Emissões de gases do efeito estufa crescem no Brasil

Foram emitidas 2,28 bilhões de toneladas brutas de CO2 em 2016, 8,9% a mais que no ano anterior; Setor Agropecuário respondeu por 74% do total emitido

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  • Murilo Gitel

Publicado em 31 de outubro de 2017 às 06:15

- Atualizado há um ano

. Crédito: (foto: Divulgação)

As emissões brasileiras de gases do efeito estufa chegaram a 2,28 bilhões de toneladas brutas de CO2 no ano passado, o que representa um crescimento de 8,9% em relação a 2015 (quando foram emitidas 2,09 bilhões), o maior nível desde 2008. Os dados, divulgados na semana passada, constam do Sistema de Estimativa de Emissões (SEEG) do Observatório do Clima, uma coalizão de organizações da sociedade civil que discute as mudanças climáticas.

O aumento é o segundo consecutivo: em 2015 as emissões já haviam crescido 3,4% em relação às de 2014. Tamanha alta se deu em meio à crise econômica, quando esperava-se que houvesse queda. A elevação acumulada das emissões em 2015 e 2016 foi de 12,3%, contra uma queda acumulada de 7,4 pontos no PIB. “O Brasil é a única grande economia do mundo a aumentar a poluição sem gerar riqueza para sua sociedade”, avaliam os organizadores do SEEG.

A atividade agropecuária respondeu por 74% das emissões do País, sendo que o desmatamento provocado por esta atividade, sozinho, respondeu por 51% do total das emissões nacionais. A boa notícia veio do setor energético, que reduziu suas emissões em 7,3%.

Emissões per capita

De acordo com o SEEG, se fosse um país, o agronegócio brasileiro seria o oitavo maior poluidor do planeta, com emissões brutas de 1,6 bilhões de toneladas de CO2.

“Tragicamente, chegamos em 2017, novamente à espantosa cifra de 11 toneladas de CO2 equivalentes per capita, superior ao da quase totalidade dos países europeus, cuja grande maioria tem uma renda per capita entre 2 e 5 vezes a do Brasil”, observa Eduardo Viola, professor de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB).“A intensidade de carbono do PIB (dividido pelas emissões) está novamente em níveis aberrantes para um país de renda média alta como Brasil”, acrescenta o pesquisador.Da América Latina vem cerca de 10% das emissões globais de gases do efeito estufa, que contribuem para o aceleramento das mudanças climáticas. Os pesos-pesados da região, Brasil e México, ocupam, respectivamente, a sétima e nona posição no ranking mundial dos maiores emissores de carbono, com mais da metade do total de poluentes emitidos.

Em novembro, líderes de todo o mundo se reunirão em Bonn, na Alemanha, para a realização da COP-23 (Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas). Na ocasião, espera-se um balanço do que tem sido feito por governos, empresas e sociedade civil no sentido de reduzir as emissões de gases de efeito estufa, de modo que a temperatura média do planeta não ultrapasse 1,5ºC nas próximas décadas, nível considerado seguro pelos cientistas.