira terra exclusiva para indígenas isolados.

Em um áudio, um policial amigo de Rieli narrou os momentos que antecederam a morte. Segundo ele, os indígenas não contactados apareceram próximos a um acesso viário. Ele e outra colega da corporação estavam de plantão e registraram a ocorrência de averiguação.

"O Rieli chegou aqui, pediu apoio pro sargento, se a gente poderia ir com ele lá, porque lá é uma área de conflito. O sargento liberou a gente pra ir, a gente foi. Quando a gente chegou lá onde eles apareceram, ele entrou em contato com a senhora dona da terra e perguntou se podia dar uma olhada por onde eles tinham vindo", narrou o policial.

De acordo com o delegado de Seringueiras, Jeremias Mendes, os policiais, ao perceberem que estavam sendo atacados por flechas, se abrigaram atrás da viatura, “mas a vítima (Rieli) não conseguiu se abrigar a tempo. Quando cessaram os ataques, viram a vítima caída e já não havia indígenas”.

Antes, os policiais e Rieli haviam adentrado a região seguindo as pegadas dos indígenas. Quando chegaram na divisa, segundo o relato, viram a placa da reserva com aviso de entrada proibida. Então Rieli começou a subir um morro.

"A soldado Luciana estava atrás dele e eu um pouquinho atrás dela. A gente só escutou o barulho da flecha que pegou no peito dele aí ele deu um grito, arrancou a flecha e voltou pra trás correndo. Ele conseguiu correr de 50 a 60 metros e já caiu praticamente morto. Nosso amigo se foi, infelizmente", narrou um policial que presenciou o ataque.

De acordo com boletim de ocorrência, o coordenador foi socorrido e levado por dois policiais militares ao Hospital Municipal de Seringueiras, mas acabou não resistindo e morreu.

A ambientalista e coordenadora da Kanindé, Ivaneide Bandeira, lamentou a perda. “Ele fundou a Kanindé junto comigo. É uma perda enorme aos indígenas e ao Brasil. A vida toda ele trabalhou com indígenas isolados”, declarou ela sobre Franciscato, que era de Alta Floresta (RO), estava desde 2007 na Funai, mas atuava como coordenador da FPEUEWW desde 2013.