Dois anos após chacina dos motoristas de apps, ré continua sem data para julgamento

Travesti, identificada como integrante da facção criminosa BDM, foi denunciada e presa preventivamente em janeiro do ano passado

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  • Da Redação

Publicado em 21 de dezembro de 2021 às 20:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Betto Jr/Arquivo CORREIO

Dos cinco participantes da chacina dos motoristas de aplicativo, ocorrida em dezembro de 2019, em Salvador, apenas uma está presa preventivamente, e assim continua dois anos após os crimes [Veja mais abaixo].

O restante dos envolvidos acabou morrendo, dois em confronto com equipes da 81ª Companhia Independente da Polícia Militar, e outros dois foram encontrados mortos dias após a chacina. Nenhum deles foi a julgamento.

Uma travesti identificada como Benjamin Franco da Silva, 27 anos, conhecida também como Amanda, foi detida no dia 27 de dezembro daquele ano, na sede do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

Em janeiro de 2020, o Ministério Público Estadual (MP-BA) a denunciou pela participação na chacina de quatro motoristas dos aplicativos “Uber” e “99” no dia 13 de dezembro, na localidade de Santo Inácio, no bairro de Mata Escura, em Salvador.  Travesti Amanda foi presa pela polícia; ela cortou o cabelo para não ser reconhecida - Foto: Bruno Wendel/CORREIO Segundo a denúncia, Amanda, que é integrante da facção criminosa Bonde do Maluco (BDM), em companhia de um menor de 17 anos, atraiu cinco motoristas de aplicativos para o local da execução criminosa. Junto com Jeferson Palmeira Soares, vulgo Jel, líder da facção BDM; Antônio Carlos de Carvalho, vulgo Nonon; e Marcos Moura de Jesus, eles assassinaram quatro motoristas. À exceção de Benjamim, todos os integrantes da quadrilha estão mortos.

De acordo com o promotor de Justiça Davi Gallo, o crime foi motivado por vingança. “No dia anterior, Jeferson teria efetuado chamada para diversos motoristas com o objetivo de socorrer um parente, mas as corridas não foram aceitas em razão de tratar-se de local violento e inseguro, e a pessoa que seria socorrida veio a óbito”.  

Amanda foi denunciada pelo homicídio dos quatro motoristas qualificados por motivo torpe, meio cruel e impossibilidade de defesa das vítimas, além de roubo qualificado, associação criminosa e os dispositivos da Lei de Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/90). Davi Gallo registrou que “o bando agia em caráter estável e permanente, fortemente armados, com arma de grosso calibre, com divisão de tarefas preestabelecidas, visando a prática dos mais variados crimes, com emprego de grande violência contra pessoas, patrimônio e tráfico de entorpecentes”. 

Processo revisado, mas ainda sem datas

Em recente revisão do processo, a juíza Andrea Teixeira Lima Sarmento Netto do 2º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri, fez uma correção solicitada pelo MP-BA, reconhecendo a circunstância qualificadora do meio cruel. 

A magistrada decidiu ainda manter Amanda presa preventivamente, situação em que ela se encontra desde janeiro do ano passado, quando a própria juíza acolheu a denúncia do Ministério. A data da sessão de julgamento ainda não foi definida. O processo tramita no 2º Juízo da 2ª Vara do Tribunal do Júri da capital.

Segundo o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), em face da decisão interlocutória, publicada no dia 10 de dezembro de 2021, foi aberto prazo para que o Ministério Público e a Defensoria Pública se manifestem.

Conforme informou o Tribunal, também não há data para o agendamento do júri. 

 Vítimas

Apenas uma pessoa conseguiu sobreviver aos ataques organizados. No dia do crime, ele conseguiu fugir do local da execução por meio de um matagal. 

Segundo a Polícia Miliar, a vítima que fugiu encontrou nas proximidades policiais do Batalhão de Guardas (BG) do Presídio da Mata Escura. Ele disse que o veículo havia sido abandonado na localidade. A partir da denúncia, policiais da 48ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Sussuarana) foram até o local informado. Lá, encontraram quatro corpos em sacos e veículos abandonados. 

As outras vítimas foram identificadas como Alisson Silva Damascena dos Santos 27 anos, Sávio da Silva Dias, 23, Daniel Santos da Silva, 30, e Genivaldo da Silva Félix, 48.

Medo permanece

Desde o ocorrido, muitos moradores da comunidade Paz e Vida, no Jardim Santo Inácio, deixaram suas casas por medo da violência no local.

O medo também é presente para os motoristas, que cancelam corridas ou não fazem o trajeto completo. Ainda hoje, há relatos de dificuldades para ter os pedidos atendidos nas plataformas de transporte.

Em reportagem de dezembro de 2019, o CORREIO procurou a plataforma 99 para esclarecer quais critérios utiliza para definir as áreas de risco. Em nota, a empresa disse que o mapeamento destas áreas não é divulgado por questões estratégicas. A empresa acrescentou que envia notificações aos motoristas sobre viagens que passam por essas zonas. Segundo a 99, o levantamento é feito utilizando estatísticas internas do aplicativo e dados externos das Secretarias de Segurança Pública (SSP). “É importante ressaltar que estas zonas de risco são dinâmicas e não fixas”, conclui a plataforma. A Uber não respondeu a nenhum dos questionamentos do jornal.