Em romance, Lima Trindade mostra a cidade de Brasília antes do golpe

Livro As Margens do Paraíso será lançado neste sábado (30), na Livraria LDM

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  • Roberto Midlej

Publicado em 30 de março de 2019 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marcelo Frazão

Os chamados “anos dourados” da história brasileira já foram abordados com certa frequência na arte nacional. Nos anos 1980, aquele período chegou a ser tema de uma série de TV que se chamava justamente Anos Dourados e mostrava principalmente o auge do glamour da época, até metade da década de 1950.

Mas o escritor Lima Trindade, que nasceu em Brasília e vive em Savador desde 2002, sentia falta de registros sobre o período que vinha logo depois, mais perto dos anos 1960. “Notava que visitamos muito o início dos anos 50 e depois damos um ‘salto’ para a época da ditadura militar [que começa em 1964]”, observa o autor, que está lançando seu primeiro romance, As Margens do Paraíso (Cepe/R$ 35/270 págs.), neste sábado (30), às 16h, na livraria LDM do Espaço Itaú Glauber Rocha (Praça Castro Alves).

Protagonistas Além disso, por ter nascido na capital federal, Lima se sentia à vontade para escrever sobre a cidade. “Mas eu queria pensar como a gente construiu a mentalidade que deu origem ao golpe militar, então me concentrei no período da construção de Brasília”, revela o autor.

O romance é protagonizado por três personagens vivem em Brasília e estão na transição da adolescência para a vida adulta, entre os 17 e os 18 anos. Mas, como lembra o escritor, o livro não tem nada de juvenil. Os protagonistas são Leda, que vive em Juazeiro, na Bahia; o estudante carioca Rubem e o goiano Zaqueu, que sonha ser advogado. “Criei personagens desta faixa etária porque eu queria trabalhar como seria a mente dessas pessoas que chegam em 1964 com o trauma da ditadura. Além disso, hoje eles teriam em torno de 70 anos, a idade mais ou menos daqueles que hoje conduzem o poder”. 

Leda é agregada na casa dos padrinhos, onde tem casa e comida e, em troca, muito trabalho doméstico. É criada “como se fosse da família”. Embora nascida em Pernambuco, ela se constrói culturalmente como baiana. A relação dela com a família que a criou, como observa o autor, é ambígua: “Ao mesmo tempo que ela se sente explorada, tem afeto também, principalmente pelo padrinho, que a protege”.

Lima diz que atualmente esse tipo de relação, como a que Leda mantém com a família do padrinho, tem se tornado menos frequente que na época em que se passa o romance. “A gente vem se desvencilhando deste tipo de personagem, mas muitos ainda dependem da mão benéfica do governo. Ainda há trabalho escravo no país, há crianças pedindo esmola nas esquinas para mães pobres e exploradoras. A gente transferiu nossos demônios para o Estado”, lamenta.

O romance é dividido em duas partes: na primeira, cada um dos personagens narra sua própria história; na segunda, há um narrador único. Lima diz que essa estrutura tem um propósito: “Queria que a primeira parte tivesse compromisso com a entrega de subjetividade e emoção. Na segunda parte, o narrador simboliza uma maneira de falar das personagens sem ‘favorecer’ nenhuma delas. Na primeira, é como se o leitor pegasse na mão deles; na segunda, eles estão na jaula dos leões”.

Carreira  Embora já possa ser considerado um veterano das letras, Lima Trindade está fazendo sua estreia em romances. Mas a primeira experiência na literatura foi em 2005, com duas publicações: a novela Supermercado da Solidão e a coletânea de contos Todo Sol Mais o Espírito Santo.

Nascido em Brasília, o escritor veio morar em Salvador em 2002, para se aproximar mais da arte e da cultura e também porque sua mãe era baiana. “Brasília era um lugar árido em termos de cultura. Salvador me atraía por causa desse orgulho que o baiano tem da sua cultura, por causa da história que a Bahia tem no cinema, nas artes plásticas, na literatura...”.  

Para Lima, o cidadão brasiliense, por outro lado, sofre problema de autoestima, além de na capital federal haver, segundo ele, pouco espaço para a literatura. “Não havia escritores brasilienses em quem eu pudesse me espelhar”, aponta.

Por quase 15 anos, Lima editou a Verbo 21, uma revista eletrônica dedicada à cultura, com ênfase em literatura. Hoje, ele se divide entre a carreira de servidor público e os livros que escreve. Durante cinco anos, dedicou-se à preparação de As Margens do Paraíso, que demandou muita pesquisa e até viagens, como a que fez a Anápolis, em Goiás, onde nasceu Zaqueu, um dos personagens. “Foi uma experiência árdua, mas satisfatória, de realização pessoal e artística”, diz Lima sobre a tarefa de escrever o livro. 

Serviço

Livro: As Margens do Paraíso

Autor: Lima Trindade

Editora: Cepe

Preço: R$ 35

Lançamento: Sábado (30), às 16h

Local: LDM do Espaço Itaú Glauber Rocha (Praça Castro Alves)