CORREIO está perto dos fatos desde 1979; conheça a história

Veja produtos que marcaram a história do jornal

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  • Da Redação

Publicado em 15 de janeiro de 2019 às 02:00

- Atualizado há um ano

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Chegamos às bancas com 92 páginas, na manhã do dia 15 de janeiro de 1979. A caminhada de dois anos até a impressão daquele primeiro periódico enfim tinha chegado ao fim. Às 22h do dia anterior, o primeiro Correio da Bahia desceu à gráfica. Comemoramos, todos os 74 integrantes da equipe novata, após quatro pilotos lançados. O telefone do editor-chefe, Sérgio Tonielo, tocou ainda bastante cedo. O chefe de circulação do jornal havia sumido. E era ele o responsável pela distribuição dos 68 mil exemplares. Foi assim, na agonia, nosso primeiro dia de vida. Sobrevivemos para contar nossos próximos 40 anos.   Um ano antes, o telefone de Sérgio soou por outro motivo. Do outro lado, Antonio Carlos Magalhães, que dois meses depois assumiria pela segunda vez o Governo da Bahia. “[Ele] me perguntou se eu queria fazer um jornal... não acreditei. Fundar, editar um jornal? Isso era motivador”, lembra. O gaúcho seguiu para Salvador imediatamente. Começamos o trabalho em um prédio na Avenida Paralela, onde funcionaríamos por 27 anos.Nossa ligação com a Bahia, isso não vai mudar nunca. Nós trabalhamos para o desenvolvimento econômico, social e cultural da Bahia. Esse é o nosso princípio básico. Fazer tudo o que for possível para a Bahia ter destaque.  Esse princípio só foi aprimorado. Antonio Carlos Júnior, presidente do Conselho de Administração da Rede BahiaCLIQUE AQUI E VEJA ESPECIAL COMPLETO CORREIO 40 ANOS+

Nas reuniões com os mais próximos, a partir dos anos 1970, ACM sinalizava a vontade de criar um jornal. A essa altura, já sabia que deveria ser a Bahia o tempero de tudo. “Ele queria que algum veículo tivesse e fosse realmente defensor da Bahia. Esse era o objetivo: um efeito de promoção do estado, um instrumento”, recorda o filho Antonio Carlos Júnior, diretor da Rede Bahia. Por isso, não um Correio qualquer. Um Correio da Bahia.

Antes, houve da parte de ACM, junto a outro grupo, a tentativa de comprar o Jornal da Bahia, ligado à oposição e ferrenho crítico da Ditadura Militar. Não conseguiram e os caminhos levaram à criação do Correio. A Tarde, líder absoluto, Diário de Notícias, Tribuna da Bahia e Jornal da Bahia eram os grandes noticiários. Nascemos num ambiente de florescência do jornalismo impresso. Mas, também de desconfiança.

A Ditadura e o acirramento político começaram a respingar nas páginas. No nosso primeiro editorial, escrito por Mino Carta, um aviso: ”ninguém se espante se muitas vezes os sentimentos aflorarem mais veementes, nas colunas deste jornal”. O Correio tem uma característica muito importante: consegue ter muita flexibilidade, uma linguagem adequada aos soteropolitanos. A gente consegue ir direcionando o conteúdo do jornal atento às mudanças. A gente consegue se destacar por nossa relevância e credibilidade. É um legado estar próximo do leitor. Renata Correia, acionista e Diretora do CORREIO“O objetivo inicial não era esse. Acabou tomando um posicionamento político até pelo acirramento. Mas, isso foi uma fase que, depois, começamos a repensar. Antes mesmo da morte de ACM (2007), começamos a articular essa mudança”, afirma Antonio Carlos Júnior.

Antes da mudança, retornemos à confusão com o chefe de circulação. Quando encontrado, ele recebeu apenas o aviso da demissão. A redação começou, aos poucos, a criar a própria rotina e encontrar o tom. Também acompanhamos as transformações. O Olodum seria criado em março, três meses depois da nossa primeira tiragem. O axé, no ritmo do fricote de Luíz Caldas, em 1985.

Em 20 de fevereiro daquele ano, destacamos: “Trios elétricos: corpo e alma do carnaval baiano“. A Bahia nunca nos escapou. Osmar Martins, o Marrom, funcionário mais antigo do CORREIO e dono de prodigiosa memória sobre a cultura baiana, lembra: “O jeito foi apostar na Bahia. Nessa época, era uma efervescência total. Até os barzinhos pegavam fogo”. Desse período até 1986, Ana Lucia Magalhães, filha de ACM, foi diretora do jornal e responsável pela coluna Gente, com atualizações sobre a cultura, o cotidiano e a sociedade baiana.Esse jornal saiu do nada e hoje é um dos mais lidos do país. Tenho muito orgulho de nossa história. No início, isso aqui era uma tipografia. Investimos e hoje somos grandes. Wilson Maron, Conselho de AdministraçãoDa maioridade, avante Os jornalistas ultrapassavam uma porta vai-vém para chegar à nossa primeira redação. Reuniam-se em mesas redondas e redigiam suas matérias em máquinas de datilografia. Era comum encontrar bitucas de cigarro entre as folhas de papel e jornalistas com bebidas às mãos. “Dizem que o jornalismo é boemia”, brinca o fotógrafo Almiro Lopes, conhecido como Maguila, que dedicou boa parte dos 36 anos de jornal à cobertura policial. “Naquela época, o texto era mais nostálgico, mais apurado”, afirma o arquivista Milton Luiz Cerqueira da Silva, 54, talvez o ser humano que mais conheça a história do jornal. 

Conhecido na redação como Bozó, Milton, junto com Maguila, forma uma dupla entre os personagens mais folclóricos do jornal. Mas, outros que já deixaram a redação não podem deixar de ser lembrados. João Borges Boujet, o Boujet, e José Carlos Mesquita, o Zé do Rádio, dois rubro-negros da editoria de esportes nos anos 1980 marcaram época. No estádio, além de trabalhar, Boujet berrava na beira do campo e aprontava horrores contra o adversário. 

“Teve uma vez que Beca, jogador do Itabuna, ia subir para cabecear a bola e Boujet fingiu que tava com uma pedra na mão. Beca se abaixou e perdeu o lance”, lembra Milton. Em outro momento, o zagueiro Otávio Souto, do Vitória, estava prestes a ser vendido para outro clube. “Boujet escreveu uma matéria dizendo que o jogador estava com o joelho bichado. A negociação melou e ele veio na redação atrás de Boujet, que se escondeu na cantina com uma faca”, narra, aos risos, Milton. Pelo jeito, definimos até carreiras no futebol.É um orgulho para todos nós chegarmos aos 40 anos como líderes em circulação e audiência. Isso só foi possível graças aos que fizeram e fazem parte desta história. Queremos comemorar esta data com um calendário de projetos editorais e ações que começa hoje com esta edição e se estenderá por todo o ano. E, mais do que tudo, continuar a oferecer um jornalismo de credibilidade, essencial em tempos de fake news. Roberto Gazzi, diretor de Jornalismo e Mídias DigitaisSim, temos muito o que lembrar. As tragédias, as festas, o cotidiano, os funerais: as histórias sempre foram nosso impulso. “Lembro que, quando estava fraco, a gente ía para estrada do CIA Aeroporto. Olhava para o céu e, quando via os urubus, sabia que tinha coisa”, lembra Maguila.

Em 1989, firmamos a busca pelas histórias e seus atores. Num quarto do Hotel Le Méridien, atual Hotel Pestana, os jornalistas Paulo Adário e Laerte Moraes discutiam, sob sigilo, uma virada editorial. A novidade seria o “Quem”, o personagem das notícias, as fotos maiores e informações mais objetivas. Em setembro, inauguramos uma nova forma de pensar e traduzir fatos. “O princípio  só foi aprimorado”, acredita Antonio Carlos Júnior.

Nessa primeira reforma gráfico-editorial, o jornal passou a ser dividido em cadernos. Um ano depois, Demóstenes Teixeira assumiu como editor-chefe e, em 1996, coordenou, com Moisés Júnior, uma reforma ainda maior. Ganhamos cor nas capas principal e dos cadernos. Em 2000, o jornal, que só saía até os sábados, passou a circular aos domingos.   Primeira redacão  do jornal, perto do lançamento da primeira edição. No comando,  Sérgio Tonielo, de pé à esquerda (Foto: Arquivo CORREIO) No domingão, investimos na área cultural. Se sempre demos atenção às questões de identidade negra e racial, as histórias dos diversos personagens negros resgatadas no Correio Repórter deixaram isso ainda mais evidente. 

“A ideia era reforçar a cobertura local, cultural e de história da Bahia”, explica Demóstenes. “Também passamos a humanizar mais as reportagens”, confirma Ana Paula Ramos, na época editora-coordenadora do Aqui Salvador e Correio Repórter.  

Decidimos, então, que seria a hora de uma nova casa. No mês de julho de 2006, saímos da Paralela e chegamos à Federação, onde já funcionavam outras empresas da Rede Bahia. Daí em diante, a partir de 2008, viramos a página desses 29 anos. Uma nova história começou!    

PRODUTOS QUE MARCARAM NOSSA HISTÓRIACORREIO REPÓRTER: fazendo história Suplemento publicado aos domingos, entre os anos 2000 e 2007, o Correio Repórter fez história. Projeto de Ana Paula Ramos e coordenação de produção de Linda Bezerra, nossa atual editora-chefe, produziu grandes reportagens com foco nos maiores personagens e fatos da nossa história. De matérias sobre os saveiros esquecidos e tesouros perdidos no mar até as trajetórias de personalidades como Mãe Menininha e Juliano Moreira, tornou-se referência. A equipe tinha nomes como Mônica Celestino, Adriana Jacob, Pablo Reis e Flávio Novaes. “O Correio Repórter foi uma aula de história e uma pós-graduação em história da Bahia para nós jornalistas e, antes de mais nada, para os leitores”, afirma Novaes. Um sem-número de histórias contadas ganhou prêmios. Histórias também de desconhecidos. Na contracapa, havia o chamado Perfil, que revelava personagens anônimos da cidade. 

FOLHA DA BAHIA: marcando época Outro caderno que se tornou referência de jornalismo na fase antiga do CORREIO foi o Folha da Bahia. Suplemento publicado diariamente, trazia a cena cultural local e muito mais. Teatro baiano, afro-baianidade, música pop mundial e artigos assinados por jornalistas de primeira linha. “O Folha era uma celebração de diferenças, o que enriquecia o conteúdo”, define a jornalista Isabela Larangeira. O Folha também descobriu muitos talentos. Inclusive de moda. Antes do Bazar surgir, em 2000, foi o primeiro a falar, por exemplo, da existência de uma tal de Adriana Lima, hoje top model internacional. “Adriana, finalista do prêmio Ford Models”, anunciava o título da matéria. “É muito provável que, dentro em breve, ela esteja, mesmo que não ganhe a final, estampando editoriais de moda e capas de revista”, profetizou o texto. O Folha marcou época!

BAZAR: criando moda O Bazar foi lançado no dia 7 de maio de 2000, com a proposta de trazer destaques de moda, gastronomia, comportamento, turismo e beleza. O jornalista Jamil Moreira Castro foi convidado para coordenar o projeto. O caderno abriu portas para o CORREIO participar dos grandes eventos de moda no país, como o atual São Paulo Fashion Week. “Durante anos, apenas o CORREIO cobria os eventos nacionais como esse“, diz Jamil. Mesmo com a reforma de 2008, o Bazar foi mantido sob comando das jornalistas Gabriela Cruz e Paula Magalhães. “Semanalmente, a equipe tem o desafio de criar e produzir pautas inovadoras em todas as editorias que o caderno atende”, diz Gabriela, hoje editora de conteúdo do Estúdio Correio, setor de projetos do jornal que, desde 2015 realiza o Afro Fashion Day, o primeiro desfile de moda negra do país, concebido na época pelo então diretor de redação, Sérgio Costa.

 

*com supervisão do editor João Gabriel Galdea