Espadeiros e polícia entram em confronto em Senhor do Bonfim

Guerra de espadas é proibida pelo Ministério Público

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  • Da Redação

Publicado em 25 de junho de 2018 às 13:23

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução/TV São Francisco

Tradição junina em várias cidades do Nordeste brasileiro, a guerra de espadas gerou confusão entre a Polícia Militar e espadeiros na cidade de Senhor do Bonfim, na região Centro-Norte do estado, a 375 quilômetros de Salvador. O Ministério Público Estadual (MP-BA) recomendou a proibição da guerra de espadas, mas houve descumprimentro da medida o que gerou confronto com os espadeiros na noite de sábado (23).

O conflito aconteceu na Rua Costa Pinto - ponto da cidade mais tradicional da soltura de espadas há mais de 70 anos. Antes da confusão, os policiais tentaram impedir que as espadas fossem acendidas na fogueira.

O Corpo de Bombeiros esteve no local para apagar a fogueira que era usada para acender as espadas, mas foi impedido pelos espadeiros, que gritavam 'polícia é para ladrão, para espadeiro não'. Pouco tempo depois, o grupo, formado por 10 a 15 pessoas, começou a lançar as espadas.

Os policiais militares usaram spray de pimenta e balas de borracha para tentar dispersar a população, mas não conseguiram. Um homem chegou a passar mal na confusão. Os policiais deixaram o local e a guerra de espada continuou.

A Polícia Militar informou que policiais tiveram ferimentos leves por conta das espadas, mas não informou a quantidade. O serviço social do Hospital Regional de Senhor do Bonfim comunicou que na noite de sábado ao menos 12 pessoas deram entrada com queimaduras leves na unidade - mas não soube informar se tem relação com o confronto.

Segundo a polícia, a situação só foi controlada após o Corpo de Bombeiros chegar ao local e apagar as fogueiras na Rua Costa Pinto, conhecida pelo apelido de “espadódromo”. Além de Senhor do Bonfim, há proibição para uso de espadas também para as cidades de Cruz das Almas, Campo Formoso, Santo Estevão e Castro Alves.

A proibição é feita com base no Decreto Federal 3.665/2000, que versa sobre o Regulamento para a Fiscalização de Produtos Controlados, como é o caso da pólvora, produto base para fabricação de explosivos. Pelo decreto, só pode estar em posse de pólvora e fabricar explosivos com esse produto quem tiver autorização do Exército.

"Por volta das 19h algumas patrulhas foram colocadas próximo ao local onde estava a reunião dos espadeiros, porém espadas foram lançadas contra os policiais que tiveram ferimentos leves. Para impedir as agressões, a PM revidou com o uso de agentes químicos e elastômero. O Corpo de Bombeiros foi acionado para apagar a fogueira que os espadeiros utilizavam para acender os artefatos juninos, e assim que a situação foi controlada, as guarnições deixaram o local", afirmou a PM, em nota, nesta segunda-feira (25).  A PM informou ainda que o policiamento em Senhor do Bonfim foi intensificado pelo 6º Batalhão de Polícia Militar, após recomendação do Ministério Público para inibir o uso de espadas na cidade. A operação teve o apoio da Companhia Independente de Policiamento Especializado (Cipe) Caatinga e da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT) Rondesp Norte.

"Ao chegar à Rua Costa Pinto, por volta das 16h de sábado (23), uma guarnição do 6º BPM percebeu que existia uma aglomeração de pessoas à espera do uso de espadas. A PM negociou com a liderança do grupo que concordou em não realizar os festejos com as espadas", disse a PM, em nota. Ninguém foi preso.

Apreensão de pólvora Durante o final de semana, mais de uma tonelada de pólvora foi apreendida pela polícia nas cidades de Cruz das Almas, Muritiba, Senhor do Bonfim e Bonfim de Feira pelo fato de as pessoas estarem fabricando explosivos de forma sem autorização. A pólvora estava já pronta para venda, em explosivos, ou pura, ainda na fase de fabrico.

A maior apreensão ocorreu nas cidades de Muritiba, onde 160 espadas e outros explosivos foram localizados nos povoados de Bonfim de Feira e São José do Itaporã, onde foi encontrada a maior parte do material – 152 espadas – dentro de uma casa abandonada. A apreensão ocorreu por parte da PM, após denúncia anônima.

Em Bonfim de Feira, foram apreendidas 62 espadas já prontas, 53 tubos, 8 kg de pólvora, pilão, uma faca, barbantes e bacias. No local, funcionava uma fábrica clandestina de espadas.

No total, oito pessoas foram presas. Elas vão responder por porte de artefato incendiário, com pena de três a seis anos e multa. Pelo fato de estarem em situação de fragrante, a fiança para saírem da cadeia é de 10 salários mínimos, mas a depender do caso pode ir até 200 salários mínimos.

O promotor público José Reis Neto disse que todas as pessoas presas são da cidade de Cruz das Almas, onde ele atua como titular no combate a venda clandestina de fogos de artifício.“É fundamental esclarecer que todas as espadas de fogo são fabricadas de maneira clandestina, sem observar nenhuma regra de segurança. Nada foi feito de concreto até o presente momento para produção de artefatos regularizados”, afirmou Neto.“A fiscalização existente decorre dos riscos envolvidos com a fabricação e queima do material”, explicou o promotor, que desde 2011 tem entrado com ações contra a guerra de espadas.

“Depois das proibições, só aqui em Cruz das Almas a quantidade de queimados, que em 2011 foi de 315, caiu para 72 ano passado”, disse o promotor, sem ainda ter um balanço da quantidade de feridos este ano.

“Mas o ano de 2018 já registra um jovem que perdeu um dos olhos ao ser atingido por uma espada. Isso numa cidade que sofre pela falta de recursos para oferecer saúde de qualidade a toda população”, frisou Neto.

Outro problema que o promotor aponta são os prejuízos materiais para quem vive em locais nos quais a prática é mais intensa, e onde as pessoas precisam gastar dinheiro para proteger as casas com telas e ficam impedidos de sair na rua.

“Se as pessoas de bem perceberem a gravidade do problema e trabalharem em prol da solução, teremos todos um São João mais alegre e seguro”, concluiu.