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Médico pneumologista relata caso de jovem que, após uso exagerado, evoluiu para hepatite fulminante
Fernanda Santana
Publicado em 13 de fevereiro de 2021 às 07:20
A Ivermectina é utilizada desde os anos 70 para tratar de verminoses, na pecuária. Só entre o final da década de 90 e o início dos anos 2000, passou a ter uso humano. Durante a pandemia, começou a ser utilizada em escala muito maior. Doses anuais tornaram-se diárias, semanais, relatam médicos, e, às vezes, associadas a outros medicamentos sem comprovação de eficácia contra o coronavírus que também podem ser tóxicos ao fígado, como o antibiótico azitromicina e a cloroquina, contra malária.
Leia a reportagem principal: Casos de hepatites causados por Ivermectina assustam hepatologistas em Salvador
Esses remédios chegaram a ser distribuídos juntos, por prefeituras ao redor do Brasil, como o chamado “kit covid”, criticado pela falta de eficácia científica e pela possibilidade de causar efeitos colaterais graves. Combinação de medicamentos pode ser ainda mais grave ao fígado, dizem hepatologistas (Foto: Agência Brasil) Na semana passada, o médico pneumologista Frederico Fernandes divulgou o caso de uma jovem que, depois de ingestão excessiva de Ivermectina, evoluiu para uma hepatite fulminante, a ponto de precisar de um transplante. Ele foi convidado para avaliar as disfunções pulmonares da mulher, em São Paulo.“Relatei com intenção de alertar e acabei sendo atacado por isso. Foi uma coisa empática em relação a uma pessoa jovem que estava a ponto de precisar de transplante porque exagerou na Ivermectina”, contou o médico ao CORREIO.A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) afirmou à reportagem que dos 22 transplantes de fígado realizados desde março do ano passado até o momento, um foi por hepatite fulminante – caso em que a legislação permite a prioridade na fila, sem espera, pelo risco iminente à vida.
Sobre esse caso, não foi informada a causa da hepatite. Mas, uma pesquisa divulgada neste ano, mostrou que uma em cada três pessoas que tiveram hepatite fulminante sofreu lesões no fígado provocadas por medicamentos.
A lesão hepática provocada por medicamentos é diagnosticada em exames que medem a quantidade de enzimas do fígado, pelo tipo de reação, relação de causa e consequência, e exclusão de outros motivos, explica o hepatologista Paulo Bittencourt, presidente do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig). Alguns indivíduos podem evoluir e chegar ao nível de precisar de transplante. "Sem ele, a sobrevida é nula”, afirma o hepatologista.
"A VITAMEDIC INDÚSTRIA FARMACÊUTICA LTDA., produtora da Ivermectina no Brasil, esclarece que a declaração do grupo farmacêutico MERCK-MSD sobre a eficácia do medicamento Ivermectina no tratamento da COVID-19, não reflete a opinião da VITAMEDIC sobre o assunto. A empresa MERCK-MSD não é produtora de Ivermectina para humanos no Brasil. Desconhece-se qualquer estudo pré-clínico que essa empresa tenha realizado para sustentar suas afirmações quanto a ação terapêutica no contexto da pandemia do COVID-19.”