CP invade localidade da BDM no Cabula e deixa dois mortos

Vítima teve pé decepado; pelo menos 20 homens participaram do ataque, segundo a polícia

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  • Tailane Muniz

Publicado em 22 de agosto de 2019 às 10:32

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Tailane Muniz/CORREIO

O início desta quinta-feira (22) foi de tensão para os moradores do Cabula, em Salvador. De acordo com a Polícia Civil, criminosos da facção Comando da Paz (CP) invadiram a área de comando do Bonde do Maluco (BDM) - às margens da Estrada das Barreiras - e deixaram dois mortos. A Polícia Militar informou que, após o crime, reforçou o policiamento no local.

O embate ocorreu por volta de 5h, quando pelo menos 20 homens do CP que atua na área da Babilônia, na Engomadeira, invadiram o bairro vizinho. Dois homens, identificados como Márcio Rangel Xavier, 32 anos, e Matheus Almeida dos Santos, 24, foram mortos a tiros.  Márcio e Matheus foram mortos na Estrada das Barreiras por integrantes da facção Comando da Paz (Foto: Reprodução) Matheus teve o pé esquerdo decepado, e o direito parcialmente cortado. O membro foi deixado na Estrada das Barreiras, uma das principais vias do Cabula - o que chegou a congestionar o trânsito na avenida, normalizado por volta de 10h. 

Com várias perfurações de bala, o corpo de Matheus foi encontrado na Travessa Valter Diniz. Márcio, segundo a ser assassinado, foi morto no primeiro andar da própria residência, na mesma travessa, a 260 metros do ponto em que o pé da vítima foi abandonado. No local, familiares disseram à polícia que as vítimas não tinham envolvimento com o tráfico de drogas.

Ao CORREIO, o delegado Líbio Braga, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que o ataque foi chefiado pelos traficantes Leozinho e Galo, do Comando da Paz.“Eles chegaram aqui altamente armados, com armas de grosso calibre, machadinhos e facas, com grande poder de munição. A ideia com isso, que podemos chamar de guerra, era tomar a boca de Jardel (BDM) e seus homens”, explica, sem dar maiores detalhes sobre a identidade dos suspeitos.Em nota, a Polícia Militar informou que policiais da 23ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Tancredo Neves) foram acionados por volta das 5h50 para atender à ocorrência.

"No local, populares informaram à guarnição que alguns indivíduos estavam efetuando disparos de arma de fogo e invadiram a residência de um morador da localidade e dispararam contra o mesmo, que foi a óbito", relata.

Eles disseram ainda que, em seguida, os policiais localizaram mais um corpo. "A área foi isolada e o Serviço de Investigação em Local de crime (Silc) acionado para a realização de perícia e remoção do corpo", conclui a corporação O pé foi encontrado a 260 metros dos corpos (Foto: Tailane Muniz/CORREIO) Crueldade Na avaliação do delegado, a intenção dos traficantes, ao dar vários tiros nas vítimas, além de decepar partes do cadáver, é uma maneira de "impor respeito", assustar e mostrar que estão "dispostos a tudo".“São criminosos extremamente cruéis e covardes, eles não economizaram balas. Um dos corpos (Matheus) tem varias perfurações no rosto. E eles costumam fazer sempre assim”.Líbio relatou que a família do jovem contou que ele tinha ido visitar um amigo e não tinha envolvimento com o crime. "Pode ser que deu o azar de se deparar com eles”, considera. O delegado afirmou à reportagem que, durante a fuga, os criminosos fizeram a inscrição da facção, conhecida por "tudo dois", em um banquinho da rua.

A perícia realizada nos corpos, ainda no local, constataram que Márcio foi baleado por vários tiros, mas teve o corpo preservado. Matheus, no entanto, teve o rosto desfigurado pela quantidade de balas. "É incontável a quantidade de tiros que atingiram Matheus. São tantas, que digo com toda propriedade que são mais de 30 tiros", disse, ao reafirmar os requintes de crueldade usados pelos membros da facção.Uma outra característica das facções, aponta o delegado, tem sido a prática de filmar as execuções e divulgar as imagens nos grupos de WhatsApp. "Eu já sei que existem vídeos do momento dessa invasão circulando".

Uma tia da vítima, que acompanhava o trabalho da polícia, se limitou a dizer que o sobrinho morava na parte alta da localidade, próximo às Barreiras, mas que não tinha muitas informações acerca da vida que a vítima levava. Segundo ela, o jovem havia saído de casa “em busca de independência”.

No local foram encontrados dezenas de estojos (recipiente onde a pólvora fica armazenada), além de cápsulas, segundo o delegado, de vários calibres. A quantidade foi o que deu à polícia a dimensão de que o ataque foi figurado por mais de 20 homens. Os corpos das vítimas estão no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR), onde aguardam liberação dos familiares.