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Carolina Cerqueira
Publicado em 17 de janeiro de 2021 às 21:56
- Atualizado há 2 anos
Neste domingo, na primeira etapa da verdadeira maratona que é o Enem, os participantes tiveram que responder 45 questões de Ciências Humanas, 45 questões de Linguagens e a confecção da Redação. Além da tensão de realizar uma prova que pode significar a porta de entrada para o ensino superior, este ano os candidatos tiveram que se preocupar também em seguir os protocolos para evitar o contágio pelo novo coronavírus. >
De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), foram 5.523.029 candidatos inscritos para a prova impressa. Desses, 2.680.697 compareceram, o que representa 51,5% de ausentes. O número é recorde na história do exame. Em 2019, foram 23,06% de ausência e, em 2018, 24,76%. Foto: Tiago Caldas/CORREIO Para o professor e diretor de Ensino e Inovações Educacionais do grupo SAS, Ademar Celedônio, a prova seguiu um certo padrão, mas teve alguns aspectos inovadores e que valem o destaque. Confira a análise:>
Linguagens>
Tecnologia da informação foi um tema recorrente da prova, mais uma vez, com questões relacionadas ao uso de aplicativo e manipulação de dados. Segundo Celedônio, a prova foi bem objetiva e um pouco mais fácil do que nos anos anteriores. “A literatura foi focada no pré-modernismo, seguindo a tendência prevista, e com valorização de autores contemporâneos”.>
Ele destaca ainda um assunto paralelo que esteve presente em três questões e chamou atenção: a figura da mulher na sociedade. “Uma questão foi sobre o assédio, um tema atual e que cada vez mais aparece na imprensa. Outra questão comparou a Marta e o Neymar, falando sobre equidade salarial, porque ele tem bem menos gols e ganha muito mais do que ela. E a terceira está na prova de inglês, com uma imagem que discute a relação entre os estereótipos e os algoritmos em relação à mulher”, analisa o professor.>
Ciências Humanas>
Para Ademar Celedônio, a prova de Geografia seguiu uma tendência histórica e os assuntos mais recorrentes foram: geografia agrária, seguida de meio ambiente e de geografia física. “O destaque vai para a questão sobre Mariana que, além de falar do acidente, fala das consequências geradas, como as doenças”, comenta. >
Na prova de História, uma inversão. “A gente teve pela segunda vez mais questões de História Geral do que questões de História do Brasil. Antes era o contrário”, diz. O professor e diretor afirma ainda que, pelo segundo ano consecutivo, a prova não teve questões sobre a ditadura no Brasil e, além disso, teve quatro questões de História Antiga, algo que não era comum. >
Já para as questões de Filosofia e Sociologia, a análise é do professor Vinícius Figueiredo Costa, do grupo Bernoulli. Ele diz que o número de questões específicas dessas duas disciplinas voltaram à normalidade nesta edição, totalizando 15. No ano anterior, foram 20 questões, fugindo do padrão da prova. Outro ponto para se destacar é a ausência do assunto filosofia medieval, temática bastante cobrada nos dois últimos anos. “Além disso, a diferença mais marcante da prova deste ano foi a presença de autores que não são os autores clássicos e centrais dos estudos filosóficos, exigindo do aluno uma certa habilidade de leitura e comparação dos textos da provas com os conhecimentos que o candidato já tinha”, explica. >
Redação>
Nesta edição, o tema da redação é “O estigma associado às doenças mentais na sociedade brasileira”. O assunto faz par perfeito com o momento atual, já que uma das expressões que mais se ouve por aí é ‘saúde mental’ e o chamado “Janeiro Branco” é o mês de conscientização em prol dela. >
Segundo a psicóloga Priscila Pardo, o tema gera uma discussão excelente e extremamente necessária. Ela diz que a pandemia vem causando impactos psicológicos e fomentando comentários sobre a importância da saúde mental. “A preocupação de todos os profissionais da área de saúde mental quando a pandemia chegou foi justamente como isso impactaria no comportamento das pessoas principalmente aqui no Brasil, que temos a característica de sermos mais sociáveis”. >
A psicóloga comemora o avanço que a sociedade apresenta em relação a entender a importância de cuidar do psicológico, principalmente por conta dos jovens, e quebrar o tabu que o tema carrega. “A procura por atendimento aumentou muito. Costuma ser um atendimento que a pessoa só busca quando não está mais aguentando, mas hoje vemos muitos pacientes aderindo ao acompanhamento preventivo, digamos assim”, analisa.>
A profissional ressalta que o preconceito ainda existe, mas é bem menor do que o que se observava há alguns anos, devido, principalmente, à disseminação e acesso à informação. “Estamos todos sujeitos a comprometimentos psicológicos. A saúde mental, assim como qualquer outra área de saúde, é fundamental para o equilíbrio do corpo humano. Às vezes vamos ao médico para tratar dores de origem emocional, então na verdade o tratamento precisa ser outro”, conclui. >
Mas o professor de Linguagens e integrador pedagógico da plataforma de educação SAS, Vinicius Beltrão, alerta que o tema não se resume somente à questão da pandemia. “As pessoas estão buscando tratamento e terapia agora porque as relações humanas se modificaram muito, mas o tema é muito mais profundo do que isso e, quando traz a palavra ‘estigma’, está falando sobre toda e qualquer pessoa na sociedade brasileira que possui algum distúrbio mental”, analisa o professor.>
Ele diz que o tema não era esperado, mas está dentro das expectativas de professores e estudantes porque dialoga com o contexto de pandemia. Beltrão destaca que é preciso ter cuidado com o tema. “O perigo é fazer uma redação rasa, fazendo o recorte somente do momento de pandemia. Isso seria tangenciar o tema. É preciso se aprofundar e abordar outros aspectos”, reforça. >
Uma boa redação, na visão do professor de linguagens, é aquela que vai focar na palavra ‘estigma’. “A ideia de estigma é de pessoa marcada. A sociedade vê essas pessoas de uma forma diferente e isso engloba a questão do preconceito, de não entender que as pessoas precisam sim de tratamento, que não é algo banal”. Seguindo esse caminho, há alguns aspectos que o candidato poderia abordar. “O estudante pode abordar que há alguns anos viemos discutindo o tratamento de doenças mentais pelo SUS. Há um movimento para revogar isso, para que não tenham mais especialistas nesta área na rede pública”; “Tem também o eixo dos profissionais com distúrbios que têm dificuldade de se inserir no mercado de trabalho”; “Quando vamos para o âmbito acadêmico, tem a discussão de que as escolas têm que receber essas pessoas. Aí tem o convívio social, as escolas regulares e as especiais e a falta, às vezes, de estrutura e profissionais especializados”. Por fim, Beltrão afirma que o candidato precisa reforçar que o problema está enraizado na sociedade brasileira, mencionar como a pandemia se encaixou nessa questão e propor soluções. Trazendo para a contemporaneidade, a redação poderia abordar que a pandemia trouxe à tona a discussão do tema, disseminando informações sobre saúde mental e fomentando uma onda coletiva de conscientização. >
Como proposta de solução, o professor diz que é preciso ser coerente com o que foi colocado como argumento ao longo do texto. “Quando à questão política, o candidato pode propor o incentivo por parte do governo, por meio de verbas, para a área da saúde mental, proporcionando uma maior atenção do SUS para essas pessoas com distúrbios. Outro eixo é o social, a inserção dessas pessoas na sociedade. Aí tem o ponto das escolas, das universidades e das empresas. É preciso que haja oportunidades de ensino de qualidade, de trabalho e também garantia de tratamento e acompanhamento”, completa o professor. >
Gabarito extraoficial>
O Inep divulgará o gabarito oficial completo até o dia 27 de janeiro de 2021, três dias úteis após a segunda prova, como explica o edital. Os professores do Grupo SAS resolveram a prova e elaboraram um gabarito extraoficial. O candidato pode conferir a resposta das questões no Portal SAS, através do link (https://enem.saseducacao.com.br/#!)>
Segundo dia>
O segundo dia de prova impressa será no próximo domingo, 24 de janeiro. Na segunda etapa, os candidatos deverão responder 45 questões de Matemática e outras 45 de Ciências da Natureza. Para quem vai fazer a versão digital, os dias de aplicação são 31 de janeiro e 7 de fevereiro. >
Lembrando que, para o Enem deste ano, o horário de abertura dos portões foi antecipado para evitar aglomerações. A entrada dos estudantes fica permitida a partir das 11h30. Depois de 13h, nenhum candidato poderá entrar no local de prova. Exatamente 13h30 o exame começa a ser aplicado. >
Para a versão digital, os dias são diferentes, mas os horários são os mesmos. O primeiro dia de prova tem duração de 5h30, mas, o segundo, de 5h. Não esqueça a caneta esferográfica de tinta preta, documento de identificação com foto, cartão de inscrição e, claro, a novidade para esta edição: a máscara de proteção facial obrigatória. >
Participantes que tiveram sintomas ou diagnóstico de covid-19 na véspera ou no primeiro dia de provas do Enem 2020, realizado neste domingo, 17 de janeiro, poderão apresentar exames e laudos médicos que comprovem a condição. >
A Página do Participante receberá os pedidos de reaplicação entre 25 e 29 de janeiro. Os inscritos que tiverem a solicitação aprovada farão as provas nos dias 23 e 24 de fevereiro. O mesmo vale para outras doenças infectocontagiosas previstas no edital do Enem. >
*Com orientação do chefe de reportagem Jorge Gauthier>