Entrada de Moro engarrafa ainda mais terceira via para 2022

Com 10 presidenciáveis no páreo, ala tem futuro ligado à posição de Bolsonaro na corrida

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  • Jairo Costa Jr.

Publicado em 13 de novembro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom

Com a imagem arranhada por sucessivos revezes da Lava Jato, criticado pelas controvérsias em torno de sua atuação no caso e tratado como traidor entre apoiadores leais do governo que ajudou a eleger, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro estava longe dos holofotes. Tido antes como peça de valor no jogo político, Moro entrou em processo de submersão. No espaço de duas semanas, contudo, ressurgiu em galope acelerado, que culminou com a filiação ao Podemos na última quarta-feira. Com isso, engarrafou ainda mais a já congestionada terceira via da sucessão.

Embora não tenha colocado oficialmente o nome no páreo para 2022, Moro se soma a uma lista que conta agora com dez virtuais candidatos à Presidência da República. Quatro deles trabalham intensamente para se consolidar como alternativa ao presidente Jair Bolsonaro, prestes a entrar no PL, e ao ex-presidente Lula (PT): o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o cientista político Luiz Felipe D'Ávila (Novo) e os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, envolvidos em uma disputa fratricida para representar o PSDB nas urnas.

A lista da terceira via inclui também o deputado federal Luiz Henrique Mandetta (DEM), ex-ministro da Saúde de Bolsonaro; o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), e outros dois senadores - Alessandro Vieira (Cidadania) e Simone Tebet (MDB). Por fim, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio também concorre contra Doria e Leite nas prévias do PSDB, apesar de considerado azarão na guerra dentro do ninho tucano. Moro desponta como o décimo presidenciável, mas foi alçado de imediato à turma dos postulantes com maior probabilidade de virar candidato na corrente anti-Lula e anti-Bolsonaro, jocosamente apelidado de “nem-nem”.

O poder de Moro para acirrar o congestionamento na fila se deve à densidade eleitoral detectada em pesquisas realizadas desde que ele anunciou o ingresso no Podemos. Em todas elas, o ex-juiz aparece ligeiramente à frente de Ciro, até então com posição firmada no terceiro lugar, ou colado ao pedetista. No levantamento Genial/Quaest, realizado entre os último de 3 a 6 de novembro e divulgado pela imprensa no último dia 10, o ex-juiz desponta com 8%, contra 6% de Ciro. Ambos muito abaixo de Lula e Bolsonaro, respectivamente, líder e vice-líder, mas bem acima dos demais nomes da terceira via.

A sondagem Exame/Ideia, publicada pelo site da revista econômica na sexta-feira, mostra a mesma tendência, sendo que Ciro obteve a preferência de 7% dos 1.200 entrevistados entre terça e quinta, ante 5% de Moro. De acordo com a pesquisa, os dois surgem como alternativas mais viáveis da relação de presidenciáveis com musculatura para romper a polarização Lula-Bolsonaro. Embora sejam superados pelo petista nas simulações de segundo turno, o ex-juiz está tecnicamente empatado com o atual presidente, por sua vez, superado pelo pedetista. 

Em contrapartida, junto com Doria, Moro e Ciro concentram os mais altos índices de rejeição entre os nomes da terceira via, segundo o levantamento Exame/Ideia. Os dois primeiros são recusados por 19% dos eleitores ouvidos, dois pontos percentuais à frente do presidenciável do PDT. O restante oscila entre 11% e 4%. Entretanto, estão longe de superar a impopularidade de Bolsonaro (44%) e Lula (37%), ainda que esses percentuais não signifiquem pista livre para quebrar a polarização.

Fora Moro, Ciro, Mandetta e o tucano vencedor das prévias, seja Doria ou Leite, Alessandro Vieira e Luiz Felipe D'Ávila estão decididos a concorrer. Tanto o senador do Cidadania, que se tornou uma das grandes surpresas de 2018 ao derrotar grupos tradicionais do poder em Sergipe,  quanto o candidato do Novo apostam no voto de opinião, aglutinado em torno da onda de renovação política surgida há cerca de meia década. Os demais não demonstram claramente intenção de se aventurar na corrida presidencial e talvez entraram no páreo preliminar para fortalecer o passe em negociações na chapa nacional ou nos estados.

Margem ampla

O engarrafamento tem como principal combustível a fatia substancial de eleitores refratários aos dois grupos que concentram o duelo pelo poder no Brasil. Nas sondagens realizadas nos últimos três meses, o percentual de brasileiros interessados em uma outra opção oscila na casa dos 30%, em pesquisas estimuladas. Já nas espontâneas, quando não são apresentados nomes, os que não citaram Lula e nem Bolsonaro ultrapassam a casa dos 40% - o que mostra ampla margem para viabilizar um candidato alternativo a menos de um ano das eleições.

O considerável percentual de eleitores “nem-nem” seria suficiente para levar um candidato da terceira via ao segundo turno da sucessão. Por outro lado, analistas políticos são praticamente unânimes ao avaliar a incapacidade dos atuais concorrentes em transformar o que é tendência em votos.  Somados, os nomes que integram o bloco ainda não conseguem ultrapassar os 20% nas novas pesquisas sobre a batalha pela Presidência da República e, de forma isolada, nenhum deles demonstrou fôlego para subir a ladeira em curto prazo.

As análises feitas com base no retrato do momento, porém, não descartam a possibilidade real de alteração no cenário. Em especial, pelo histórico de reviravoltas na política brasileira desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Basta lembrar que, a rigor, Bolsonaro é um tipo de terceira via bem sucedida. Antes da sucessão de 2018, PT e PSDB polarizavam o poder. Esse duelo se repetiu em 1994, 1998, 2002, 2006, 2010 e 2014, sempre com tucanos e petistas dominado o centro do confronto eleitoral.

Ao longo das últimas cinco disputas presidenciais, concorrentes que se posicionavam como alternativa aos dois polos tentaram quebrar o ciclo. Em 2002, o ex-governador do Rio Anthony Garotinho e Ciro Gomes receberam, juntos, cerca de 25 milhões de votos, mas não passaram ao segundo turno. Quatro anos depois, o posto foi ocupado pela então senadora alagoana  Heloísa Helena (Psol), sucedida pela ex-ministra Marina Silva (PV), que em 2010 teve mais de 19 milhões de votos.

Na sequência, Marina, já na Rede, encabeçou a terceira via, após a trágica morte do ex-governador pernambucano Eduardo Campos (PSB), que estava em curva ascendente até ser vitimado por um acidente aéreo durante a campanha. Agora, a incógnita é quem sairá do engarrafamento com condições de chegar bem ao fim da estrada.

Posição de Bolsonaro é peça chave para ala alternativa

Duas tendências vão definir o futuro da terceira via para a corrida presidencial. Com o eleitorado de Lula cada vez mais consolidado e pouco sensível a mudanças de rumo significativas, a posição de Bolsonaro antes do período eleitoral terá peso decisivo na corrente empenhada em dinamitar a polaridade nacional.

Caso o derretimento na popularidade do presidente se mantenha, como indicam todos os levantamentos mais atuais, é bastante provável que a pulverização da ala alternativa seja revertida. Nesse cenário, o desafio do bloco será aglutinar a maior parte das forças em torno do candidato com maior chance de ocupar o lugar de Bolsonaro no eventual confronto com Lula.

De acordo com a imensa maioria das análises sobre as eleições, a redução de candidaturas é a única possibilidade de ter um nome com musculatura para substituir Bolsonaro na disputa pelo segundo turno. O cálculo é baseado no eleitorado do presidente, totalmente movido pelo temor de vitória de Lula.

Com Bolsonaro fragilizado pela perda de votos que só optaram por ele para impedir a permanência do PT em 2018 e diante do favoritismo de Lula na briga direta,  a tropa fiel tende a atirar o presidente na bacia das almas ainda no primeiro turno para apostar em um nome capaz de derrotar aquele que considera o inimigo número um. 

Nessa perspectiva, a questão é saber quem terá capacidade de agregar o eleitorado antipetista, incluindo aqueles que acenam com a possibilidade de votar em Lula por forte rejeição a Bolsonaro. Com tal quadro, Sergio Moro é visto como carta de peso na mesa, justamente por simbolizar uma das bandeiras da tropa bolsonarista em 2018 - a cruzada contra a corrupção. 

Em contrapartida, Moro desperta ódio no mundo político por causa da Lava Jato. O que fortalece a posição de Ciro Gomes e demais nomes da terceira via. Caso Bolsonaro recupere a popularidade, é bem provável que a pulverização seja maior, e as chances de romper a polarização, menor.

Tucanos travam duelo fratricida por candidatura

A busca pela vaga de candidato a presidente pelo PSDB ganhou ares de guerra entre os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Às vésperas das prévias no partido, marcadas para o próximo dia 21, Doria e Leite  brigam por cada voto de delegados do partido nos estados - basicamente, deputados, prefeitos e dirigentes da sigla.

Até o momento, ninguém arrisca um prognóstico sobre a disputa. Ambos têm trunfos, fraquezas, controle sobre máquinas públicas fortes e maioria em diretórios estratégicos. O que torna inviável arriscar um palpite sobre o resultado final. Ainda mais pelo clima de racha no PSDB, com acusações de fraude, traições, ataques de lado a lado e pressões das mais variadas formas.

Em avaliações de líderes tucanos, os votos de São Paulo, estado governado por Doria, são considerados decisivos. No tucanato paulista, o governador desperta paixões e ódios em igual medida. Desse saldo, pode sair o vencedor.