Elefantes brancos: Ufba tem cinco prédios abandonados

Obras milionárias foram iniciadas e não têm previsão de retomada

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  • Da Redação

Publicado em 11 de setembro de 2018 às 04:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Betto Jr./CORREIO

Para onde se olha, prédios inacabados ou em obras que começaram um dia, mas parecem nunca terminar. Os campi da Universidade Federal da Bahia (Ufba) abrigam verdadeiros ‘elefantes brancos’. Dos 164 prédios, pelo menos dez estão em obras. Outros cinco estão ‘abandonados’ - as obras foram congeladas e não há previsão de retomada. Juntas, três somam investimento de R$ 17,7 milhões.

De acordo com a Ufba, as cinco obras que se encontram completamente paradas sofrem de “pendências diversas”. São elas: reforma e conclusão do complexo de Física e Química, conclusão do prédio da Escola de Música, conclusão do Bloco B do IHAC, conclusão do prédio do ICI e anexo da Escola Politécnica.

Enquanto não há uma conclusão das edificações, professores e servidores acabam ‘encaixados’ em outros institutos. Já o esqueletos das construções faz parte do cotidiano dos frequentadores. Entre as atuais obras em andamento na Ufba, há algumas licitadas em 2011 - sete anos atrás.

Corte de verbas Questionada pela reportagem do CORREIO sobre a razão para o atraso, a Ufba disse que há um “cenário de grande dificuldade” nos últimos anos em função do “contingenciamento de recursos”.“Viemos conduzindo um programa de obras, cujo objetivo final é a conclusão de todas em andamento, assim como a realização de novos projetos, necessários à vida universitária”, diz, em nota, a Ufba.Ainda segunda a Ufba, na atual gestão, foram concluídas 16 obras de grande importância - e outras três estão em andamento. “Outras ainda, de uma lista de prioridades definidas pelo Conselho Universitário da Ufba, estão em processo de licitação e contratação. Já foram iniciadas, no primeiro semestre de 2018, três obras”, completa.

Outro fator dificultador para é a extensão dos campi - 350 mil m² de área construída - e a idade dos prédios, dos séculos XVIII ao XX. A situação é apontada no Relatório de Gestão da Ufba de 2017. Residência Universitária do Canela está desativada há seis anos e serve como depósito de material de construção (Foto: Betto Jr./CORREIO) O presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE/Ufba), José Neto, disse que a acompanha as obras através do Conselho Universitário.“Mas, na conjuntura política atual, o projeto de Educação que é implementado por este governo vem reduzindo o orçamento universitário, o que dificulta realmente a conclusão das obras”, declarou José Neto.O CORREIO procurou a Assufba, que representa os sevidores técnico-administrativos, e a Apub, que responde pelos professores, mas nenhuma se posicionou até o fechamento desta edição.

Verba de manutenção No ano passado, R$ 9 milhões foram destinados à manutenção predial e reformas, segundo o Relatório de Gestão. O valor investido em manutenção foi 10% menor do que em 2016. No Relatório, a manutenção predial é o conjunto de intervenções de civil, hidráulica, tecnologia da informação, elétrica, elevador e climatização.

Já as reformas referem-se às obras realizadas nas unidades. Elas aconteceram, segundo o documento, na Fundação de apoio à pesquisa e à extensão (Fapex), no Ihac PAF V e Bloco B, no vestiário da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (FFCH), na instalação elétrica do PAF V, na cantina do PAF V e na cantina do prédio de Letras. Só 10% do R$ 1 milhão contratado foi pago - R$ 107 mil.

“O orçamento da universidade é dividido em investimento, capital e custeio. Com a verba de custeio, você enfrenta o conjunto de despesas do dia a dia. Dentre essas despesas, uma que nos ocupa bastante pelo tamanho da Universidade são os recursos que têm que ser destinados à manutenção dos prédios. É uma verba que nós temos em torno de R$ 120, R$ 130 milhões”, explicou o vice-reitor, Paulo Miguez. Na última quinta-feira (6), ele entregou o quinto andar do Instituto de Química, que passou nove anos fechado após um incêndio.

Elefantes brancos Um dos casos mais emblemáticos foi a construção da sede do Instituto de Ciência da Informação, que fica ao lado da Faculdade de Comunicação (Facom), em Ondina. A obra começou em 2010 e tinha previsão de término para 2012. Até hoje, não foi finalizado e chegou a ser condenada. O que deveria ser o instituto é hoje um conjunto de três andares de blocos, tapumes e vergalhões. De acordo com um segurança, alunos circulam no prédio:“A gente fica de olho para não deixar ninguém entrar, mas, às vezes, quando a gente que se afasta do local, acabam entrando. Eles não sabem da gravidade, parte da estrutura está cedendo”, diz o segurança.O prédio anexo à Escola Politécnica é outro que chama a atenção de quem passa dentro e fora da Ufba. Ele começou a ser construído em 2011, mas não avançou depois da 1ª etapa, concluída em 2012. Com medo, os próprios alunos evitam passar pelo lugar, que dá acesso à mata.

Há, ainda, os casos dos prédios subutilizados. O CORREIO esteve no entorno do casarão que abrigava a antiga Escola de Nutrição, no Canela, e apurou que o lugar está abandonado há três anos. O teto está caindo aos pedaços, há fiações expostas, infiltrações. As salas que antes abrigavam os alunos servem hoje de depósitos de materiais de escritório, como cadeiras, mesas, computadores.

A Residência Universitária do Canela, desativada há seis anos, também virou depósito. “Ninguém está autorizado a entrar. Algumas paredes estão com fissuras e podem ir ao chão a qualquer momento.  Mas já tem verba para reforma. Falta só o governo aprovar”, pontuou um funcionário do local, que não quis se identificar.

Ufba abvriu sindicândia sobre obras em 2014 Em novembro de 2014, a Universidade Federal de Bahia (Ufba) instaurou uma sindicância através da portaria 289/2014 para apurar as paralisações das obras. À época, eram 15 construções atrasadas com o investimento de R$ 58 milhões. O ato foi realizado logo após posse do reitor João Carlos Salles. 

Como resultado, o Ministério da Educação (MEC) elaborou um relatório divulgado em 2015. O MEC foi procurado para saber se as ações foram implantadas, mas não respondeu até o fechamento desta edição. “A Ufba, com sua estrutura insuficiente e sem, em duas décadas, ter recebido investimentos em infraestrutura, ampliou suas instalações sem a necessária orientação, acompanhamento e controle por parte do MEC, implantando o programa sem ter desenvolvido uma ação integrada e sistêmica de planejamento”, diz o relatório.

O MEC aponta que deveria ter sido criado um plano diretor dos campi, plano de ação de implantação do Reuni, definições de prioridades para os recursos, estimativas de custos fidedignas e estruturação de um órgão de planejamento e obras.“Naquele momento, a Ufba possuía quatro arquitetos para atender uma média de 24 projetos por arquiteto e seis projetos de médio e grande porte por ano para criação, desenvolvimento e acompanhamento técnico e cinco engenheiros”, segue.No relatório foi questionada a capacidade financeira para uma nova licitação do Blco B do IHAC. A obra do Instituto de Ciências da Informação foi colocada como a de maior problema - as empresas que faziam a obra descumpriram o contrato. O MEC recomendou a criação de um setor de Orçamento, contratação de mais engenheiros e arquitetos, revisão do modelo de licitação e auditoria nas movimentações orçamentárias. Obra da Faculdade de Dança também está atrasada, mas tem nova licitação, segundo Ufba (Foto: Betto Jr./CORREIO) Veja lista das obras em andamento na Ufba:

- Continuidade da construção do prédio do Instituto de Ciências da Informação (ICI) Licitação: 2012 Valor: R$ 3.976.195,37 Prazo: 16/12/2013 (obra parada e sem previsão de retomada)

- Construção da 2ª etapa do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências - Bloco A Licitação: 2012 Valor: R$ 6.370.718,83 Prazo: 26/1/2014 / Conclusão prevista para 2018

- Reforma da Escola de Música Licitação: 2011 Valor: R$ 469.342,82 Prazo: 10/7/2013 (obra parada e sem previsão de retomada)

- Anexo da Faculdade de Arquitetura Licitação: 2011 (nova licitação) Valor: R$ 2.798.694,91 Prazo: 17/9/2012

- Prédio do Laboratório de Preparação e Análise de Amostras do Instituto de Geociências Licitação: Em andamento Valor: Não informado Prazo: Não informado

- Construção e conclusão de obras no Instituto Multidisciplinar de Saúde do campus de Teixeira de Freitas Licitação: 2012 Valor: R$ 3.490.915 Prazo: 12/4/2013 / Conclusão prevista para 2018

- Biotério do Instituto Multidisciplinar de Saúde do campus de Teixeira de Freitas Licitação: Não informado Valor: Não informado Prazo: Conclusão prevista para 2018

- Reforma e ampliação da Escola de Teatro Licitação: Não informado Valor: Não informado Prazo: Conclusão para 2018

- Conclusão prédio do Centro Interdisciplinar de Energia e Ambiente Licitação: Não informado Valor: Não informado Prazo: Conclusão para 2018

- Construção da Biblioteca de São Lázaro Licitação: Não informado Valor: Não informado Prazo: Conclusão para 2018

- Ponto de Distribuição de Alimentos do Canela Licitação: Não informado Valor: Não informado Prazo: Conclusão para 2018

- Ampliação da Escola de Dança Licitação: Em andamento Valor: Não informado Prazo: Não informado

Veja lista das obras concluídas entre 2015 e 2018: - Construção do Anexo e reforma do Auditório de Biologia - Construção da ala nova da Faculdade de Comunicação - Construção da Biblioteca de Exatas - Construção do Ponto de Distribuição de Alimentos de São Lázaro - Construção do Galpão Sumai/Proad - Reforma da Faculdade de Farmácia - Reforma da Área de Radiologia e do Ambulatório 3A da Faculdade de Odontologia - Reforma da Faculdade de Enfermagem - Reforma da Fachada do ICS - Reforma do 5° Andar do Instituto de Física - Reforma do 5° Andar do Instituto de Química - Reforma do Hospital de Medicina Veterinária - Reforma da nova sede da Proae - Reforma do Ponto de Atendimento ao Estudante, em Ondina - Construção do Ceadd-Facom - Reforma do Auditório da Faculdade de Direito