Eram os deuses astronautas e super-heróis?

Dirigido pela premiada Chloé Zaho, Eternos mescla mitologia, história e fantasia num filme diferentão mas que é apenas regular

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  • Doris Miranda

Publicado em 4 de novembro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Antes de mais nada, é importante que se diga: Eternos, o 26º filme da Marvel, não é a bomba que a crítica americana, reunida pelo site Rotten Tomatoes, está afirmando. Mas, isso não significa que o trabalho da diretora Chloé Zaho é o que se esperava. O longa, dirigido pela vencedora do Oscar com o maravilhoso Nomadland, é apenas regular. Talvez, seja o resultado mais humano do MCU, ao explorar relacionamentos em suas diversas naturezas e o quanto eles nos afetam com o passar do tempo. 

Com certeza, é o filme que melhor explora a fotografia natural, com cenas em locações belíssimas e interação tão real quanto possível entre os atores. Inaugurando a quarta fase da saga de heróis da Marvel, Eternos inova também ao apresentar a primeira cena de sexo entre heróis e um beijo entre dois homens neste universo. Demorou tanto por que, se nos quadrinhos a realidade já é outra há anos? Seja como for, um golaço nestes tempos em que um simples beijo entre o filho do Superman e seu namorado choca mais do que os 608 mil mortos de covid no Brasil.  Eternos inaugura a quarta fase de heróis dos filmes da Marvel (divulgação) Mas, Eternos, comprido demais até para um filme de origem, provoca uma certa agonia ao apresentar de uma vez só dez heróis com uma trajetória que só na Terra passa dos sete mil anos e se confunde com a mitologia de diversas culturas. Chega a ser curioso a forma como são 'biografados', como se fossem os próprios deuses astronautas que estabeleceram questões basilares para a evolução espiritual e tecnológica da humanidade. Por isso, os fãs do MCU vão encontrar citações muito mais amplas do que as autorreferências costumeiras. Mais claras, talvez, para quem está acostumado com as teorias do programa Alienígenas do Passado, do canal History. 

A trama gira em torno de um time de dez alienígenas poderosíssimos enviados à Terra por um ser onipresente e onisciente para 'ajudar' na evolução do planeta, sem o direito de interferir nas pequenezas dos homens. O  dever dos Eternos é proteger a humanidade dos Deviantes, também frutos da criação do Celestial, mas com instinto e aparência bestiais. Foi por conta da obrigação de não interferir que os semideuses testemunharam duas grandes guerras serem declaradas, a bomba atômica ser criada e Thanos exterminar a metade do universo sem mover uma palha. Premiada com o Oscar por Frida, Salma Hayek é a matriarca Ajak (divulgação) Não que todos achassem isso normal. Vistos como seres acostumados a travar batalhas épicas, alguns gostariam de ter tomado partido ou proposto uma evolução mais pacífica da consciência humana. Daí, tantos flash-backs: para que possamos entender melhor os vínculos que ligam Ikaris (Richard Madden), Thena (Angelina Jolie), Sersi (Gemma Chan), Ajak (Salma Hayek), Sprite (Lia McHugh), Kingo (Kumail Nanjiani), Gilgamesh (Don Lee), Druig (Barry Keoghan), Makkari (Lauren Ridloff) e Phastos (Brian Tyree Henry). O elenco tem ainda Kit Harington, como Dane Whitman, que deve ter aparição mais consistente para frente. Astro de Game of Thrones, Kit Harington vive um mortal que se envolve com a heroina de Gemma Chan (divulgação) O elenco multicultural impressiona. Porém, quem enche os olhos mesmo é Angelina Jolie, tão acostumada com filmes de ação, fazendo seu primeiro filme de herói. A atriz interpreta a vigorosa Thena, guerreira com sincretismo na divindade grega Athena. Thena é considerada pelos colegas perigosa demais para viver entre os humanos atuais. Pela primeira vez em filme de herói, Angelina Jolie vive a poderosa guerreira Thena (divulgação) Na verdade, no desenrolar da história, percebe-se que ela está deixando aflorar traumas muito antigos e dolorosos. "Um dos motivos por que eu amo Thena é o fato de ela ser ao mesmo tempo muito forte e extremamente vulnerável. Eu acho que muitas mulheres se sentem assim algumas vezes", disse Jolie, numa das premières que vem frequentando com cinco dos seus filhos. 

A diretora Chloé Zhao esteve atenta o tempo todo a essas dualidades da natureza humana, soobretudo a das mulheres. “Todos temos o yin e o yang em nós. Às vezes, é difícil acessarmos a água, porque precisamos do fogo para nos proteger. Mas meus filmes tentam trazer mais água, ou seja, mais natureza, vulnerabilidade, amor”, reflete. Premiada por Nomadland, a diretora Chloé Zaho dirige Richard Madden em Eternos (divulgação) Tanto assim, as líderes dos Eternos são mulheres e Zhao sentiu-se muito próxima a elas: “Ajak precisa tomar decisões difíceis e tem força para isso. Sersi tem de acreditar que pode liderar. Acho que, sendo homem ou mulher, é preciso ter os dois para não perder a humildade. Como líder, você sempre deveria questionar se tem capacidade de liderar.”