Em Marighella, Wagner Moura mistura de thriller e drama político

Ator baiano estreia bem na direção em filme que conta história de guerrilheiro baiano

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  • Roberto Midlej

Publicado em 4 de novembro de 2021 às 06:28

- Atualizado há um ano

. Crédito: fotos: divulgação

Adriana esteves é Clara, esposa de Marighella Vilão ou herói? Defensor da democracia ou terrorista? Em tempos em que as discussões políticas muitas vezes se resumem a simplismos e maniqueísmos, é provável que o espectador entre nos cinemas para ver Marighella querendo uma resposta definitiva para essas duas perguntas.  Mas a realidade está longe de ser tão simples e é provável que você saia de lá sem conclusões, embora o diretor Wagner Moura - que estreia na função - tenha dito, na época das filmagens que não buscava imparcialidade.

O guerrilheiro baiano Carlos Marighella (1911-1969), interpretado por Seu Jorge, é apresentado como alguém que não hesitava em pegar nas armas para derrotar a ditadura. E sabe-se que ele foi o maior líder da luta armada naquele período. 

Por outro lado, Wagner mostra um personagem que é também bem-humorado, espirituoso e muito sensível na relação com o filho. Há quem diga que esta pode ser uma tentativa de "humanizar" um homem violento e que não hesitaria em matar um inimigo. Mas quem disse que na "vida real" não existem pessoas assim? 

Quantos bandidos - e aqui não há, claro, intenção de equiparar Marighella a um bandido - já se revelaram ótimos pais? Lembremos da máfia italiana, cujos chefões eram assassinos impiedosos, mas muito fieis e afetuosos a seus companheiros e a sua família. Ou de muitos chefes do tráfico, que são adorados por sua comunidade por fazerem benfeitorias na região onde vivem. Bruno Gagliasso vive delegado que comanda sessões de tortura Mas não se pode negar que o filme revela um diretor promissor, especialmente nas cenas de ação. Wagner Moura se sai muito bem em sua estreia, especialmente na proposta de fazer um thriller político, que às vezes lembra Costa Gavras, porém com mais movimento. 

E Wagner nunca teve a pretensão de fazer um filme político hermético. "Tenho dificuldade em pensar que, para fazer algo bem feito, tem que ser 'cabeçudo'. Sempre pensei que sou um artista popular e quero que muita gente veja as coisas que eu faço", disse, em entrevista ao CORREIO, quando esteve em Salvador para o lançamento do filme, na semana passada, em sessão para convidados. Agora, o longa-metragem chega aos cinemas no dia em que se completam 52 anos da morte do guerrilheiro.

E chega num momento em que o país continua dividido, como na época da ditadura e na época em que as filmagens de Marighella tiveram início. Wagner não hesita em dizer que o filme foi censurado pelo atual governo federal, como disse ao CORREIO Bruno Gagliasso, que está no elenco e se sai muito bem no papel de um delegado que comanda as mais terríveis sessões de tortura. E Wagner não poupa o espectador nessas cenas.  O verdadeiro Carlos Marighella "O filme estreou no Festival de Berlim, em 2019, e 'metemos pau' em Bolsonaro. Na mesma época, editais que contemplavam produções LGBT foram inexplicavelmente cancelados. Crivella proibiu no Rio uma HQ em que dois homens se beijavam. Bolsonaro também falou que a Ancine precisava passar por um filtro e que filmes como Bruna Surfistinha não poderiam ser financiados", lembra o diretor. 

"Quando chegou a hora de Marighella estrear [em novembro de 2019], faltavam apenas alguns trâmites burocráticos e a produtora, O2 Filmes, fez dois pedidos corriqueiros à Ancine, que foram negados. Eram pedidos apenas para complementar a produção e negaram. Não podemos desassociar essa negativa de todo esse contexto", diz Wagner.