Dia da Rainha do Mar: Confira o que rolou na Festa de Iemanjá

CORREIO fez cobertura em tempo real, no Rio Vermelho, desde a madrugada

  • D
  • Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2018 às 06:08

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Dois de fevereiro, dia de festa no mar, de saudar Iemanjá! Também é dia de homenagear todas as rainhas das águas... Oguntê, Marabô, Caiala, Sobá, Oloxum, Ynaê, Janaina e Iemanjá. No Rio Vermelho, milhares de devotos da Rainha das Águas salgadas se reuniram na praia bem em frente ao Largo de Santana para prestar suas homenagens e colocar suas oferendas no mar. Confira a cobertura feita pelo CORREIO, com as Iemanjás e as muitas mulheres que foram para o Rio Vermelho se conectar com a Rainha do Mar. Veja o que aconteceu desde a madrugada desta sexta-feira (2), durante as homenagens para Oxum, no Dique do Tororó, e para Iemanjá, no Rio Vermelho.

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Celebração com samba, suor e cerveja

Carlinhos Brown começou a Enxaguada de Yemanjá durante o pôr do sol, com direito a cortejo dos Filhos de Gandhy e presente para o orixá. "Todo mundo salve a Rainha do mar. Odoyá! Nos dê seu axé, sua glória e amor divino, porque te amamos, mãe", disse Brown, no início do show, no Rio Vermelho. A festa ocorre na Praça Caramuru (antigo Mercado do Peixe).

Essa é Ana Paula da Conceição, 22 anos. Ela chegou meio-dia ao Rio Vermelho para fazer os pedidos a Iemanjá e depois foi cair no samba. A jovem escolheu uma blusa azul para homenagear a Rainha do Mar, um short amarelo para combinar com o Verão e o cabelo vermelho pra "chamar atenção". "Venho todo ano pra cá, porque sou devota. Depois eu aproveito a festa, mas hoje ainda vou ter que ir trabalhar", conta a funcionária do McDonald's, antes de mostrar a ginga e o rebolado no meio do Largo de Santana.  Poliana (de óculos escuros) com seu 'bonde' (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) A estudante Poliana Rodrigues, 23 anos, pintou no Rio Vermelho com as amigas só pra aproveitar a festa. "É a primeira vez que venho e parece que é Carnaval", analisa. A jovem diz que todas as amigas, como ela, vieram pra paquerar."Estamos pro crime", brincou Poliana. Sheila mata a sede com uma ampola de Skol (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) A técnica de enfermagem Sheila Cerqueira, 40, gosta de aproveitar as festas de Verão, e Iemanjá. "Esse ano eu nem peguei festa, porque na rua tá bom demais. Amanhã eu tô no Furdunço [pré-Carnaval na Barra]. Agora, eu só paro depois do Carnaval", avisou, segurando uma piriguete quase morna.

*** Foto: Thais Borges/CORREIO Leia a reportagem de Thais Borges:

Rainhas de fé e devoção: saiba quem são as mulheres que se entregam a Iemanjá

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Hora de entregar o presente principal Branco, presidente da Colônia de Pescadores do Rio Vermelho, no caramanchão (Foto: Júlia Vigné/CORREIO)   Presidente da Colônia de Pescadores Z1 desde 2009, Marcos Antônio Chaves, o Branco, afirmou que além do comprometimento com a orixá, a Colônia tem uma responsabilidade muito grande com os devotos de Iemanjá. "A cada presente, aumenta a responsabilidade com ela e com o povo, exponencialmente. Nós queremos ofertar conforto e comodidade para todos os devotos de Iemanjá", disse ao CORREIO. Ele conta que a tradição começou em 1924 e que desde a primeira oferenda, o presente foi entregue no Buraquinho de Oyá, que fica a 7,5 km da costa. "São mais ou menos 45 minutos para a gente chegar com os barcos. Esse ano nós iremos agradecer à Rainha do Mar em mais de 300 embarcações, de Salvador e das Ilhas. Nós só podemos colocar o presente lá, é tradição", explica. Pouco depois das 16h as embarcações já estavam na água (Foto: Leitor CORREIO) A procissão marítima com o presente principal já começou. Dezenas de embarcações se dirigem ao Buraquinho de Oyá, a 7,5 km da praia, para deixar as oferendas.

*** A babalorixá Mãe Jacira de Obaluaê, que jogou os búzios para saber qual presente Iemanjá queria (Foto: Júlia Vigné/CORREIO) A babalorixá Mãe Jacira de Obaluaê, responsável por fazer a oferta do presente a Iemanjá - e receber a resposta da Orixá, conta que houve uma pesquisa prévia entre os pescadores e membros do terreiro sobre todos os presentes que já haviam sido entregues desde a primeira entrega, em 1924. A estrela-do-mar nunca havia sido entregue e foi a primeira opção de presente apresentada."Eu joguei os búzios e ela aceitou de primeira", conta a babalorixá.O misticismo em torno da entrega do presente vai desde a ideia, a confecção, a revelação, até a entrega para Iemanjá. O Buraco de Iaiá (ou Oyá), local em que os pescadores vão entregar o presente e as centenas de flores depositadas por devotos durante o dia, também tem toda uma história. Foi nele que uma caixa de sapato com oferendas ao orixá foi entregue pela primeira vez e, desde então, é apenas no local que os presentes são depositados. "Esse é o local em que o presente é entregue há 95 anos. Lá é a casa em que Iemanjá mora. É a morada dela. Então nós não podemos jogar em outros lugares, tem que ser lá", ressalta. Caso o presente 'oficial' seja jogado em outro lugar, Iemanjá não aceita, avisa ela.  ACM Neto revela o que pediu a Iemanjá (Foto: Júlia Vigné/CORREIO) O prefeito ACM Neto chegou ao caramanchão e participa do início da procissão que leva o presente principal para Iemanjá. "É um ano muito especial, porque de alguma forma a gente já tá aqui cruzando a festa de Iemanjá com o início do Carnaval de Salvador. É muito bacana ver essa quantidade de pessoas hoje no Rio Vermelho. Baianos e turistas de todas as partes, cultuando a Iemanjá, mantendo essa tradição da Bahia e, é claro, pedindo à nossa Rainha do Mar que possa neste ano de 2018 trazer tudo de bom para a nossa cidade e nosso estado", comentou ele, na chegada.

"Isso faz parte da tradição e dessa coisa que só Salvador tem, que é a mistura da festa religiosa com a festa popular. As pessoas na rua comemorando, brincando, enfim, a gente percebe isso nesse dia maravilhoso de Verão aqui no Rio Vermelho", afirmou Neto.

Ele também disse qual pedido fez à Rainha do Mar: "Sempre peço proteção, peço que abra os nossos caminhos com luz, e que possa olhar por Salvador e pelo nosso povo. Eu acho que é a coisa mais importante. E é interessante porque Salvador tem isso: a questão do sincretismo, do respeito à diversidade religiosa, da convivência harmônica entre as várias crenças, essa é a característica principal da nossa cidade, e é por isso que todo dia 2 de fevereiro Salvador produz essa fotografia que é única no festejo a Iemanjá."

*** Foto: Marina Silva/CORREIO Leia a reportagem de Alexandre Lyrio:

Rainhas da areia: mulheres entram em transe ao 'incorporar' Iemanjá

Elas relatam experiência de ser 'virada' na Rainha do Mar e outras entidades

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Vaidosas que nem Iemanjá Shamira optou por um cropped e um saião salmão para curtir a festa; obrigações religiosas cumpriu ontem (Foto: Laura Fernandes/CORREIO) Vestida no glamour, a advogada brasiliense Shamira Toledo, 34 anos, dedicou o 2 de fevereiro para curtir com tranquilidade a feijoada do RV Lounge, na Vila Caramuru (antigo Mercado do Peixe). "Queria uma roupa mais fresca, porque hoje vou ficar so por aqui. Já fiz minhas obrigações ontem", justificou Shamira, que jogou suas flores para Iemanjá na quinta-feita à noite. "Sou devota, filha de Iemanjá. Venho todo ano há dez anos. Faça chuva ou faça sol, com dinheiro ou sem dinheiro", justificou a devota, que mora em Salvador há um ano. Milena toda produzida para comer feijoada (Foto: Laura Fernandes/CORREIO) Já a estudante Milena Carvalho, 19 anos, estava na dúvida se ia descer do salto, afinal este ano decidiu onde passaria o 2 de fevereiro a partir de um único fator: a feijoada. Ou seja, a devoção a Iemanjá foi cumprida da varanda do RV Lounge, no conforto. Questionada sobre o motivo de ter escolhido aquele figurino para a festa de largo, Milena sorriu garantindo que o dia pedia roupas leves, com cores claras e que o salto plataforma era "definitivamente mais confortável"."Ano passado, quando conheci a festa, eu molhei os pés e joguei flores pra Iemanjá. Esse ano ainda não sei, talvez eu vá!", disse a estudante, que investiu R$ 100 na festa. "Feijoada é tradição!", justificou rindo. A argentina Maria vai sambar com sandálias de salto (Foto: Laura Fernande/CORREIO) A comerciante argentina Maria Ojeia, 35 anos, está na festa de Iemanjá pela primeira vez. Acompanhada dos amigos conterrâneos, Maria escolheu a Enxaguada du Brown para aproveitar os festejos no Rio Vermelho. Com roupas leves e sandálias Havaianas de salto, Maria garantiu que o conforto era o mais importante no look do dia de festa no mar. "Pra mim é melhor sambar de salto. Não gosto de saltos pequeninos", disse, gargalhando, com seu sotaque hispânico. Adriana, Deborah e Kayanara cheias de atitude na festa (Foto: Milena Teixeira/CORREIO) As amigas Adriana Quintaliano, 28 anos, Deborah Leeb, 17, e Kayanara Leeb, 19, até saíram cedo de casa. Elas entregam os presentes, fizeram pedidos e depois foram "dar close" no Rio Vermelho."A gente vem todo ano, bem lindas, pra dar close. O trânsito tá parado, mas a gente quer parar o povo", brinca Adriana.*** Mulheres caracterizadas como ser mitológico falam da devoção a Iemanjá (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Confira a reportagem de Nilson Marinho:

Sereias homenageiam a Rainha do Mar no Rio Vermelho

Mulheres caracterizadas como ser mitológico falam da devoção a Iemanjá

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Só vim pra curtir

O presente principal ainda nem foi entregue, e a turma que foi só curtir a parte profana da festa já tá na atividade. É o caso do pintor Odemilson de Santana, 38, que admite:"Não venho para a festa pelo lado sagrado, tô aqui pelo profano mesmo". Look do dia do pintor Odemilson: cuequinha branca CK à mostra e muita marra (Foto: Daniel Silveira/CORREIO) Para não restar dúvida sobre isso ele chega à festa por volta das 10h e só volta pra casa nos últimos momentos do dia 2. "Venho todo ano, há 20 anos. Essa é uma festa popular e é isso que eu gosto, do povo na rua, por isso amo também o Bonfim e o Carnaval", conta. Ele comemora que a data é como um ensaio para a folia que começa na semana que vem. Quando questionado se aproveita a festa para paquerar, conta aos risos: "a gente aproveita para fazer novas amizades".

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A médium Maria Aparecida Dourado, 52 anos, está 'virada' por Iemanjá nessas imagens, feitas pouco depois do meio-dia. Pelo menos é o que garantem integrantes do Centro Espírita Recanto de Luz, de Feira de Santana. Com uma bacia de água do mar segurada por outra pessoa, ela distribui passes para quem aparece. Não cobra nada. "Faz isso todos os anos como caridade", diz um dos trabalhadores da casa. (Vídeo: Alexandre Lyrio/CORREIO)

*** Geraldo Gomes saúda Iemanjá diante do mar do Rio Vermelho (Foto: Daniel Silveira/CORREIO) "Quem tem a visão é quem vê", repetia emocionado o aposentado Geraldo Gomes, 60 anos. Ele conta que sempre foi devoto do orixá. "Tem mais de 15 anos que eu vim aqui na festa e, de repente, eu estava na água", diz ele. Desde então, Geraldo a escuta em inúmeras ocasiões de sua vida."Quando estava dentro da água eu escutei como uma voz falar comigo: 'tu és meu filho'", lembra.Os olhos marejados revelam uma fé enorme na Rainha do Mar."Tudo que eu peço ela me dá. E aparece tanta coisa em minha vida que é sem explicação... Veja, por exemplo, eu, um homem sem educação, com três filhas formadas na universidade", comemora.Apesar de ter ido à festa acompanhado da esposa, pediu que ela esperasse na areia enquanto ele fazia suas orações sentado em uma pedra, contemplando o mar. É a casa da orixá de quem é devoto.

*** O pescador Carlos Neri dos Santos, 63, e suas oferendas (Foto: Daniel Silveira/CORREIO) Pescador que há 40 anos participa da festa no Rio Vermelho, Carlos Neri dos Santos, 63, relembra o tempo em que a celebração era menos popular."Essa festa foi criada pelos pescadores e, hoje em dia, a gente está esquecido, quase não se vê falar na gente", comenta.Carlos também é filho de pescador. "Minha ligação com Iemanjá é pelo mar, principalmente em entregar os presentes dela." Ele é um dos pescadores que carrega parte do que é deixado pelos fiéis no barracão instalado em frente à Casa do Peso. Pescadores também fazem o transporte de pessoas que queiram deixar presentes direto no mar. Alguns chegam a cobrar R$ 10 para levar a pessoa no mar e voltar.

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"Quanto nome tem a Rainha do Mar?  Dandalunda, Janaína, Marabô, Princesa de Aiocá, Inaê, Sereia, Mucunã, Maria, Dona Iemanjá" (Iemanjá, Rainha do Mar - Roberto Mendes/Capinam)

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Como se presenteia a Rainha do Mar?

Na Praia da Paciência, as manifestações são as mais variadas. Com alegria, devotos fazem as suas manifestações de fé (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO)  ***

Os balaios cheios de presentes para agradar a mãe Iemanjá estão a todo momento sendo colocados no mar. Flores coloridas, bijuterias e perfumes preenchem as cestas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

Dentro de uma cesta, o pequeno Daniel, de 2 anos, quase ia ser entregue como presente à Iemanjá por seu avô, Manoel da Cruz. Ele agradeceu por ela ter recusado o menino por ser filho de Omolu. Todos riram da brincadeira.

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Desde os 20 anos, Jaime Dias, 48, participa dos festejos de Iemanjá. "Ela é a mãe que transmite amor, ela devolve amor". Filho de Obaluaê, ele diz ter mais motivos ainda para amar a orixá.  "Foi ela quem criou Obaluaê, tenho ligação afetiva e espiritual com ela", completa. Jaime é baba kekerê (pai pequeno) do Terreiro Ilê Axé Jibayê, que há três anos participa da organização da festa e entrega do balaio nos festejos. Jaime Dias participa há três anos dos festejos de Iemanjá (Foto: Daniel Silveira/CORREIO) ***

A ligação com a natureza faz parte da rotina da vendedora de flores Catiane Silva, 40, já mais de 20 anos. Ela trabalha no Dois de Julho, mas, há 20 anos é uma das vendedoras de rosas na festa de Iemanjá. "É diferente vender uma flor aqui por todas as demonstrações de fé. Minha relação com Iemanjá é porque acredito no poder da natureza, então você acaba tendo esse contexto". Ela não acredita que se pareça diretamente com Iemanjá, mas, assim como a natureza, tem a paciência como uma de suas virtudes. Na outra foto, ela está com a irmã Kalenia Silva, 46, que mora em São Paulo e esta aproveitando as férias para ajudar a irmã. Catiane Silva, 40, vende as flores que são destinadas às oferendas (Foto: Thais Borges/CORREIO) ***

“É uma energia fora do normal. O mar acalma e Iemanjá me traz uma paz”, definiu a turista pernambucana, Manoela Barreto, 29.

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Rainhas das areias

Os rituais religiosos nas areias da Praia do Rio Vermelho acontecem durante todo o dia. Muitas "rainhas das areias" recebem entidades do candomblé  e umbanda. Iaô do Terreiro Areia de Mel, em Pedrão, Jéssica dos Santos, 26 anos, incorporou Oxum. "Elas (Oxum e Iemanjá) andam juntas. É muita emoção".

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As "rainhas da areia" dão um show com suas saias rodadas nas areias da Praia do Rio Vermelho. De vez em quando, uma incorpora uma entidade e é amparada pelas colegas do Terreiro Caboclo Boiadeiro, de Luis Eduardo Magalhães, no Oeste baiano.

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A energia na Praia do Rio Vermelho é tão forte que algumas pessoas podem se consultar com o orixá, ali, dentro das águas. (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

Uma das tendas montadas na Praia do Rio Vermelho chamava a atenção pela fila. O Terreiro de Umbanda Estrela de Aruana dava passes gratuitos. Segundo um dos religiosos da casa, a própria Iemanjá, incorporada em uma mãe  de santo, fazia o serviço. "É um trabalho em prol da caridade", disse Gilbran Marques. Por outro lado, os integrantes não  permitiam fotos do ritual. Fila se formou na tela do Terreiro Estrela de Aruana (Foto: Alexandre Lyrio/CORREIO) "É a única  vez no ano que fazemos trabalhos externos. Mas só  porque Iemanjá  é a energia maior da casa. Temos que preservar ela e a mãe de santo", explicou Gilbran***

Rainhas que viajam para encontrar o mar Estudante Paola Meier, 15 anos, se vestiu de Iemanjá (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Em um momento da gira, a estudante Paola Meier, 15 anos, foi ao encontro do seu pai, de sangue e de santo. Ele, incorporado com Oxum, nas areias da praia da Paciência, recebeu sua filha, ou melhor Iemanjá para um abraço que, simbolicamente, representava o encontro das águas doce e salgada. Paola tem como orixá de frente a Rainha das Águas. No ponto alto da cerimônia, a jovem embarca em um barco para, em alto-mar, depositar flores para sua mãe. Ela veio de Luís Eduardo Magalhães pelo segundo ano, para participar da festa.

*** Maria das Graças e Fernanda Figueiredo vieram de Feira de Santana (Foto: Thais Borges/CORREIO) A estudante de jornalismo Fernanda Figueiredo, 20, e a técnica em enfermagem Maria das Graças dos Santos, 62, vieram em um grupo de amigos que viajou de Feira de Santana, no Centro-Norte do Estado, para entregar o presente para Iemanjá. Elas fizeram um barquinho de isopor para guardar as flores durante a madrugada desta sexta-feira  (2). "Vi na internet  (um modelo) e fiz. O balaio é muito grande e, nessa época do ano, fica muito caro", diz Fernanda. Maria diz que veio pedir por paz no ano de 2018. "E por muitas vitórias", completa.

*** Daniele Michelin, 40, levou flores para homenagear a orixá (Foto: Thais Borges/CORREIO) Pode até lembrar, mas a relações públicas Daniele Michelin, 40, não se veste para representar Iemanjá. "Eu me inspiro nela. Embora não seja do candomblé, tenho uma devoção muito grande. Iemanjá é a entidade que me acompanha e toca meu coração", conta Daniele. Mineira de Belo Horizonte, ela veio morar em Salvador há sete anos. Desde então, vem à festa. "Saio daqui reenergizada. Basta chegar e parece que lava a alma".

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Religiosos demonstram devoção às divindades

Representantes de terreiros de umbanda e candomblé das mais diversas regiões da Bahia chegam desde a madrugada para exaltar Iemanjá. O Terreiro de Iansã, de Conceição de Jacuípe, é um deles. Confira no vídeo de Alexandre Lyrio:

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A ialorixá Jurivina da Silva, 57, chegou nas areias Do Rio Vermelho as 10h da manhã de ontem. Ela tenta vir em quase todos os anos para oferecer banho de folhas aos fiéis. Este ano, trouxe também lentilhas e a pemba de Oxalá. Ela diz que ao seu lado, tem Iemanjá e Oxum. Jurivina da Silva chegou na quinta-feira para participar da festa  (Foto: Thais Borges/CORREIO) "Sou de Xangô, filho mais amado de Iemanjá, com Oxum. Como ela, eu sou alguém que gosta de tudo certo, não gosto de coisas erradas. E minha casa tá sempre de braços abertos", diz ela, que a líder religiosa do terreiro Gi Funan, no Boiadeiro.***

Alerta (de trânsito)!

A Transalvador pede que condutores evitem a Av. Juracy Magalhães Jr. sentido Lucaia, devido à movimentação no Rio Vermelho para a Festa de Iemanjá. Congestionamento na região. Trânsito está complicado na Avenida ACM na manhã desta sexta-feira (Foto: Fernanda Varela/CORREIO) ***

Flores e emoção na beira do mar

Plural, a festa para Iemanjá também tem espaço para performances artísticas. Um cortejo de mulheres, formou a 'Lavagem', performance que percorreu a orla do Rio Vermelho no início da manhã desta sexta-feira

Foto: Thais Borges/CORREIO A performer Olga Lamas, 31 anos, foi uma das facilitadoras da oficina. No ano passado, quando foi realizada a primeira edição, a oficina fez parte do processo criativo do espetáculo Loucas do Riacho. "Através da performance artística, a gente entende como se fortalecer. O que toca uma toca todas", diz Olga, que é natural de Maceió mas se radicou em Salvador. Há 15 anos, quando veio para a festa de Iemanjá pela primeira vez, ficou encantada."Iemanjá, para mim, é isso: para quem eu ofereço e para quem eu agradeço. Acho que tenho, como ela, essa coisa do cuidado, do afeto e da compaixão. Toda mulher tem um pouco de Iemanjá". Olga Lamas, facilitadora da oficina, que resultou na Lavagem (Foto: Thais Borges/CORREIO) A atriz Raiça Bomim, 31 anos, também foi uma das facilitadoras do cortejo. De acordo com ela, a 'entrega da cabeça' a Iemanjá tem dois significados."É o presente da flor, que ao invés do presente, é nossa propria cabeça, e o fato de iemanjá ser a dona de nossas cabeças", explica facilitadoraA atriz Mariana Freire, 40 anos, foi uma das participantes da Lavagem. Para ela, Iemanjá é uma mãe. Embora não tenha religião, também acredita que sua relação com a Rainha do Mar é de devoção. "É uma conexão sempre que a gente esta perto do mar. Minha cabeça é de Iansã e de Oxum, mas tudo veio da água, não e? Seja doce ou seja salgada". Mariana Freire, 40 anos, participante da Lavagem, vê Iemanjá como uma mãe (Foto: Thais Borges/CORREIO) ***

Para as rainhas, todas viram sereias

Ela não sabia explicar de onde vinha tanta admiração pela criatura. Desde muito pequena, Talma Ferreira, 45 anos, sentia uma vontade inexplicável de ser metade peixe, metade mulher. Ao ver a imagem de uma sereia, invejava sua calda, seus longos cabelos e o seu canto majestoso. Anos depois, após jogar os búzios, ela teve uma revelação que a ajudou entender tanto fascínio. Talma era filha de Iemanjá e precisava todos os anos se transformar em quem sempre quis ser: uma sereia. "É uma forma de agradecer a minha mãe. Todos os anos, nesta data, venho e me fantasio dela. Com coroa e pente", conta Talma. Talma Ferrreira se transformou em sereia para demonstrar a sua fé (Foto: Nilson Marinho/CORREIO) O orixá é quem diz o que ela deve vestir todos os anos. Nenhuma fantasia pode ser igual a outra - capricho da Rainha das Águas. "A minha mentora joga os búzios e é revelado como devo me vestir. Ano passado, por exemplo, eu estava todo de azul", acrescenta Talma. 

O jogo é feito pela Mãe Cida do Terreiro Umbanda Cavaleiro da Luz. Neste ano, conta cida, Iemanjá exigiu que Talma estivesse nua da cintura pra cima. O que causou espanto e um certo desconforto. "Ela ficou meio assim, espantada. Mas decidimos colocar umas rosas em cada seio, além de colocar o cabelo para frente", disse Mãe Cida. 

Talma chegou ao Rio Vermelho às 4h, horário em que se transformou na figura mística. Veio de carro para não causar espanto na rua. Gastou cerca de duas horas para ficar pronta.

*** Estudante Dandara de Assis também foi fazer as suas homenagens (Foto: Thais Borges/CORREIO) A estudante de Psicologia Dandara de Assis, 20, tem uma relação forte com o mar. Foi assim que percebeu que tinha identificação com Iemanjá. Nesta sexta-feira (2), ela já amanheceu no Rio Vermelho. Chegou na quinta-feira  (1), para uma festa e já ficou para os presentes. Para preparar a roupa e maquiagem, demorou oito horas. "Só para a saia foram seis horas. Eu já coleto conchas, então tinha em casa", contou."Não tenho religião, mas tenho uma ligação forte com as religiões de matriz africana por conta dd  raízes. Minha devoção não é 'oficial', mas existe", explica ela, que também acredita ser maternal como a Rainha do Mar.***

As homenagens continuam na manhã desta sexta, especial para todas as 'Iemanjás'

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Uma fila grande ocupa a orla da praia da Paciência. Ela é formada por devotos de Iemanjá, que vão depositar as suas oferendas no caramanchão, onde fica o presente principal (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

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O presente principal, ofertado pela Colônia do Rio Vermelho chegou no início da manhã, e é uma estrela-do-mar. Mãe Jacira, responsável pelo presente principal, ao lado da estrela do mar (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) ***

Rainhas da madrugada

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Durante a madrugada, famosos também apareceram para depositar as suas oferendas para a orixá, como a atriz e apresentadora Regina Casé, que se vestiu de branco e usou uma coroa para prestar sua homenagem.  Regina Casé chegou ainda na madrugada para prestar suas homenagens (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

Confira aqui o que rolou durante a madrugada no Rio Vermelho

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Clebenice Gomes, foi às 2h colocar sua oferenda para Iemanjá. Ela antecipou a homenagem porque às 7h ia pegar um plantão de 36 horas no trabalho Clebenice Gomes colocou flores para Iemanjá durante a madrugada (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

Respeitando a tradição, depois do presente para Oxum, se presenteia Iemanjá. Barcos iam e vinham o tempo todo nas primeiras horas do dia dois de fevereiro, levando oferendas para a rainha (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

Ó Paí Ó

Na madrugada também teve gravação das primeiras cenas de Ó Paí Ó 2. Enquanto o primeiro da série se passava no Carnaval, o segundo se desenrola na festa de Iemanjá. “O pessoal do cortiço resolve fazer uma oferenda a Iemanjá e todo mundo sai para o Rio Vermelho”, conta o ator Jorge Washington, que gravava tomadas por volta das 2h30 da manhã.

Além do Bando de Teatro Olodum, o restante do grupo como Lázaro Ramos e Dira Paes também estavam na capital. Entre as novidades do filme está a dupla de youtubers Raimundinho e Abará, vividos pelos atores Leno Sacramento e Fábio de Santana. Eles vão mostrar ao mundo coisas da Bahia, palavras africanas usadas no português, como acarajé. Gravações aconteceram no meio da festa nesta madrugada (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

Festa para rainha das águas doces, Oxum, no Dique do Tororó

Diz a tradição que antes de saudar Iemanjá, rainha das águas salgadas, o devoto tem que saudar Oxum, a rainha das águas doces. A homenagem é feita tradicionalmente no Dique do Tororó, onde a cada ano mais gente vai deixar a sua flor amarela ou a sua alfazema. Coincidentemente ou não, a maioria é composta por mulheres, que ajudam a preservar a tradição trazendo amigos e parentes consigo.

Por volta das 23h começam a chegar os primeiros grupos. A maioria aguarda até a chegada do grande presente, preparado por Mãe Jacira de Obaluaê, responsável por preparar os presentes dos pescadores para Oxum e Iemanjá. A espera é para colocar suas oferendas no mesmo balaio que é acompanhado pela mãe de santo.

***Confira o que rolou nas homenagens para Oxum, rainha das águas doces

*** Flores amarelas para Oxum, nas águas do Dique do Tororó (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

Quase que de mansinho, chega a cantora e atriz Mariene de Castro para deixar sua oferenda. Além de saudar a orixá, ela foi apresentar a uns amigos a tradição típica da Bahia."Quem é do axé sabe que antes de agradar Iemanjá, a gente vem para presentear Oxum", contou a cantora

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De tiara na cabeça e andando para lá e para cá estava a pedagoga Maria Luiza Porfírio, 58, pedagoga. Tia Lu, como é carinhosamente chamado por todos, cumprimentava um, outro, perguntava se fulano tinha comido. Há mais de dez anos ela frequenta o ritual e é quase uma orixá. Amorosa e vaidosa como Oxum, ela não só providencia a alimentação como as flores que a sua dúzia de amigos vai depositar no balaio.  Tia Lu fez um banquete para Oxum, no Dique do Tororó (Foto: Carol Aquino/CORREIO) ***

"Como se saúda a Rainha do Mar?

Alodê, Odofiaba, Minha-mãe, Mãe-d'água, Odoyá!

Qual é seu dia, Nossa Senhora?

É dia dois de fevereiro Quando na beira da praia Eu vou me abençoar". (Iemanjá, Rainha do Mar - Roberto Mendes/Capinam)

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