Erudita, pop e popular, Orkestra Rumpilezz completa 15 anos

Comemoração da big band baiana será com documentário, lives-concertos e lançamento do terceiro álbum

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 20 de março de 2021 às 08:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: divulgação

Dois álbuns gravados, turnês internacionais pela Europa e Estados Unidos, apresentações em importantes palcos do mundo, gravações com grandes nomes da música brasileira e estrangeira, inspiração de teses acadêmicas e de documentários, prêmios importantes e, o melhor: um absoluto respeito do público e de músicos do mais alto quilate, aqui e lá fora.  

Este é um resumo sucinto da bem sucedida trajetória da Orkestra Rumpilezz, big band criada pelo maestro e arranjador baiano Letieres Leite, que está completando 15 anos. Um feito, em se tratando de música instrumental brasileira,  que intriga até o mesmo o criador do grupo.  

“Até hoje me pergunto como aconteceu isso, é uma incógnita. Porque quando criamos a orquestra o nosso ambiente, que sempre foi o instrumental, foi trazer as informações rítmicas da Bahia dentro de um conceito de música instrumental, baseado no frevo, baião, que sempre foi um sonho meu desde que fui estudante de música na Europa. Nunca pensei que entraríamos nesse universo pop”, diz o maestro, citando os últimos trabalhos realizados com a cantora Iza, e com outros artistas da cena pop como Russo Passapusso, do BaianaSystem, por exemplo.    Caetano Veloso  se apresentou com o grupo na inauguração do  Hotel Fasano, em 2018 (Foto de Almiro Lopes/ Arquivo Correio ) Celebração

Fato é que a versatilidade rítmica da Rumpilezz vem permitindo essa caminhada por diferentes linguagens musicais, do popular ao erudito, do pop à música eletrônica, como nas grandes parcerias feitas com DJs. Talvez seja este o segredo do sucesso da banda, que certamente precisa mesmo ser comemorado.  

E será. A programação para celebrar a data está pronta e inclui diversas ações como o documentário Rum Rumpi E Lé – As Travessias de Letieres Leite, um longa-metragem dirigido pela cineasta Letícia Simões e produzido pela Janela do Mundo, que começa a ser rodado na primeira semana de abril; além de um festival musical com as participações de artistas como Larissa Luz e Baco Exu do Blues. 

No contexto da pandemia, boa parte dos projetos previstos para este ano - incluindo um concerto-instalação com as participações de músicos estrangeiros como a flautista e maestrina Nicole Mitchell, e a poeta e multiinstrumentista Moor Mother, ambas americanas - serão realizados de forma virtual em maio.  

No cronograma das comemorações tem ainda lives- concertos, realizações de curtas-metragens e uma série de outras ações com a Rumpilezzinho - projeto de arte e educação nascido da Rumpilezz que contempla jovens da periferia de Salvador - dentre outras ações. 

Letieres Leite com o rapper Baco Exu do Blues no Festival da Primavera/2019 (Foto de Tiago Caldas/ Arquivo Correio) Mas o mais esperado pelo público que acompanha a Rumpilezz é o lançamento do seu terceiro álbum, Coisas, na qual o grupo interpreta o repertório do primeiro disco do compositor Moacir Santos, lançado nos anos 1960. O disco, gravado num estúdio em Petrópolis (RJ), em 2019, está em fase de mixagem e será lançado, inicialmente, apenas em vinil, no Brasil e no exterior. 

De acordo com Letieres, a ideia é também lançá-lo nos canais de streaming. “Este álbum foi todo gravado em equipamento analógico e já era pra ter sido lançado, mas a pandemia atrasou o processo de finalização”, explica. 

Conexões 

Com formação diferenciada, o grupo reúne 14 músicos de sopro (5 saxes, 4 trompetes, 4 trombones e 1 tuba) e 5 percussionistas. Está ancorada num cuidadoso trabalho de pesquisa que funde ritmos afro-brasileiros com o jazz, além de manter uma conexão com o sagrado através da devoção dos seus integrantes às religiões de matriz africana.  

“A  Orkestra Rumpilezz é uma das concentrações mais intensas da inspiração artística baiana, é uma original e afiada big band erguida sobre atabaques polirrítmicos da tradição religiosa africana. Rum, rumpi e lé são os três tambores rituais do culto dos orixás e os dois zês vêm do jazz”, declarou Caetano Veloso em uma rede social, em 2019, às vésperas de dividir o palco, mais uma vez, com a Orkestra.  

O compositor baiano, por sinal, foi um dos primeiros artistas brasileiros a reconhecer  a genialidade do maestro Letieres e sua banda. A ponto de dividir o palco com a orquestra algumas vezes, e ainda indicá-lo à sua exigente irmã, Maria Bethânia, que o convidou para assinar os arranjos e reger sua banda nas gravações de seu último álbum, Claros Breus, ainda inédito, inspirado no show homônimo que teve a regência do maestro da Rumpilezz. 

“Letieres Leite é um maestro singular, de enorme talento e compreensão da nossa música. Revolucionário na sua criação, sábio em compreender e acatar os quereres de artistas que escolhem sua regência. Criador, inovador, seguro, decidido, não abre mão do novo em sua música. Brilhante! Grande Professor! Bravo!”, reverencia a cantora santoamarense.  

Ao longo de 15 anos de existência, o maestro que através da Rumpilezz já visitou a obra de grandes compositores brasileiros como Dorival Caymmi, Gilberto Gil, Lenine e Caetano Veloso, dentre outros, diz que são muitos os momentos que marcaram a trajetória do grupo.  

“As turnês europeia (2020) e americana (2015), onde nos apresentamos em palcos importantes como o Lincoln Center de Nova York, são lembranças marcantes, bem como os Prêmios da Música Brasileira que ganhamos, fora os momentos de encontros como os que tivemos com Lenine, com Gil e, por último, com Maria Bethânia”, conta Letieres. 

Segundo ele, não dá pra não destacar a turnê nacional de 2012 que passou por várias cidades do Brasil interpretando o repertório de Caymmi, com shows apresentados com os requintes de grande produção. “Viajamos com uma grande produção, com mais de uma tonelada de equipamentos, projeções, cenários, figurinos, uma realização importante feita em parceria com a produtora Janela do Mundo”, lembra o maestro.  

Com apenas dois álbuns gravados  - Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz- 2009 e A Saga da Travessia – 2016, além de álbuns de diversos artistas do Brasil e do mundo, a Orkestra Rumpilezz tem muito o que comemorar o sucesso e a consolidação de sua marca no cenário musical mundial.

15 Anos de Música 

2009 -Lançamento do álbum Letieres Leite & Orkestra Rumpilezz 

2012 Turnê Brasil – Belo Horizonte, Florianópolis, São Paulo, Porto Alegre, Curitiba, Recife e Brasília 

2015 - Turnê Estados Unidos - Nova York, San Francisco, Philadelphia, Santa Cruz, San Jose e Hollywood  2016 - Lançamento do álbum A Saga da Travessia   2017 - Três prêmios da Música Brasileira (melhor álbum instrumental (A Saga da Travessia), melhor grupo instrumental e melhor arranjador) 

2020 - Turnê Europa -  Paris (França), Porto (Portugal) e Berna (Suiça) 

2021 -  Prêmio Bibi Ferreira (melhor arranjo de musicais pelo musical Elza)